O Seminário de Articulação Embrapa e FARSUL: Projeto Duas Safras no RS aconteceu nesta quinta, 22 de abril, nas dependências da Estação Experimental Terras Baixas (ETB) da unidade de pesquisas em Pelotas/RS. O momento de discussão e visita técnica aos campos experimentais aproximou as equipes de pesquisa e representantes da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e técnicos do SENAR para discutir e planejar estratégias de trabalho para ampliar a produção de milho e melhorar o desempenho de sistemas de cultivo desta cultura na metade Sul do RS, em especial nas terras baixas da região. O evento ocorreu após uma rodada de reuniões virtuais para atender uma demanda das cadeias produtivas de carnes para suprir a escassez de oferta do grão no Estado.
O chefe-geral, Roberto Pedroso de Oliveira, explicou ao grupo presente e aos participantes que acompanharam o evento por videoconferência, que o encontro foi motivado para apresentar as principais tecnologias relacionadas à pecuária e à produção de grãos, especialmente ao milho. Ele falou que a equipe da Embrapa Clima Temperado identificou tecnologias que atendem as necessidades do setor produtivo, e a importância dessa parceria para ampliar as ações de transferência de tecnologias da Empresa. Pedroso destacou fortes razões para que a Embrapa Clima Temperado seja parceira nesta proposta, como possuir ampla experiência em terras baixas; estar inserida na maior fronteira agrícola do Estado; sem falar na tradição, relevância e qualidade das pesquisas, e a ampla estrutura à disposição dos trabalhos de pesquisa.
O presidente da FARSUL, Gedeão Pereira, explicou que pela falta de produção de quatro milhões de toneladas de milho no RS, as atividades de desenvolvimento da pecuária,e da criação de suínos e aves na região Noroeste do Estado estão estacionadas, ao mesmo tempo em que a região Sul do Estado cresce cada vez mais em produção de grãos, especialmente de soja. “Estamos apresentando uma proposta de trabalho que se chama Duas Safras no RS, onde contemplamos a Metade Norte e a Metade Sul do Estado. Para a Metade Norte buscamos tecnologias junto a duas unidades da Embrapa, a Suínos e Aves, em Concórdia/SC e a Trigo, em Passo Fundo/RS. Para a Metade Sul, pela peculiaridade da região, estamos nos socorrendo das unidades Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, e Pecuária Sul, em Bagé. Com a intenção de saber o que temos de pesquisa agropecuária, descobrimos que existem boas alternativas a oferecer aos produtores do Estado do RS. Vamos fazer uma proposta junto com o SENAR/RS, que tem a função de realizar a capacitação rural, para ampliar a atividade do produtor e para que o RS saia do patamar de produzir 1,09 safras por ano e conquiste duas safras”, disse.
O superintendente do SENAR/RS, Eduardo Condorelli, confirmou que a instituição irá apoiar a construção do projeto Duas Safras no RS, juntamente com as unidades da Embrapa, para colaborar na difusão do conhecimento das tecnologias, já que se identificou que as unidades de pesquisa agropecuária possuem uma variedade de conhecimento que poderiam ser adotadas pelo produtor rural. “Pretendemos aproveitar o nosso extenso quadro de profissionais para levar aos milhares de produtores conhecimento novo, já que o SENAR realiza o atendimento, todos os anos, de quase 150 mil inscritos para capacitações”, destacou.
Como produzir mais milho
Uma das demandas do projeto Duas Safras no RS é como produzir mais milho no Estado. O coordenador técnico da ETB, André Andres, sustentou que a lavoura de milho em terras baixas que não tem uma drenagem adequada é pouco produtiva, pois tem dificuldades de expressar seu pleno potencial. A Embrapa desenvolveu tecnologias de manejo em terras baixas e está oferecendo algumas delas ao Projeto Duas Safras no RS, como a técnica de camalhões de base larga, que permite drenar rapidamente a água da lavoura, após as chuvas. Outra técnica apresentada foi o uso de sulco-camalhão, que permite que o produtor faça irrigação da soja e do milho em períodos de déficit hídrico, ou a drenagem, quando houver excesso de chuvas. A terceira tecnologia apresentada tem foco nas alternativas ao milho,como o caso do uso do arroz para alimentação animal, seja na forma de grãos inteiros, grãos descascados ou ainda na forma de silagem da planta de arroz. “Além dessas, também apresentamos algumas opções de tecnologias transversais, como o manejo do solo e das pragas, cultivares e pastagens, bioinsumos, e práticas gerais de manejo específicas para a condição agrícola das terras baixas.
