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Comunidades do Marajó, no Pará, realizam feira de ciências

“A feira traz a integração entre as comunidades, fortalece laços, possibilita novas parcerias e traz conhecimentos para melhorar a produção”, Gracionice Costa da Silva Corrêa, 44 anos, agroextrativista da comunidade Monte Hermom (Portel-PA), líder comunitária e presidente da cooperativa Manejaí.

“A gente veio atrás de conhecimento e vai levar para a nossa comunidade”, Lívia Pantoja Nunes, 28 anos, da comunidade quilombola Vila União Campina (Salvaterra-PA).

“É uma oportunidade de falar da nossa comunidade, de mostrar o que fazemos e o conhecimento que temos”, Sara Gomes da Silva, 18 anos, jovem comunicadora do centro de referência Manejaí, comunidade Santo Ezequiel Moreno (Portel-PA).

“Achei muito legal e muito importante pra nós, pois buscamos mais conhecimento para a nossa cooperativa e nossa comunidade”, Sâmila Gomes Correa, 14 anos, da Cooperativa Mirim Marajoara Santo Ezequiel Moreno (Portel-PA).

Na percepção dessas quatro mulheres de diferentes gerações e comunidades do Marajó, no Pará, compartilhar o conhecimento é o grande legado da VI Feira de Ciências do Rio Acutipereira realizada em Portel-PA, de 21 a 23 de novembro de 2024. Na sua sexta edição, a Feira, que este ano tem como tema “Terra e Sustentabilidade”, reuniu cerca de 150 famílias e técnicos de instituições de ensino e pesquisa na comunidade Nossa Senhora Aparecida, que apresentaram projetos comunitários, escolares e científicos, dialogaram e também participaram de palestras e oficinas.

Ao longo de três dias, a Feira trouxe a exposição de 17 projetos e iniciativas de universidades, institutos de educação, escolas municipais e grupos comunitários em diferentes formatos, como maquetes, banners e apresentações orais, que abordaram a diversificação da produção por meio de quintais produtivos; novos usos para o caroço do açaí; agroecologia; saneamento rural; acesso a crédito; entre outros temas. O evento trouxe ainda quatro oficinas que capacitaram crianças, jovens e adultos em Agroecologia, Educomunicação, Manejo de Bacurizeiros Nativos e em ferramenta digital para a gestão da produção agroextrativista.

Premiações

Três trabalhos das escolas do Marajó foram premiados na VI Feira de Ciências do Rio Acutipereira. São eles: “Ferramentas ecológicas interdisciplinares”, dos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental “São Miguel”, da localidade Serraria (1o lugar), Portel-PA;  “Transformando espaços domésticos: a importância dos quintais florestais na agricultura familiar”, da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Campo – Secretaria de Estado de Educação (PA) (2o lugar); e “Composteira caseira”, da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Santo Ezequiel Moreno”, Portel-PA (3o lugar).

“Trata-se de um importantíssimo espaço de socialização de conhecimentos para fortalecer o desenvolvimento social, econômico e ambiental das populações ribeirinhas extrativistas de Portel”, afirma Gracialda Ferreira, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia, uma das organizadoras da VI Feira de Ciências.

Na palestra de abertura, o chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, abordou a trajetória da ação humana na Amazônia, seus impactos e os desafios da ciência no combate às mudanças climáticas. “É fundamental que o conhecimento tradicional e o científico andem juntos para transformar o território e tirar essas comunidades da invisibilidade tecnológica e social. Foi desafiador conversar com jovens e crianças sobre temas tão complexos”, ressaltou o gestor.

Feira de ciências

A Feira de Ciências do Rio Acutipereira, que ocorre desde 2016, é promovida pelas comunidades agroextrativistas do Projeto de Assentamento Agroextrativista do Acutipereira (PEAEx- Acutipereira), localizado em Portel, mesorregião do Marajó, no Pará. A região abriga 22 comunidades agroextrativistas que têm no manejo do açaí uma das principais fontes de alimento e renda.

O evento é coordenado pela Associação dos Moradores do PEAEx Acutipereira (ASMOGA), Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Portel (STTR), organizado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e tem apoio do Instituto de Educação do Brasil (IEB) e da Embrapa, por meio do projeto Bem Diverso Sustenta e Inova, financiado pela União Europeia.

Para o pesquisador Anderson Sevilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasilia-DF) e coordenador do projeto Bem Diverso/Sustenta e Inova, uma feira de ciências liderada pelas próprias comunidades demonstra a importância que o conhecimento tem na vida dessas pessoas.

“Dentro do histórico de ocupação desse território que passou por diferentes ciclos, o conhecimento tradicional das populações foi se perdendo. A feira entra como um elemento de resgate desse conhecimento. E as próprias comunidades se dão conta de trazer o conhecimento científico também. E então temos uma feira de ciências feita e organizada pelas comunidades locais”, destaca.

“A feira é um espaço de oportunidades para as comunidades, de conhecer processos mais tecnológicos para trabalhar com a floresta, e também de fortalecimento de vínculos, de inclusão produtiva, de troca de saberes e conhecimentos, mas sobretudo de integração de mulheres, jovens e crianças que estão no propósito de transformar as comunidades”, finaliza Gracionice Costa da Silva Corrêa, agroextrativista e líder comunitária marajoara.

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