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Como reduzir os efeitos da estiagem na soja?

Neste verão, a cultura da soja tem enfrentado déficit hídrico em diversas regiões do Brasil, com perdas já confirmadas no Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de soja no País. A irregularidade das chuvas é comum em anos de La Niña, mas algumas estratégias de manejo podem reduzir os impactos da estiagem na soja. O déficit hídrico tem sido a principal causa de quebras nas safras brasileiras de soja e demais cultivos de verão, com maior impacto no sul do Brasil. Somente no Rio Grande do Sul, a FARSUL estima que 34,4 milhões de toneladas de grãos de soja deixaram de ser colhidos nos últimos cinco anos. Segundo o Informativo Conjuntural da Emater/RS, as regiões mais afetadas pela seca no momento estão no Centro-Oeste do Rio Grande do Sul, onde as lavouras de soja semeadas no início do período recomendado estão com plantas de reduzido porte, desfolha acentuada e perdas produtivas irreversíveis. As lavouras implantadas em dezembro estão em plena floração e início da formação das vagens, com emissão de folhas e ramos limitada. A produtividade tende a ser insatisfatória, já que muitas plantas possuem porte reduzido (de 20 a 30 cm) e estão em plena fase reprodutiva (55% das lavouras está em fase de enchimento de grãos). Nesta safra, o Rio Grande do Sul enfrenta o terceiro ano de estiagem no verão. Na safra 2021/22, os rendimentos da soja caíram para 1.400 kg/ha, e em 2022/23 a quebra foi de 30% na safra (Emater/RS), com média de rendimentos em 1.980 kg/ha (dados da CONAB). “Mesmo na safra 2023/24, quando o RS registrou uma boa quantidade de chuvas, os resultados em muitas lavouras gaúchas ficaram abaixo dos 3 mil kg/ha”, avalia o agrometeorologista da Embrapa Trigo Gilberto Cunha, reconhecendo que nesta safra a tendência é de perdas relacionadas à estiagem se repetirem no Estado. “A partir do início de janeiro até agora, as chuvas têm sido irregulares e muitas vezes localizadas, podendo ser percebidas diferenças nos padrões das plantas de lavouras próximas na mesma região”, lembra Cunha. Segundo ele, o produtor precisa se adaptar a este novo cenário de variabilidade climática, onde a irregularidade na distribuição de chuvas parece se consolidar cada vez mais. “O produtor precisa adotar estratégias de manejo de cultivos mais resilientes e não abrir mão da adesão de algum instrumento de seguridade rural”. No Mato Grosso do Sul, as últimas duas safras foram desafiadoras para os produtores rurais devido às condições climáticas que impactaram significativamente no potencial produtivo (Famasul). Nesta safra, segundo o Informativo Siga/MS, o estresse hídrico afeta 46% da área total com soja, sendo que as lavouras mais atingidas são aquelas implantadas entre setembro e meados de outubro. Entre dezembro e janeiro, houve uma redução drástica nas precipitações, especialmente em janeiro, um mês crucial para a cultura da soja no estado, pois geralmente concentra o período de enchimento de grãos. Também nos estados do Paraná e em Santa Catarina o risco de prejuízos localizados ainda não está descartado na safra de verão. Conforme o último relatório do Deral/PR, 68% da soja ainda está em fase de maturação, mas onde a colheita já começou os rendimentos estão bem variados devido às chuvas irregulares durante o ciclo da cultura, sendo que as lavouras plantadas mais cedo sofreram mais com os efeitos da estiagem. Em Santa Catarina também há grande variação na situação das lavouras onde a colheita está começando (11% da área), em função das chuvas irregulares e as temperaturas elevadas, com algumas lavouras produzindo abaixo do esperado, enquanto outras superam as expectativas. Conforme o boletim da Epagri/SC, a safra apresenta variações a aponta sinais de redução na produção em relação à estimativa inicial. Estratégias para minimizar perdas O pesquisador da Embrapa Trigo Alvadi Balbinot destaca algumas estratégias de manejo que podem minimizar os impactos da estiagem na soja. Veja abaixo cada fator que pode ser manejado pelo produtor: – solo: construção de perfil do solo com adequada fertilidade química, física e biológica, observando os fundamentos do Sistema Plantio Direto. O perfil do solo sem restrições físicas e/ou químicas significativas permite o crescimento vigoroso do sistema radicular da soja, acessando água em profundidade. As raízes de soja podem crescer até 2 m de profundidade, ampliando a lâmina de água do solo utilizada pela cultura, comparativamente às raízes confinadas somente na camada superficial. Alguns indicadores podem ser utilizados para caracterizar um solo que permite elevado crescimento de raízes de soja, tais como: ausência de alumínio tóxico e alto teor de cálcio até 40 cm de profundidade; elevada saturação por bases; utilização de sistemas diversificados, com espécies de elevado crescimento radicular, como por exemplo, braquiárias, milheto, capim sudão, aveias e triticale, que permitem a formação de bioporos estáveis, fundamentais para a infiltração de água, trocas gasosas e formação de canais preferenciais para o crescimento das raízes de soja; reduzida mobilização do solo; e semeadura da soja em solo com alta percentagem de cobertura com palha. – cultivares: No mercado há cultivares de soja com melhor resposta em ambiente com deficiência hídrica. Mesmo que algumas cultivares não apresentem os maiores rendimentos em ambientes de alto potencial produtivo, podem se mostrar superiores em condição de seca, conferindo estabilidade produtiva. Em geral, as cultivares mais tolerantes à seca apresentam raízes vigorosas e com elevada sanidade. – população de plantas: utilizar população de plantas na faixa indicada pelos obtentores das cultivares. A utilização de populações abaixo do indicado reduz a capacidade da cultura fechar as entrelinhas, principalmente em condições de deficiência hídrica na fase vegetativa, reduzindo a capacidade de utilização de luz e nutrientes, além de aumentar as perdas de água do solo diretamente para a atmosfera (evaporação). Por outro lado, o excesso de plantas pode provocar formação de índice de área foliar além do ideal, aumentando a utilização de água para manter a transpiração, o que pode comprometer a produtividade da lavoura, sobretudo quando o déficit hídrico ocorre na fase reprodutiva da cultura. – irrigação: para produtores que dispõe de reservatórios de água e condições para implantar o sistema de irrigação, é fundamental dimensionar o volume de água a ser reservada para utilização nos momentos de carência de chuva. O Rio Grande do Sul, por exemplo, tem elevado potencial de resposta produtiva da soja frente à irrigação, uma vez que, em muitas situações, o fator limitante é somente a água, com boas condições de solo, radiação e temperatura. Observar as boas práticas de irrigação é importante para redução de custos e aumento da eficiência do uso da água. – ZARC: a semeadura da soja deve ser orientada pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O ZARC é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. Seguir o ZARC é uma estratégia para reduzir perdas em condições adversas que se repetem ao longo dos anos. Veja algumas orientações do pesquisador Alvadi Balbinot assistindo o vídeo:

