Os criadores participantes da Segunda Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro no Centro de Tecnologias para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Embrapa Cerrados (DF) conheceram os resultados finais da avaliação e foram premiados durante reunião técnica realizada na última sexta-feira (9). A prova zootécnica é realizada pela Embrapa Cerrados e pela Associação de Criadores do Zebu do Planalto (ACZP), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e teve como objetivo identificar as melhores vacas e novilhas das raças Gir Leiteiro e Sindi em condições de pastagem e de manejo típicas de fazendas do Bioma Cerrado.
A reunião técnica foi realizada no CTZL e contou com a presença do diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Soares; do chefe geral da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia; do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade, Sebastião Pedro; do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg; do secretário de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF, Argileu Martins; do presidente da Emater-DF, Roberto Carneiro; do superintendente técnico da ACZP, Marcelo de Toledo; e da superintendente da ABCZ, Mariana Alencar.
Cleber Soares salientou a importância de ações como a prova no CTZL e a necessidade de desafiar os rebanhos, especialmente o zebu leiteiro a pasto, que é a base de produção nos trópicos. “Temos uma oportunidade ímpar de alavancar a cadeia do leite no Brasil. Sabemos que o preço (do leite) é baixo, mas não dá para nos acomodarmos e muito menos não pensarmos no futuro. Até porque o único alimento que tem relação direta com a necessidade nutricional e com o ganho econômico é a proteína de origem animal, especialmente leite e carne. Quanto mais uma sociedade ou nação evolui, mais proteína de origem animal ela consome”, explicou.
Soares lembrou o tamanho da demanda global por proteína animal – de acordo com a estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até 2050 terão que ser produzidas mais 500 milhões de toneladas de proteína de origem animal. “Isso não ocorrerá se não houver aporte de tecnologia no campo, inovação e, sobretudo, a parceria da iniciativa privada, das instituições representativas dos produtores rurais e do próprio produtor rural em adotar tecnologia, inovar e produzir alimentos de melhor qualidade, fornecendo assim qualidade de vida para nossa sociedade e suprindo as deficiências inclusive alimentares”, afirmou.
O governador Rodrigo Rollemberg homenageou o produtor Paulo Horta, um dos participantes da prova, pela concepção do CTZL. “Eu era secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (do Ministério de Ciência e Tecnologia) e presidente do Fundo Setorial do Agronegócio quando ele trouxe a ideia de um centro de difusão de tecnologias e de uma genética zebuína leiteira adaptada para a região. E o Argileu (Martins) era nosso parceiro no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ele e o (Francisco) Hercílio (Matos, atual subsecretário de Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF) acabaram tocando isso, que se transformou em realidade. Estou muito feliz de estar aqui. Sabemos do potencial imenso (do CTZL) de promover o melhoramento genético dos nossos rebanhos, sobretudo da região. Parabéns a todos os envolvidos nesse trabalho”, declarou.
Argileu Martins também lembrou o momento da criação do CTZL, em 2007, e destacou a importância da cadeia produtiva do leite no País. “47% do leite produzido no Brasil está em propriedades que produzem até 100 litros/dia. Para que haja mais renda na propriedade, ela precisa de muita genética e incentivo. E vemos hoje que um investimento como esse (CTZL) está de fato dando certo. Cumprimento a Embrapa e aos produtores que acreditaram. Nossa produção de 35 bilhões de litros de leite/ano acontece graças a esse conjunto e o resultado desta prova só reforça a convicção de que temos que investir muito na cadeia produtiva do leite, que viabiliza mais de 1,1 milhões de propriedades no Brasil. É a maior e principal cadeia produtiva do País”, afirmou.
O presidente da Emater-DF parabenizou o CTZL pela iniciativa de selecionar animais Gir Leiteiro e Sindi. “Sabemos da importância do CTZL para o nosso setor produtivo leiteiro. Agradecemos à parceria de sempre coma Emater-DF”, disse Roberto Carneiro.
No momento, esta é a única avaliação da produção de leite a pasto de zebuínos leiteiros em andamento no País, segundo Marcelo de Toledo. “Estamos trabalhando para mensurar o potencial dessas raças zebuínas (Gir Leiteiro e Sindi) em produção e de forma sustentável, no campo. A parceria da ACZP com a Embrapa está sendo muito interessante e tenho certeza de que vamos ganhar muito com ela. Estamos tentando trazer a raça Guzerá e cruzamentos de raças zebuínas para as próximas provas”, projetou.
