Cerca de 600 pessoas, sendo oito caravanas, participaram da 14ª edição do Dia de Campo em Agroecologia, que ocorreu nesta quinta-feira (05), na Estação Experimental Cascata (EEC) da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS). Os participantes foram divididos em grupos guiados por cinco estações simultâneas, localizadas em áreas experimentais de pesquisa. O objetivo foi apresentar soluções tecnológicas para diversificação da agricultura familiar de base ecológica, tendo como foco a produção de alimentos saudáveis. Estação 1 – Sistemas Biodiversos de Produção Na primeira estação, os pesquisadores diferenciaram pomares biodiversos e agroflorestas, apresentando seus benefícios. Ambos envolvem sistemas integrados de produção, mas com objetivos diferentes. Os sistemas biodiversos integram frutíferas em faixa, com espaçamento maior, de maneira a permitir o plantio de outras culturas nas entrelinhas, como espécies perenes e grãos. Também permitem o uso de maquinário e otimizam o uso do solo e da mão-de-obra. As agroflorestas, apesar de semelhantes, são mais complexas e abrigam espécies florestais, além das frutíferas. Por isso, também geram madeira, sombra e reciclam ainda mais os nutrientes do solo. “Têm o papel de modificar mais o ambiente”, explicou o pesquisador Carlos Martins. Na área experimental, também foi possível visualizar diversas opções de integração. Os pesquisadores destacam que citros, como laranja, bergamota e limão, são os que melhor se adaptam a esse tipo de sistema. A goiaba serrana também tem demonstrado potencial. Ao fim das falas, os participantes circularam nessas áreas, fazendo questionamentos diretamente aos pesquisadores. “Não é necessário grande quantidade de terra. Até no quintal de casa é possível ter diversidade, produzindo em várias épocas do ano”, completou Martins. Estação 2 – Agrobiodiversidade A segunda estação abordou o conceito de sementes crioulas e de guardiões e sua importância para a preservação da agrobiodiversidade. Os pesquisadores também comentaram a variedade de culturas trabalhadas pela pesquisa na EEC e na Embrapa como um todo. Um dos destaques foi a nogueira-pecã, que tem sido vista como boa alternativa para diversificação da agricultura familiar. O engenheiro agrônomo da Emater/RS, Aldair Gaiardo, falou da experiência dos guardiões no município de Rio Grande/RS, responsáveis por conservar uma diversidade de espécies. Segundo ele, o uso local ajuda a conservar o que não é valorizado pelas grandes redes de supermercados. Ele também destacou a importância das feiras e das trocas de sementes, que permitem que mais pessoas tenham acesso e divulguem esses materiais. “Cada um pode conservar aquilo que tem”, disse. Estação 3 – Insumos e controle biológico Em destaque, produtos alternativos para produção de alimentos. É o caso dos agrominerais, obtidos a partir de rochas moídas, que servem como fertilizantes ou condicionantes do solo. Os lodos de Estações de Tratamento de Água e Esgoto, após avaliação de impacto ambiental, podem ser utilizados como substrato para produção de mudas ou como fertilizantes ricos em fósforo. E a pesquisa ainda trabalha com microorganismos promotores de crescimento para as plantas. Outro destaque foram algumas alternativas para controle biológico, principalmente da mosca-das-frutas. Os pesquisadores apresentaram adultos de três espécies de moscas, armadilhas com diferentes atrativos, e estratégias de controle biológico, como o uso de microorganismos e parasitóides. Estas técnicas evitam a pulverização de produtos químicos. O trabalho conta com a parceria da empresa Partmon. No caso do controle de doenças, os pesquisadores demonstraram possibilidades de uso de produtos fermentados com biofertilizantes, que podem ser feitos diretamente na propriedade. A parceira Cooperbio também esteve no espaço divulgando o resultado de trabalho nesse mesmo sentido. Estação 4 – Serviços Ambientais e sociobiodiversidade O espaço envolveu onze pessoas e seis instituições diferentes para tratar de um assunto multidisciplinar, segundo a pesquisadora Letícia Penno. De modo geral, foram abordados os produtos e benefícios que os agricultores podem tirar do ambiente natural e de agroecossistemas. E o papel das pessoas e de seus modos de vida nos processos de conservação. Os conceitos-chave foram conservação e/ou preservação, restauração – quando ambiente degradado – e manejo sustentável. De um lado, foram apresentadas possibilidades de manejo da vegetação