Mais açaí, mais alimento e mais biodiversidade nas florestas de várzea. Esses são alguns benefícios gerados a partir do Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos, tecnologia desenvolvida pela Embrapa e adotada em comunidades da região do Marajó, no estado do Pará. Mais de 5 mil agroextrativistas já participaram de cursos sobre o manejo, que atualmente conta com o apoio do projeto Sustenta e Inova, coordenado pelo Sebrae em parceria com a Embrapa e financiado pela União Europeia.
“Antes tínhamos açaizais que estavam muito fracos, improdutivos e com difícil acesso. Após trabalhar o manejo de mínimo impacto, podemos ver com os próprios olhos que a área mudou totalmente. Aumentou a produtividade, a área ficou mais acessível e segura para quem colhe o açaí. Está dando muito certo, temos um açaí maravilhoso de total qualidade e rendimento”, afirma Maria Oneide Alves Mendes, agroextrativista (Portel, PA).
“Faço o manejo há três anos e a produtividade está começando a aumentar. Mas já sentimos uma grande diferença, principalmente na qualidade do açaí. Antes tínhamos um fruto mais ressecado e isso mudou totalmente”, detalha Telma Lacerda Gomes, agroextrativista (Portel, PA).
“O manejo fez toda a diferença no açaizal. A produtividade aumentou bastante, os cachos são grandes e as palmeiras ficaram mais baixas, facilitando a colheita. Melhorou muito para mim e para a comunidade”, ressalta Anízio Gomes Filho, agroextrativista (Portel, PA).
O Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos preconiza o equilíbrio entre os açaizeiros e outras espécies de palmeiras e árvores presentes nas áreas manejadas. A técnica proporciona o aumento da produtividade dos açaizais de 1 t/ha/ano para 3 a 6 t/ha/ano a partir do terceiro ano de manejo e mantém a biodiversidade nas florestas de várzea.
“O manejo contribui para uma mudança de paradigma na restauração da floresta. Busca-se o aumento da biodiversidade dentro das áreas para a promoção de ciclagem de nutrientes, e isso rebate na produtividade”, afirma o pesquisador da Embrapa Anderson Sevilha, coordenador do projeto Sustenta e Inova na instituição.
Benefícios que vão além da produçãoO projeto Sustenta e Inova dá continuidade à trajetória Bem Diverso, que atua na região desde 2019, e atualmente se configura como um programa, de acordo com Sevilha. Um dos grandes legados desse trabalho foi a criação do Manejaí, em Portel, centro de referência em manejo, conservação e restauração de agroecossistemas. A iniciativa, fruto da articulação entre pesquisa, extensão rural e comunidades, está presente em quatro municípios no Marajó (Portel, Muaná, Salvaterra e Breves) e já formou 131 agentes facilitadores, entre técnicos e agroextrativistas, que levam o Manejo de Mínimo Impacto às populações ribeirinhas da região. “O Manejaí atua também no empoderamento de mulheres e jovens da comunidade, fortalece as relações tradicionais e promove o protagonismo e o desenvolvimento das capacidades locais”, destaca Cesar Augusto Andrade, coordenador do escritório da Embrapa no Marajó. Os benefícios do manejo sustentável vão além do aumento da produtividade e manutenção da biodiversidade, envolvem questões sociais, como afirma Anderson Sevilha. “O movimento em torno do manejo cria um ambiente de discussão e debate sobre direitos humanos, condições de trabalho, segurança alimentar e melhoria nas condições de vida das populações”, finaliza. |
Sobre o projeto Sustenta e Inova
O projeto busca desenvolver e implementar práticas agrícolas sustentáveis e inovadoras, além de promover o desenvolvimento das cadeias de valor na Amazônia brasileira. Com atuação na região do Marajó, a Embrapa participa do projeto a partir de capacitações em Manejo de Mínimo de Açaizais Nativos, manejo de produtos florestais não-madeireiros, meliponicultura, piscicultura, beneficiamento de produtos da sociobiodiversidade, produção de alimentos, sistemas agroflorestais, saneamento rural e uso de ferramentas digitais.
Financiado pela União Europeia, Sustenta e Inova é coordenado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e conta com a parceria da Embrapa, do IPAM, e Cirad (Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional).