Açaí de qualidade e seguro foi o foco da discussão entre Ministério Público do Pará (MPPA) e representantes de instituições de pesquisa, extensão rural, do segmento produtivo e agentes públicos das áreas de saúde e agropecuária, realizada nessa quinta-feira (5/12), na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém. A reunião abordou as ações e programas de órgãos públicos para combater a doença de Chagas no Estado e internalizar as boas práticas de processamento do açaí, e confirmou a atuação conjunta de instituições na promoção da segurança alimentar da população paraense.
Gestores e equipes técnicas de três Unidades da Embrapa (Amazônia Oriental, Agroindústria de Alimentos e Recursos Genéticos e Biotecnologia) participaram da reunião. De acordo com o chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, o debate permitiu o conhecimento das ações e programas de outras instituições, a reflexão em torno dos problemas da cadeia de valor do açaí e a identificação de oportunidades para o desenvolvimento de inovações. “Foi possível captar possibilidades de contribuições concretas da Embrapa para essa cadeia tão importante para o Estado e para o Brasil, seja em ações de transferência de tecnologias e conhecimentos já existentes, como também na geração de inovações, por exemplo protocolos rápidos de qualidade do açaí”, pontuou o gestor.
A promotora de justiça Érica Almeida, coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nucon), do MPPA, apresentou alguns resultados das ações do grupo de trabalho (GT) sobre Segurança Alimentar, liderado pelo Ministério Público, criado para o combate e prevenção da doença de Chagas. Nos últimos dois anos, o órgão realizou reuniões, capacitações e fiscalizações em sete municípios do Pará em parceria com a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), através da Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), prefeituras locais e outras instituições estaduais e municipais que compõem o GT. O supervisor do núcleo da Embrapa no Marajó, Augusto César Andrade, é o representante da instituição de pesquisa no grupo de trabalho.
Atuação conjunta
Segundo dados da Sespa, de janeiro a novembro deste ano foram notificados 350 casos da doença de Chagas no Pará, o que representa uma queda de cerca de 20% em relação ao ano anterior (518 casos em 2023). “A gente conseguiu esses resultados graças à união e ao trabalho conjunto de diversas instituições. E a reunião de hoje é mais um reflexo do alcance dessas ações”, afirmou a promotora. Por outro lado, o número de batedores artesanais cadastrados e licenciados pelos órgãos públicos ainda está muito aquém da realidade do estado. Estima-se que em Belém estejam cerca de 8 mil batedores durante o período de safra (segundo semestre).
Para Joniel Abreu, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater Pará), os dados apresentados pelos órgãos de saúde evidenciam a necessidade da atuação conjunta de diversas instituições. “Não há como trabalhar de forma isolada. É preciso haver o interesse público de forma conjunta que avance para política pública mais robusta”, afirmou.
As atividades e os resultados previstos de dois projetos da Embrapa, que têm atuação no Marajó com cadeias de valor da sociobiodiversidade, também foram apresentados na reunião. O pesquisador Anderson Servilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, apresentou o projeto Bem Diverso/Sustenta e Inova, e a pesquisadora Renata Borguini, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, apresentou suas atividades no projeto Bioeconomia Inclusiva na Amazônia, que envolvem processamento e consumo sustentáveis de castanha-da-amazônia, cupuaçu e açaí.
Mão de obra qualificada
Eron Amaral Rocha é manipulador artesanal de açaí desde 1994 e conta que já participou de diversos cursos e capacitações de boas práticas de processamento do fruto. Ele é um dos batedores licenciados pela Vigilância Sanitária para operar no ramo e membro da Casa do Açaí de Belém, espaço criado em 2015 que fornece apoio aos manipuladores de açaí, disponibilizando cursos de capacitação, palestras, orientações, dentre outros serviços.
Para Eron, a mão de obra qualificada é um dos principais desafios da atividade. “A gente processa diariamente em torno de 20 latas de açaí (o equivalente a 280 kilos de frutos) e aumenta nos finais de semana. Não podemos pular etapas na manipulação do fruto, isso traz riscos ao consumidor e encontrar mão de obra qualificada e compromissada é difícil”, afirma. Ele e a família fazem a gestão do ponto de açaí localizado em Belém.
“O envolvimento do Ministério Público é muito importante e espero que o que foi discutido aqui tenha continuidade. Isso tudo só trará benefícios para batedores, profissionais da área alimentar e consumidores. Eu saio daqui bem animado”, finaliza Eron.