nativa para geração de renda, citando como exemplo espécies como aroeira (pimenta rosa), erva-mate, bambu, e araucária (pinhão). “Geralmente o agricultor vê o ‘mato’ como incomodo, mas é possível utilizar e gerar renda”, disse Letícia. A importância econômica e ambiental das abelhas com e sem ferrão foi abordada na sequência. O engenheiro agrônomo do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa), Fábio Mayer, comentou que as abelhas sem ferrão representam 200 espécies no Brasil, 26 no Estado e seis na região Sul. Segundo ele, elas prestam serviços como polinização de espécies, melhoria da produção pela polinização e indicação da qualidade do ambiente. “Se morrem é porque tem algo errado”, afirmou. A estação também abordou métodos para conservação e uso do solo e da água. Foram apresentados o método de proteção de nascentes Caxambu, o Clorador Embrapa – que faz a desinfecção da água – e a Fossa Séptica Biodigestora, para saneamento das propriedades. No caso do solo, em destaque a importância das minhocas e o uso de pastagens perenes, de forma a cobrir o solo. A prática também gera matéria orgânica, que retém oito vezes o seu volume em água, mantendo a umidade do solo. Estação 5 – Agregação de valor Por fim, neste espaço os pesquisadores incentivaram o processamento a partir do uso do que já existe nas propriedades, principalmente. A ideia é que os produtores se espelhassem para criar novos processos. Além disso, uma mesa foi montada com diversas opções de produtos processados, representando possibilidades de empreendedorismo e agregação de valor. O processamento também ajuda a preservar os alimentos por mais tempo. O pesquisador Gustavo Schiedeck ainda abordou a extração de óleos essenciais de espécies que, geralmente, também existem nas propriedades, como alecrim, aroeira-vermelha e eucalipto citriodora. Segundo ele, os óleos essenciais servem para muitas finalidades, tanto culinárias como medicinais. E, apesar da extração render geralmente 1%, apenas algumas gotas são suficiente para fabricação de produtos de alto valor agregado. Abertura Durante a abertura, o pesquisador e coordenador-técnico da EEC, Luís Fernando Wolf, deu as boas-vindas aos agricultores e pincelou a dinâmica do evento, ressaltando o foco em agricultura familiar e orgânica. “Essa atividade faz parte de uma articulação maior, trabalhando em prol da agricultura familiar e desenvolvendo bases científicas e tecnológicas focadas em alternativas para o desenvolvimento e geração de renda na agricultura familiar”, afirmou. O gerente-adjunto do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Pelotas, Ronaldo Maciel, destacou a parceria com a Embrapa, com as instituições e com as prefeituras municipais. Também reforçou a consolidação do evento em 14 anos de realização. “O evento é de extrema importância para os nossos agricultores da região e de outras regiões do Rio grande do Sul”, falou. Para o secretário de Desenvolvimento Rural de Pelotas, Jair Seidel, eventos como este são importantes porque destacam a agricultura de base familiar. “Embora o Brasil tenha uma agricultura forte, mais comercial, que nos permite ter uma exportação considerável, é a agricultura familiar que alimenta esse nosso Brasil”, disse. Por fim, o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Roberto Pedroso de Oliveira, em nome da Embrapa, se colocou à disposição dos agricultores familiares presentes. “A Agricultura familiar é muito importante para o Brasil. Cada agricultor familiar é importante para a Embrapa Clima Temperado”, encerrou. Ainda participaram o coordenador do Capa, Roni Bonow; e a gestora de projetos do Programa Juntos Para Competir da Farsul, Senar-RS e Sebrae RS, Lissandra Monza. Parceiros O evento também contou com bancas de parceiros. Tendo em vista o foco na produção de alimentos saudáveis, a equipe da Emater/RS apresentou as quantidades de açúcar e sal presentes em alimentos processados. “Para estimular o consumo dos alimentos produzidos pelos agricultores familiares e diminuir o consumo de ultraprocessados”, explicou a economista doméstica da Emater/RS, Regina Medeiros. Ainda participaram o viveiro da Afubra e a Frutplan, com comercialização de mudas no local. Bionatur, Cooperfumos, União Sementes e Sul Ecológica compareceram para divulgar seu trabalho e comercializar e distribuir sementes aos agricultores. O 14º Dia de Campo em Agroecologia foi promovido pela Embrapa Clima Temperado com o apoio da Emater/RS, Capa, Senar e Sebrae.
