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A criação de abelhas sem ferrão conquista agricultoras no Pará

De desconhecidas a objeto de paixão. As abelhas nativas sem ferrão conquistaram o coração de agricultoras da zona rural do município de Paragominas, no Pará, que participaram do curso “Meliponicultura para Mulheres”, realizado em fevereiro deste ano.

“A minha visão das abelhas mudou completamente. Antes eu achava que eram uma ameaça, um perigo. Hoje eu quero me aproximar cada vez mais delas e conhecê-las mais”, afirma Núbia de Souza, da comunidade Vila Formosa.

“Elas só fazem o bem. Elas produzem o alimento que a gente consome”, completa Marinete Benício, da comunidade Alto Corací.

“Eu estou apaixonada pelas abelhas”, conclui Maria Oênice Xavier, da comunidade Alto Coraci.

Nos depoimentos das vinte agricultoras que participaram do curso, o desconhecimento em torno das abelhas nativas sem ferrão deu lugar à descoberta da importância que esses animais têm na polinização de diversos cultivos agrícolas e na manutenção da floresta. O curso “Meliponicultura para Mulheres” foi promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em parceria com a Associação Abelha, com execução técnica da Embrapa e apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, o INCT Polinização (INPol) e do Sindicato Rural de Paragominas, por meio do programa Rural Delas.

A meliponicultura – criação de abelhas sem ferrão, do gênero Melipona – é uma atividade exercida em diferentes regiões do Brasil. O país abriga mais de 250 espécies de abelhas nativas conhecidas pela ciência, de um total de 600 descritas mundialmente.

No estado do Pará são encontradas 119 espécies de abelhas sociais nativas sem ferrão e isso representa 48% das espécies conhecidas em todo o país.

A pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, explica que a atividade não requer equipamentos sofisticados, é simples e pode ser exercida próximo às residências. “É uma atividade inclusiva, que mulheres, crianças e pessoas idosas podem aprender. Promove segurança alimentar, geração de renda e a conservação da biodiversidade”, afirma. 

Multiplicar o conhecimento

Em cada colônia – ou caixa de abelha, as mulheres observaram a organização social e o trabalho de diferentes espécies de abelhas nativas sem ferrão. O conteúdo do curso abordou a biologia da espécie, a relação das abelhas com as plantas da região e técnicas de manejo e criação racional.

“Trouxemos colônias de espécies que ocorrem nessa região para que as mulheres pudessem fazer o manejo. É um curso básico voltado para iniciantes na atividade. Nossa expectativa é de que elas, a partir das colônias que foram doadas para a comunidade, possam evoluir na atividade e multiplicar essas colônias”, afirma Kamila Leão, pesquisadora colaboradora da Embrapa.

A pesquisa da Embrapa na Amazônia estuda as abelhas nativas sem ferrão desde a década de 90 e já gerou inúmeras informações sobre a atividade, como a descoberta e identificação de espécies, a criação racional em caixas, o manejo de colmeias, informações sobre o serviço de polinização para a agricultura e o impacto da atividade na manutenção da floresta.

Os mais recentes trabalhos mostram que a introdução de colmeias em plantios de açaí pode aumentar de 30% a 70% a produtividade dos açaizeiros, um serviço que pode ser explorado comercialmente por criadores de abelhas, já que a regulamentação orienta quanto ao transporte de colmeias para o fornecimento de serviços ambientais.

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