Neste verão, a cultura da soja tem enfrentado déficit hídrico em diversas regiões do Brasil, com perdas já confirmadas no Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de soja no País. A irregularidade das chuvas é comum em anos de La Niña, mas algumas estratégias de manejo podem reduzir os impactos da estiagem na soja.

O déficit hídrico tem sido a principal causa de quebras nas safras brasileiras de soja e demais cultivos de verão, com maior impacto no sul do Brasil. Somente no Rio Grande do Sul, a FARSUL estima que 34,4 milhões de toneladas de grãos de soja deixaram de ser colhidos nos últimos cinco anos.

Segundo o Informativo Conjuntural da Emater/RS, as regiões mais afetadas pela seca no momento estão no Centro-Oeste do Rio Grande do Sul, onde as lavouras de soja semeadas no início do período recomendado estão com plantas de reduzido porte, desfolha acentuada e perdas produtivas irreversíveis. As lavouras implantadas em dezembro estão em plena floração e início da formação das vagens, com emissão de folhas e ramos limitada. A produtividade tende a ser insatisfatória, já que muitas plantas possuem porte reduzido (de 20 a 30 cm) e estão em plena fase reprodutiva (55% das lavouras está em fase de enchimento de grãos).

Nesta safra, o Rio Grande do Sul enfrenta o terceiro ano de estiagem no verão. Na safra 2021/22, os rendimentos da soja caíram para 1.400 kg/ha, e em 2022/23 a quebra foi de 30% na safra (Emater/RS), com média de rendimentos em 1.980 kg/ha (dados da CONAB). “Mesmo na safra 2023/24, quando o RS registrou uma boa quantidade de chuvas, os resultados em muitas lavouras gaúchas ficaram abaixo dos 3 mil kg/ha”, avalia o agrometeorologista da Embrapa Trigo Gilberto Cunha, reconhecendo que nesta safra a tendência é de perdas relacionadas à estiagem se repetirem no Estado. “A partir do início de janeiro até agora, as chuvas têm sido irregulares e muitas vezes localizadas, podendo ser percebidas diferenças nos padrões das plantas de lavouras próximas na mesma região”, lembra Cunha. Segundo ele, o produtor precisa se adaptar a este novo cenário de variabilidade climática, onde a irregularidade na distribuição de chuvas parece se consolidar cada vez mais. “O produtor precisa adotar estratégias de manejo de cultivos mais resilientes e não abrir mão da adesão de algum instrumento de seguridade rural”.