Cerca de 600 pessoas, sendo oito caravanas, participaram da 14ª edição do Dia de Campo em Agroecologia, que ocorreu nesta quinta-feira (05), na Estação Experimental Cascata (EEC) da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS). Os participantes foram divididos em grupos guiados por cinco estações simultâneas, localizadas em áreas experimentais de pesquisa. O objetivo foi apresentar soluções tecnológicas para diversificação da agricultura familiar de base ecológica, tendo como foco a produção de alimentos saudáveis.
Estação 1 – Sistemas Biodiversos de Produção
Na primeira estação, os pesquisadores diferenciaram pomares biodiversos e agroflorestas, apresentando seus benefícios. Ambos envolvem sistemas integrados de produção, mas com objetivos diferentes. Os sistemas biodiversos integram frutíferas em faixa, com espaçamento maior, de maneira a permitir o plantio de outras culturas nas entrelinhas, como espécies perenes e grãos. Também permitem o uso de maquinário e otimizam o uso do solo e da mão-de-obra.
As agroflorestas, apesar de semelhantes, são mais complexas e abrigam espécies florestais, além das frutíferas. Por isso, também geram madeira, sombra e reciclam ainda mais os nutrientes do solo. “Têm o papel de modificar mais o ambiente”, explicou o pesquisador Carlos Martins.
Na área experimental, também foi possível visualizar diversas opções de integração. Os pesquisadores destacam que citros, como laranja, bergamota e limão, são os que melhor se adaptam a esse tipo de sistema. A goiaba serrana também tem demonstrado potencial.
Ao fim das falas, os participantes circularam nessas áreas, fazendo questionamentos diretamente aos pesquisadores. “Não é necessário grande quantidade de terra. Até no quintal de casa é possível ter diversidade, produzindo em várias épocas do ano”, completou Martins.
Estação 2 – Agrobiodiversidade
A segunda estação abordou o conceito de sementes crioulas e de guardiões e sua importância para a preservação da agrobiodiversidade. Os pesquisadores também comentaram a variedade de culturas trabalhadas pela pesquisa na EEC e na Embrapa como um todo. Um dos destaques foi a nogueira-pecã, que tem sido vista como boa alternativa para diversificação da agricultura familiar.
O engenheiro agrônomo da Emater/RS, Aldair Gaiardo, falou da experiência dos guardiões no município de Rio Grande/RS, responsáveis por conservar uma diversidade de espécies. Segundo ele, o uso local ajuda a conservar o que não é valorizado pelas grandes redes de supermercados. Ele também destacou a importância das feiras e das trocas de sementes, que permitem que mais pessoas tenham acesso e divulguem esses materiais. “Cada um pode conservar aquilo que tem”, disse.
Estação 3 – Insumos e controle biológico
Em destaque, produtos alternativos para produção de alimentos. É o caso dos agrominerais, obtidos a partir de rochas moídas, que servem como fertilizantes ou condicionantes do solo. Os lodos de Estações de Tratamento de Água e Esgoto, após avaliação de impacto ambiental, podem ser utilizados como substrato para produção de mudas ou como fertilizantes ricos em fósforo. E a pesquisa ainda trabalha com microorganismos promotores de crescimento para as plantas.
Outro destaque foram algumas alternativas para controle biológico, principalmente da mosca-das-frutas. Os pesquisadores apresentaram adultos de três espécies de moscas, armadilhas com diferentes atrativos, e estratégias de controle biológico, como o uso de microorganismos e parasitóides. Estas técnicas evitam a pulverização de produtos químicos. O trabalho conta com a parceria da empresa Partmon.
No caso do controle de doenças, os pesquisadores demonstraram possibilidades de uso de produtos fermentados com biofertilizantes, que podem ser feitos diretamente na propriedade. A parceira Cooperbio também esteve no espaço divulgando o resultado de trabalho nesse mesmo sentido.
Estação 4 – Serviços Ambientais e sociobiodiversidade
O espaço envolveu onze pessoas e seis instituições diferentes para tratar de um assunto multidisciplinar, segundo a pesquisadora Letícia Penno. De modo geral, foram abordados os produtos e benefícios que os agricultores podem tirar do ambiente natural e de agroecossistemas. E o papel das pessoas e de seus modos de vida nos processos de conservação. Os conceitos-chave foram conservação e/ou preservação, restauração – quando ambiente degradado – e manejo sustentável.