Mariana Alencar destacou a forma de execução da prova, realizada nas condições reais dos produtores. “Sabemos que a cadeia do leite passa por problemas de preço e de valorização, o que tem causado desânimo aos produtores. Porém, o investimento em genética, em ter um zebu leiteiro melhorador, é muito importante. Estamos também verificando potenciais do uso do zebu leiteiro em produtos com valor agregado, com a produção de queijos, de leite não alergênico. Temos trabalhado para aliar as duas coisas e tudo depende da base que está sendo feita aqui”, comentou.
Resultados
Os pesquisadores Carlos Frederico Martins e Isabel Ferreira e o analista Álvaro Neto apresentaram os procedimentos adotados na prova e os resultados finais. A avaliação contou com 30 animais de 13 diferentes criatórios, além da própria Embrapa Cerrados/CTZL, sendo seis vacas em segunda lactação e 13 novilhas da raça Gir Leiteiro e 11 novilhas da raça Sindi. Os animais foram avaliados durante 305 dias de lactação, sendo mantidos sob pastejo rotacionado em área de 13 hectares com pastagem de Brachiaria brizantha BRS Piatã, cultivar da Embrapa recomendada para o Cerrado. Além disso, receberam suplemento de ração no período de seca conforme a produção de leite individual, como ocorre nas propriedades rurais da região.
Martins destacou as premissas da prova zootécnica do CTZL: seleção genética confiável por meio de lactações completas (no mínimo cinco meses de mensuração); sendo o Brasil um país tropical, o pasto é a base alimentar para a produção sustentável; produção de leite seguro e saudável, sem o uso de medicamentos e hormônios; e a integração de tecnologias da Embrapa, como o uso de forrageira desenvolvida pela Empresa, do sistema de Integração Lavoura-Pecuária e das recomendações de boas práticas de ordenha, sanitárias e de manejo animal.
Álvaro Neto detalhou as práticas de manejo dos animais adotadas durante a prova, como o manejo alimentar. “Procuramos garantir que os animais expressem todo o seu potencial genético”, explicou. Ele também falou sobre o manejo dos bezerros, a produção e a qualidade do leite, além da reprodução, da sanidade e da conformação racial.
Isabel Ferreira explicou as características zootécnicos utilizadas na avaliação e como elas foram ponderadas para a obtenção do índice fenotípico geral de cada animal. Foram avaliados a produção de leite (ponderação de 40%); a composição do leite (porcentagem de gordura, 5%; porcentagem de proteína, 10%; e escore de células somáticas, 5%); a persistência de lactação (15%); a reprodução (intervalo parto-concepção, 15%); e a conformação racial (10%), obtendo-se assim o índice fenotípico geral de cada animal.
A pesquisadora comentou que a persistência da lactação é uma variável importante para ser avaliada e evoluir no melhoramento genético de zebuínos, conhecidos como animais de lactação curta. “Temos avaliado que alguns animais enviados pelos criadores estão de parabéns quanto à persistência (da lactação), fecham os 305 dias com produção média de 7 kg/dia a 10 kg/dia. Isso é resultado de anos de melhoramento focado nessa característica, por isso a importância de pontuá-la em 15% dentro dos 100% (do índice fenotípico)”, justificou.
O ranqueamento de cada categoria foi dado em função da média apresentada pelo grupo, a qual se atribuiu o valor de 100%, de modo que os melhores animais ficaram acima desse valor e os piores abaixo, exceto nas variáveis que mensuram reprodução e contagem de células somáticas, em que ocorre o inverso. “Não é o animal que produz mais leite o melhor classificado, e sim o mais equilibrado nesses atributos de interesse econômico que o produtor deve medir e pelos quais o laticínio deveria pagar”, observou Martins, que apresentou, juntamente com Marcelo Toledo, os desempenhos dos animais em cada critério avaliado na prova.
Foram avaliados adicionalmente os índices de sólidos totais e de lactose do leite, bem como a genotipagem para os alelos A1 e A2 da beta caseína do leite – características que não compõem o índice fenotípico geral. Também foi realizada uma simulação da bonificação por gordura, proteína e contagem de células somáticas com base nos valores pagos pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) em 2016, além da remuneração obtida com a produção de leite durante a lactação.