No Mato Grosso do Sul, as últimas duas safras foram desafiadoras para os produtores rurais devido às condições climáticas que impactaram significativamente no potencial produtivo (Famasul). Nesta safra, segundo o Informativo Siga/MS, o estresse hídrico afeta 46% da área total com soja, sendo que as lavouras mais atingidas são aquelas implantadas entre setembro e meados de outubro. Entre dezembro e janeiro, houve uma redução drástica nas precipitações, especialmente em janeiro, um mês crucial para a cultura da soja no estado, pois geralmente concentra o período de enchimento de grãos.

Também nos estados do Paraná e em Santa Catarina o risco de prejuízos localizados ainda não está descartado na safra de verão. Conforme o último relatório do Deral/PR, 68% da soja ainda está em fase de maturação, mas onde a colheita já começou os rendimentos estão bem variados devido às chuvas irregulares durante o ciclo da cultura, sendo que as lavouras plantadas mais cedo sofreram mais com os efeitos da estiagem. Em Santa Catarina também há grande variação na situação das lavouras onde a colheita está começando (11% da área), em função das chuvas irregulares e as temperaturas elevadas, com algumas lavouras produzindo abaixo do esperado, enquanto outras superam as expectativas. Conforme o boletim da Epagri/SC, a safra apresenta variações a aponta sinais de redução na produção em relação à estimativa inicial.

Estratégias para minimizar perdas

O pesquisador da Embrapa Trigo Alvadi Balbinot destaca algumas estratégias de manejo que podem minimizar os impactos da estiagem na soja. Veja abaixo cada fator que pode ser manejado pelo produtor:

solo: construção de perfil do solo com adequada fertilidade química, física e biológica, observando os fundamentos do Sistema Plantio Direto. O perfil do solo sem restrições físicas e/ou químicas significativas permite o crescimento vigoroso do sistema radicular da soja, acessando água em profundidade. As raízes de soja podem crescer até 2 m de profundidade, ampliando a lâmina de água do solo utilizada pela cultura, comparativamente às raízes confinadas somente na camada superficial. Alguns indicadores podem ser utilizados para caracterizar um solo que permite elevado crescimento de raízes de soja, tais como: ausência de alumínio tóxico e alto teor de cálcio até 40 cm de profundidade; elevada saturação por bases; utilização de sistemas diversificados, com espécies de elevado crescimento radicular, como por exemplo, braquiárias, milheto, capim sudão, aveias e triticale, que permitem a formação de bioporos estáveis, fundamentais para a infiltração de água, trocas gasosas e formação de canais preferenciais para o crescimento das raízes de soja; reduzida mobilização do solo; e semeadura da soja em solo com alta percentagem de cobertura com palha.

cultivares: No mercado há cultivares de soja com melhor resposta em ambiente com deficiência hídrica. Mesmo que algumas cultivares não apresentem os maiores rendimentos em ambientes de alto potencial produtivo, podem se mostrar superiores em condição de seca, conferindo estabilidade produtiva. Em geral, as cultivares mais tolerantes à seca apresentam raízes vigorosas e com elevada sanidade.

população de plantas: utilizar população de plantas na faixa indicada pelos obtentores das cultivares. A utilização de populações abaixo do indicado reduz a capacidade da cultura fechar as entrelinhas, principalmente em condições de deficiência hídrica na fase vegetativa, reduzindo a capacidade de utilização de luz e nutrientes, além de aumentar as perdas de água do solo diretamente para a atmosfera (evaporação). Por outro lado, o excesso de plantas pode provocar formação de índice de área foliar além do ideal, aumentando a utilização de água para manter a transpiração, o que pode comprometer a produtividade da lavoura, sobretudo quando o déficit hídrico ocorre na fase reprodutiva da cultura.

irrigação: para produtores que dispõe de reservatórios de água e condições para implantar o sistema de irrigação, é fundamental dimensionar o volume de água a ser reservada para utilização nos momentos de carência de chuva. O Rio Grande do Sul, por exemplo, tem elevado potencial de resposta produtiva da soja frente à irrigação, uma vez que, em muitas situações, o fator limitante é somente a água, com boas condições de solo, radiação e temperatura. Observar as boas práticas de irrigação é importante para redução de custos e aumento da eficiência do uso da água.

ZARC: a semeadura da soja deve ser orientada pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O ZARC é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. Seguir o ZARC é uma estratégia para reduzir perdas em condições adversas que se repetem ao longo dos anos.

Veja algumas orientações do pesquisador Alvadi Balbinot assistindo o vídeo:

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