De um lado, foram apresentadas possibilidades de manejo da vegetação nativa para geração de renda, citando como exemplo espécies como aroeira (pimenta rosa), erva-mate, bambu, e araucária (pinhão). “Geralmente o agricultor vê o ‘mato’ como incomodo, mas é possível utilizar e gerar renda”, disse Letícia.
A importância econômica e ambiental das abelhas com e sem ferrão foi abordada na sequência. O engenheiro agrônomo do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa), Fábio Mayer, comentou que as abelhas sem ferrão representam 200 espécies no Brasil, 26 no Estado e seis na região Sul. Segundo ele, elas prestam serviços como polinização de espécies, melhoria da produção pela polinização e indicação da qualidade do ambiente. “Se morrem é porque tem algo errado”, afirmou.
A estação também abordou métodos para conservação e uso do solo e da água. Foram apresentados o método de proteção de nascentes Caxambu, o Clorador Embrapa – que faz a desinfecção da água – e a Fossa Séptica Biodigestora, para saneamento das propriedades. No caso do solo, em destaque a importância das minhocas e o uso de pastagens perenes, de forma a cobrir o solo. A prática também gera matéria orgânica, que retém oito vezes o seu volume em água, mantendo a umidade do solo.
Estação 5 – Agregação de valor
Por fim, neste espaço os pesquisadores incentivaram o processamento a partir do uso do que já existe nas propriedades, principalmente. A ideia é que os produtores se espelhassem para criar novos processos. Além disso, uma mesa foi montada com diversas opções de produtos processados, representando possibilidades de empreendedorismo e agregação de valor. O processamento também ajuda a preservar os alimentos por mais tempo.
O pesquisador Gustavo Schiedeck ainda abordou a extração de óleos essenciais de espécies que, geralmente, também existem nas propriedades, como alecrim, aroeira-vermelha e eucalipto citriodora. Segundo ele, os óleos essenciais servem para muitas finalidades, tanto culinárias como medicinais. E, apesar da extração render geralmente 1%, apenas algumas gotas são suficiente para fabricação de produtos de alto valor agregado.
Abertura
Durante a abertura, o pesquisador e coordenador-técnico da EEC, Luís Fernando Wolf, deu as boas-vindas aos agricultores e pincelou a dinâmica do evento, ressaltando o foco em agricultura familiar e orgânica. “Essa atividade faz parte de uma articulação maior, trabalhando em prol da agricultura familiar e desenvolvendo bases científicas e tecnológicas focadas em alternativas para o desenvolvimento e geração de renda na agricultura familiar”, afirmou.
O gerente-adjunto do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Pelotas, Ronaldo Maciel, destacou a parceria com a Embrapa, com as instituições e com as prefeituras municipais. Também reforçou a consolidação do evento em 14 anos de realização. “O evento é de extrema importância para os nossos agricultores da região e de outras regiões do Rio grande do Sul”, falou.
Para o secretário de Desenvolvimento Rural de Pelotas, Jair Seidel, eventos como este são importantes porque destacam a agricultura de base familiar. “Embora o Brasil tenha uma agricultura forte, mais comercial, que nos permite ter uma exportação considerável, é a agricultura familiar que alimenta esse nosso Brasil”, disse.
Por fim, o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Roberto Pedroso de Oliveira, em nome da Embrapa, se colocou à disposição dos agricultores familiares presentes. “A Agricultura familiar é muito importante para o Brasil. Cada agricultor familiar é importante para a Embrapa Clima Temperado”, encerrou.
Ainda participaram o coordenador do Capa, Roni Bonow; e a gestora de projetos do Programa Juntos Para Competir da Farsul, Senar-RS e Sebrae RS, Lissandra Monza.
Parceiros
O evento também contou com bancas de parceiros. Tendo em vista o foco na produção de alimentos saudáveis, a equipe da Emater/RS apresentou as quantidades de açúcar e sal presentes em alimentos processados. “Para estimular o consumo dos alimentos produzidos pelos agricultores familiares e diminuir o consumo de ultraprocessados”, explicou a economista doméstica da Emater/RS, Regina Medeiros.
Ainda participaram o viveiro da Afubra e a Frutplan, com comercialização de mudas no local. Bionatur, Cooperfumos, União Sementes e Sul Ecológica compareceram para divulgar seu trabalho e comercializar e distribuir sementes aos agricultores.
O 14º Dia de Campo em Agroecologia foi promovido pela Embrapa Clima Temperado com o apoio da Emater/RS, Capa, Senar e Sebrae.