Premiação
Os proprietários dos animais considerados superiores na prova – os cinco primeiros colocados pelo índice fenotípico entre as novilhas Gir Leiteiro, as três primeiras vacas Gir Leiteiro e as três primeiras novilhas Sindi – receberam um troféu reproduzindo as características físicas de cada animal classificado. Todos os participantes receberam um certificado da Embrapa Cerrados. A seguir, os primeiros colocados de cada grupo e os respectivos índices fenotípicos:
Novilha Gir Leiteiro
1ª. Zarita (criador: Hamilton de Carvalho) – 132,9
2ª. Famosa FIV Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 114,9
3ª. Fabulosa FIV Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 110,6
4ª Lambada (criador: Emilio Maia de Castro) – 110,0
5ª. Imperatriz (criador: Anselmo José de Azevedo) – 109,1
Vaca Gir Leiteiro
1ª. Graciosa da Agma (criador: Áureo Miranda) – 117,9
2ª. PH Harmonia (criador: Embrapa Cerrados/CTZL) – 102,6
3ª. Daura FIV Positiva (criador: José Mario Abdo) – 101,4
Novilha Sindi
1ª. Raja Haloeen (criador: Marcos da Cunha) – 156,6
2ª. Avelã Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 147,4
3ª. Alenka Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 143,1
Além da classificação fenotípica, alguns animais jovens dentre os melhores classificados também foram destacados em alguns critérios. “Consideramos o animal mais jovem que produziu mais leite, o mais persistente na lactação, e o que teve o intervalo entre partos mais curto, ou seja, que emprenhou primeiro”, apontou Carlos Frederico Martins. “Entendemos que isso dá um enfoque na importância da reprodução, das fêmeas estarem produzindo leite e já terem concebido novamente, e o quanto isso traz viabilidade econômica para o sistema de produção. E, logicamente, a mensuração da persistência da lactação, que é um desafio muito grande nas vacas zebuínas de modo geral”, completou Marcelo de Toledo. Os animais destaques foram os seguintes:
Fêmea jovem com maior produção de leite – Sindi
Raja Haloeen
Fêmea jovem com menor intervalo entre partos e maior persistência da lactação – Sindi
Avelã Pé da Serra
Fêmea jovem com maior persistência da lactação – Gir Leiteiro
Lambada
Fêmea jovem com menor intervalo entre partos e maior produção de leite – Gir Leiteiro
Famosa FIV Pé da Serra
Após a apresentação dos resultados, o produtor Paulo Horta, que cria animais Gir Leiteiro puros de origem e registrados há 35 anos, falou sobre a experiência pessoal com a raça. “Quando começamos, havia uma dúvida se o Gir era leiteiro ou não. Naquela época, não podíamos participar de exposição, era só Gir para carne, e o que nos restava era o torneio leiteiro, naquele momento com lactações naturais. Depois, no final da década de 1980, passou a se selecionar os animais que respondiam à somatotropina (hormônio para aumentar a lactação), como hoje se refere à ocitocina. Isso é um problema”, comentou.
Horta também citou um trabalho publicado na Revista Brasileira de Zootecnia em 2000, dos autores Rui Verneque, Mario Martinez e Roberto Teodoro, cuja conclusão é a contraindicação da seleção de animais considerando período de lactação igual ou inferior a 150 dias, o que resultaria em erros significativos no descarte de vacas e na seleção de touros. “Ou seja, com menos de cinco meses de lactação, você não diz qual a melhor nem a pior vaca do seu rebanho”, observou. “Deveria haver um estímulo a esse tipo de acontecimento que está se encerrando hoje (prova), porque aqui nós vemos o Gir Leiteiro como ele é e como precisamos: rústico, a pasto, com manejo próprio para o zebu. Temos que adotar um sistema semelhante e estimular as instituições para que promovam mais acontecimentos como esse e façam publicidade. Fora desse tipo de prova, não há salvação para o Gir”, apontou.
A reunião técnica foi encerrada com a visita aos animais Gir Leiteiro participantes da Terceira Prova de Produção de Leite a Pasto no CTZL.