O pesquisador Giovani Theisen, da área de grãos, resumiu brevemente as tecnologias selecionadas pela Embrapa Clima Temperado para este projeto, e apresentou dados sobre as potencialidades de produção de milho na região sul do RS. “Trouxemos informações científicas e relatos que demonstram o grande potencial desta região para produzir milho, em especial em condições de irrigação”, destacou. Ele apresentou estudos que sinalizam a necessidade de intensificação dos atuais sistemas de produção, aumento da área irrigada e incorporação de novas áreas produtivas até 2050, uma vez que a demanda mundial por grãos não pára de crescer.
Segundo o pesquisador, na parte mais ao sul do RS há um potencial expressivo para produção de milho pelo amplo comprimento do dia (luz) e adequação térmica na primavera-verão. “A maior duração do fotoperíodo favorece a produtividade da lavoura, que em condições de irrigação é capaz de render produtividades muito altas, como 300 sacos por hectare (18 t/ha)”, ressaltou. “Isso tudo, claro, em irrigação, mas cabe lembrar que o sul do RS dispõe de cerca de 2,5 milhões de terras baixas praticamente prontas ao cultivo irrigado, e o milho pode ocupar uma parte desse amplo terreno. Temos tecnologia para isso, como a técnica de sulco-camalhão, que vem sendo trabalhada pelo pesquisador José Parfitt e outros colegas da equipe”, disse.
Ao final, Theisen apresentou dados recentes da vitrine tecnológica na ETB, onde o milho – semeado no final de novembro – alcançou 234 sacas/ha. “É uma ótima produtividade, e acredito que se fosse semeado nos primeiros dias de outubro, possivelmente teríamos uma produtividade ainda maior em função da maior quantidade de horas luz”, acrescentou.
Os encaminhamentos
Na parte final do seminário, discutiram-se os próximos passos do projeto e algumas formas de levar essas tecnologias aos produtores. “Embora alguns ajustes entre as instituições ainda estejam em andamento, há um entendimento de que a implementação de áreas demonstrativas e a realização de cursos de capacitação para os agentes multiplicadores são importantes, e possivelmente esse modelo seja adotado”, disse o chefe adjunto de Transferência de Tecnologias, Enilton Fick Coutinho.
Os representantes da FARSUL e do SENAR também apontaram a necessidade de se identificar produtores que podem conduzir áreas demonstrativas e se prontificaram nesse sentido, e que estão finalizando os arranjos com as Unidades da Embrapa com vistas à participação no Projeto.
A programação
Dentro da programação do Seminário foi feita uma recepção aos técnicos do SENAR e representantes da Farsul, seguida por uma fala de boas vindas à Embrapa Clima Temperado, pelo seu chefe-geral, Roberto Pedroso de Oliveira. Os convidados assistiram ao vídeo institucional da Unidade, apresentado pelo chefe adjunto de Transferência de Tecnologias, Enilton Fick Coutinho. As potencialidades para produção de milho no Sul do RS foram mostradas pelo pelo pesquisador Giovani Theisen, que antecedeu a visitação às áreas experimentais da ETB,onde foram observadas ass tecnologias de manejo de camalhão de base larga e as áreas com utilização de sulco-camalhão. Estas atividades contaram com a participação dos pesquisadores André Andres, Ariano Martins de Magalhães Júnior, Júlio José Centeno da Silva, Jorge Schafhäuser Júnior, Giovani Theisen, José Maria Barbat Parfitt e Walkyria Bueno Scivittaro. Participaram também do evento a supervisora do Setor de Implementação da Programação de Transferência de Tecnologias, a pesquisadora Lorena Bernardi, a analista do setor Andrea Noronha e a supervisora do Núcleo de Comunicação Organizacional, Cintia Franco.
O projeto Duas Safras no RS é uma parceria entre o sistema Farsul (Farsul, Senar-RS e Casa Rural), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e Embrapa.