Os criadores participantes da Segunda Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro no Centro de Tecnologias para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Embrapa Cerrados (DF) conheceram os resultados finais da avaliação e foram premiados durante reunião técnica realizada na última sexta-feira (9). A prova zootécnica é realizada pela Embrapa Cerrados e pela Associação de Criadores do Zebu do Planalto (ACZP), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e teve como objetivo identificar as melhores vacas e novilhas das raças Gir Leiteiro e Sindi em condições de pastagem e de manejo típicas de fazendas do Bioma Cerrado.
A reunião técnica foi realizada no CTZL e contou com a presença do diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Soares; do chefe geral da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia; do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade, Sebastião Pedro; do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg; do secretário de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF, Argileu Martins; do presidente da Emater-DF, Roberto Carneiro; do superintendente técnico da ACZP, Marcelo de Toledo; e da superintendente da ABCZ, Mariana Alencar.
Cleber Soares salientou a importância de ações como a prova no CTZL e a necessidade de desafiar os rebanhos, especialmente o zebu leiteiro a pasto, que é a base de produção nos trópicos. “Temos uma oportunidade ímpar de alavancar a cadeia do leite no Brasil. Sabemos que o preço (do leite) é baixo, mas não dá para nos acomodarmos e muito menos não pensarmos no futuro. Até porque o único alimento que tem relação direta com a necessidade nutricional e com o ganho econômico é a proteína de origem animal, especialmente leite e carne. Quanto mais uma sociedade ou nação evolui, mais proteína de origem animal ela consome”, explicou.
Soares lembrou o tamanho da demanda global por proteína animal – de acordo com a estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até 2050 terão que ser produzidas mais 500 milhões de toneladas de proteína de origem animal. “Isso não ocorrerá se não houver aporte de tecnologia no campo, inovação e, sobretudo, a parceria da iniciativa privada, das instituições representativas dos produtores rurais e do próprio produtor rural em adotar tecnologia, inovar e produzir alimentos de melhor qualidade, fornecendo assim qualidade de vida para nossa sociedade e suprindo as deficiências inclusive alimentares”, afirmou.
O governador Rodrigo Rollemberg homenageou o produtor Paulo Horta, um dos participantes da prova, pela concepção do CTZL. “Eu era secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (do Ministério de Ciência e Tecnologia) e presidente do Fundo Setorial do Agronegócio quando ele trouxe a ideia de um centro de difusão de tecnologias e de uma genética zebuína leiteira adaptada para a região. E o Argileu (Martins) era nosso parceiro no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ele e o (Francisco) Hercílio (Matos, atual subsecretário de Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF) acabaram tocando isso, que se transformou em realidade. Estou muito feliz de estar aqui. Sabemos do potencial imenso (do CTZL) de promover o melhoramento genético dos nossos rebanhos, sobretudo da região. Parabéns a todos os envolvidos nesse trabalho”, declarou.
Argileu Martins também lembrou o momento da criação do CTZL, em 2007, e destacou a importância da cadeia produtiva do leite no País. “47% do leite produzido no Brasil está em propriedades que produzem até 100 litros/dia. Para que haja mais renda na propriedade, ela precisa de muita genética e incentivo. E vemos hoje que um investimento como esse (CTZL) está de fato dando certo. Cumprimento a Embrapa e aos produtores que acreditaram. Nossa produção de 35 bilhões de litros de leite/ano acontece graças a esse conjunto e o resultado desta prova só reforça a convicção de que temos que investir muito na cadeia produtiva do leite, que viabiliza mais de 1,1 milhões de propriedades no Brasil. É a maior e principal cadeia produtiva do País”, afirmou.
O presidente da Emater-DF parabenizou o CTZL pela iniciativa de selecionar animais Gir Leiteiro e Sindi. “Sabemos da importância do CTZL para o nosso setor produtivo leiteiro. Agradecemos à parceria de sempre coma Emater-DF”, disse Roberto Carneiro.
No momento, esta é a única avaliação da produção de leite a pasto de zebuínos leiteiros em andamento no País, segundo Marcelo de Toledo. “Estamos trabalhando para mensurar o potencial dessas raças zebuínas (Gir Leiteiro e Sindi) em produção e de forma sustentável, no campo. A parceria da ACZP com a Embrapa está sendo muito interessante e tenho certeza de que vamos ganhar muito com ela. Estamos tentando trazer a raça Guzerá e cruzamentos de raças zebuínas para as próximas provas”, projetou.
Mariana Alencar destacou a forma de execução da prova, realizada nas condições reais dos produtores. “Sabemos que a cadeia do leite passa por problemas de preço e de valorização, o que tem causado desânimo aos produtores. Porém, o investimento em genética, em ter um zebu leiteiro melhorador, é muito importante. Estamos também verificando potenciais do uso do zebu leiteiro em produtos com valor agregado, com a produção de queijos, de leite não alergênico. Temos trabalhado para aliar as duas coisas e tudo depende da base que está sendo feita aqui”, comentou.
Resultados
Os pesquisadores Carlos Frederico Martins e Isabel Ferreira e o analista Álvaro Neto apresentaram os procedimentos adotados na prova e os resultados finais. A avaliação contou com 30 animais de 13 diferentes criatórios, além da própria Embrapa Cerrados/CTZL, sendo seis vacas em segunda lactação e 13 novilhas da raça Gir Leiteiro e 11 novilhas da raça Sindi. Os animais foram avaliados durante 305 dias de lactação, sendo mantidos sob pastejo rotacionado em área de 13 hectares com pastagem de Brachiaria brizantha BRS Piatã, cultivar da Embrapa recomendada para o Cerrado. Além disso, receberam suplemento de ração no período de seca conforme a produção de leite individual, como ocorre nas propriedades rurais da região.
Martins destacou as premissas da prova zootécnica do CTZL: seleção genética confiável por meio de lactações completas (no mínimo cinco meses de mensuração); sendo o Brasil um país tropical, o pasto é a base alimentar para a produção sustentável; produção de leite seguro e saudável, sem o uso de medicamentos e hormônios; e a integração de tecnologias da Embrapa, como o uso de forrageira desenvolvida pela Empresa, do sistema de Integração Lavoura-Pecuária e das recomendações de boas práticas de ordenha, sanitárias e de manejo animal.
Álvaro Neto detalhou as práticas de manejo dos animais adotadas durante a prova, como o manejo alimentar. “Procuramos garantir que os animais expressem todo o seu potencial genético”, explicou. Ele também falou sobre o manejo dos bezerros, a produção e a qualidade do leite, além da reprodução, da sanidade e da conformação racial.
Isabel Ferreira explicou as características zootécnicos utilizadas na avaliação e como elas foram ponderadas para a obtenção do índice fenotípico geral de cada animal. Foram avaliados a produção de leite (ponderação de 40%); a composição do leite (porcentagem de gordura, 5%; porcentagem de proteína, 10%; e escore de células somáticas, 5%); a persistência de lactação (15%); a reprodução (intervalo parto-concepção, 15%); e a conformação racial (10%), obtendo-se assim o índice fenotípico geral de cada animal.
A pesquisadora comentou que a persistência da lactação é uma variável importante para ser avaliada e evoluir no melhoramento genético de zebuínos, conhecidos como animais de lactação curta. “Temos avaliado que alguns animais enviados pelos criadores estão de parabéns quanto à persistência (da lactação), fecham os 305 dias com produção média de 7 kg/dia a 10 kg/dia. Isso é resultado de anos de melhoramento focado nessa característica, por isso a importância de pontuá-la em 15% dentro dos 100% (do índice fenotípico)”, justificou.
O ranqueamento de cada categoria foi dado em função da média apresentada pelo grupo, a qual se atribuiu o valor de 100%, de modo que os melhores animais ficaram acima desse valor e os piores abaixo, exceto nas variáveis que mensuram reprodução e contagem de células somáticas, em que ocorre o inverso. “Não é o animal que produz mais leite o melhor classificado, e sim o mais equilibrado nesses atributos de interesse econômico que o produtor deve medir e pelos quais o laticínio deveria pagar”, observou Martins, que apresentou, juntamente com Marcelo Toledo, os desempenhos dos animais em cada critério avaliado na prova.
Foram avaliados adicionalmente os índices de sólidos totais e de lactose do leite, bem como a genotipagem para os alelos A1 e A2 da beta caseína do leite – características que não compõem o índice fenotípico geral. Também foi realizada uma simulação da bonificação por gordura, proteína e contagem de células somáticas com base nos valores pagos pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) em 2016, além da remuneração obtida com a produção de leite durante a lactação.
Premiação
Os proprietários dos animais considerados superiores na prova – os cinco primeiros colocados pelo índice fenotípico entre as novilhas Gir Leiteiro, as três primeiras vacas Gir Leiteiro e as três primeiras novilhas Sindi – receberam um troféu reproduzindo as características físicas de cada animal classificado. Todos os participantes receberam um certificado da Embrapa Cerrados. A seguir, os primeiros colocados de cada grupo e os respectivos índices fenotípicos:
Novilha Gir Leiteiro
1ª. Zarita (criador: Hamilton de Carvalho) – 132,9
2ª. Famosa FIV Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 114,9
3ª. Fabulosa FIV Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 110,6
4ª Lambada (criador: Emilio Maia de Castro) – 110,0
5ª. Imperatriz (criador: Anselmo José de Azevedo) – 109,1
Vaca Gir Leiteiro
1ª. Graciosa da Agma (criador: Áureo Miranda) – 117,9
2ª. PH Harmonia (criador: Embrapa Cerrados/CTZL) – 102,6
3ª. Daura FIV Positiva (criador: José Mario Abdo) – 101,4
Novilha Sindi
1ª. Raja Haloeen (criador: Marcos da Cunha) – 156,6
2ª. Avelã Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 147,4
3ª. Alenka Pé da Serra (criador: José Maria dos Anjos) – 143,1
Além da classificação fenotípica, alguns animais jovens dentre os melhores classificados também foram destacados em alguns critérios. “Consideramos o animal mais jovem que produziu mais leite, o mais persistente na lactação, e o que teve o intervalo entre partos mais curto, ou seja, que emprenhou primeiro”, apontou Carlos Frederico Martins. “Entendemos que isso dá um enfoque na importância da reprodução, das fêmeas estarem produzindo leite e já terem concebido novamente, e o quanto isso traz viabilidade econômica para o sistema de produção. E, logicamente, a mensuração da persistência da lactação, que é um desafio muito grande nas vacas zebuínas de modo geral”, completou Marcelo de Toledo. Os animais destaques foram os seguintes:
Fêmea jovem com maior produção de leite – Sindi
Raja Haloeen
Fêmea jovem com menor intervalo entre partos e maior persistência da lactação – Sindi
Avelã Pé da Serra
Fêmea jovem com maior persistência da lactação – Gir Leiteiro
Lambada
Fêmea jovem com menor intervalo entre partos e maior produção de leite – Gir Leiteiro
Famosa FIV Pé da Serra
Após a apresentação dos resultados, o produtor Paulo Horta, que cria animais Gir Leiteiro puros de origem e registrados há 35 anos, falou sobre a experiência pessoal com a raça. “Quando começamos, havia uma dúvida se o Gir era leiteiro ou não. Naquela época, não podíamos participar de exposição, era só Gir para carne, e o que nos restava era o torneio leiteiro, naquele momento com lactações naturais. Depois, no final da década de 1980, passou a se selecionar os animais que respondiam à somatotropina (hormônio para aumentar a lactação), como hoje se refere à ocitocina. Isso é um problema”, comentou.
Horta também citou um trabalho publicado na Revista Brasileira de Zootecnia em 2000, dos autores Rui Verneque, Mario Martinez e Roberto Teodoro, cuja conclusão é a contraindicação da seleção de animais considerando período de lactação igual ou inferior a 150 dias, o que resultaria em erros significativos no descarte de vacas e na seleção de touros. “Ou seja, com menos de cinco meses de lactação, você não diz qual a melhor nem a pior vaca do seu rebanho”, observou. “Deveria haver um estímulo a esse tipo de acontecimento que está se encerrando hoje (prova), porque aqui nós vemos o Gir Leiteiro como ele é e como precisamos: rústico, a pasto, com manejo próprio para o zebu. Temos que adotar um sistema semelhante e estimular as instituições para que promovam mais acontecimentos como esse e façam publicidade. Fora desse tipo de prova, não há salvação para o Gir”, apontou.
A reunião técnica foi encerrada com a visita aos animais Gir Leiteiro participantes da Terceira Prova de Produção de Leite a Pasto no CTZL.