A Embrapa Territorial traçou o retrato das famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do município de Campinas: 88% são chefiadas por mulheres com baixíssima escolaridade e 70% das famílias ganham menos de R$ 200,00 mensais. Nessa circunstância econômica desfavorável, as famílias têm menor probabilidade de terem recursos ou resiliência para lidar com impactos negativos, como os ligados à pandemia de Covid-19, e maior probabilidade de viver em moradias com estruturas ineficientes. A amostra analisada consiste em famílias (64.197) acompanhadas pelas políticas públicas da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos da Prefeitura de Campinas (dados de março/2021), portanto, não representa a totalidade dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social no município paulista. A insegurança alimentar é um dos problemas enfrentados pelas famílias de baixa renda de Campinas. Considerando a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (março/2021), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os recursos financeiros dessas famílias permitem a aquisição de somente 20% de uma cesta básica de alimentos comercializada no estado de São Paulo. Para o agravamento desse quadro, o índice de preços das commodities agrícolas, segundo o Banco Mundial, em julho de 2021 era aproximadamente 30% maior do que em janeiro de 2020. Os preços do milho, trigo e arroz estavam, respectivamente, cerca de 43%, 12% e 10% acima de seus níveis de janeiro de 2020. Na opinião do pesquisador André Furtado, os preços em alta refletem a forte demanda, juntamente com as incertezas climáticas, as condições macroeconômicas e as interrupções no fornecimento relacionadas ao COVID-19. “O aumento dos preços dos alimentos no varejo tem um impacto maior sobre as pessoas em países de baixa e média renda, uma vez que gastam uma parcela maior de sua renda em alimentos. Preços de varejo mais altos, combinados com rendas reduzidas, significam que mais famílias estão tendo que reduzir a quantidade e qualidade de seu consumo de alimentos”, comenta Furtado, um dos autores do estudo da Embrapa Territorial. Essa redução do consumo impacta também nas atividades rurais, o que demonstra, de acordo com Furtado, a integração entre o que ocorre no campo e a cidade. “Isso significa que há uma relação direta entre as atividades de pesquisa da Embrapa e estudos relacionados às condições das famílias de baixa renda urbanas ou não. Optamos pelo estudo das famílias de baixa renda urbanas pois, no caso de Campinas, elas representavam mais que 90% do conjunto”, explica o pesquisador. Aspectos das moradias Um item que reflete as condições sociais e econômicas das famílias é o da habitabilidade das moradias, ou seja, suas características físicas e de acesso à infraestrutura urbana básica. O estudo aponta que mais de 16 mil responsáveis familiares em idade economicamente ativa (cerca de 25% da amostra) contam com casas sem revestimento nas paredes, nos pisos, sem calçamento e iluminação elétrica com medidor comunitário ou sem medidor. “Essas características indicam a persistência de precariedades na habitabilidade desses domicílios, a despeito dos esforços de ampliação da infraestrutura urbana básica”, concluem os autores. No entanto, o estudo também assinalou a existência de indicadores positivos: 96% dos responsáveis familiares indicaram que a moradia é particular e permanente; 98% das moradias são feitas de alvenaria; e 73% das famílias residem em moradias com piso de cerâmica. Os autores do estudo lamentam que as variáveis do CadÚnico não fornecem informações consistentes sobre o custo financeiro do imóvel em que a família reside, sobre o tempo de deslocamento casa–trabalho ou sobre as condições sociais e culturais da localidade em que o domicílio está inserido. O que poderia enriquecer as análises. “O maior problema que detectamos para prosseguirmos o estudo é a qualidade dos dados obtidos no momento da declaração. Apresentamos um relatório a Prefeitura Municipal de Campinas propondo algumas medidas para aumentar a confiabilidade das informações constantes do CadÚnico”, declara Furtado. Para o pesquisador, a adoção de alguns procedimentos que melhore a qualidade dos dados do CadÚnico é necessária para que se possa realizar análises mais confiáveis e que permitam no futuro a implantação de políticas para aprimorar programas de transferência de renda e reduzir a desigualdade social no município. Além do pesquisador André Luiz dos Santos Furtado, são autores do estudo o estagiário da Embrapa Territorial, Matheus Ribeiro, e a professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Stela Cristina de Godoi. Leia mais sobre o estudo “Análise das condições de moradia das famílias de baixa renda do município de Campinas (SP)”.
A Embrapa Territorial traçou o retrato das famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do município de Campinas: 88% são chefiadas por mulheres com baixíssima escolaridade e 70% das famílias ganham menos de R$ 200,00 mensais. Nessa circunstância econômica desfavorável, as famílias têm menor probabilidade de terem recursos ou resiliência para lidar com impactos negativos, como os ligados à pandemia de Covid-19, e maior probabilidade de viver em moradias com estruturas ineficientes.
A amostra analisada consiste em famílias (64.197) acompanhadas pelas políticas públicas da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos da Prefeitura de Campinas (dados de março/2021), portanto, não representa a totalidade dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social no município paulista.
A insegurança alimentar é um dos problemas enfrentados pelas famílias de baixa renda de Campinas. Considerando a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (março/2021), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os recursos financeiros dessas famílias permitem a aquisição de somente 20% de uma cesta básica de alimentos comercializada no estado de São Paulo.
Para o agravamento desse quadro, o índice de preços das commodities agrícolas, segundo o Banco Mundial, em julho de 2021 era aproximadamente 30% maior do que em janeiro de 2020. Os preços do milho, trigo e arroz estavam, respectivamente, cerca de 43%, 12% e 10% acima de seus níveis de janeiro de 2020. Na opinião do pesquisador André Furtado, os preços em alta refletem a forte demanda, juntamente com as incertezas climáticas, as condições macroeconômicas e as interrupções no fornecimento relacionadas ao COVID-19.
“O aumento dos preços dos alimentos no varejo tem um impacto maior sobre as pessoas em países de baixa e média renda, uma vez que gastam uma parcela maior de sua renda em alimentos. Preços de varejo mais altos, combinados com rendas reduzidas, significam que mais famílias estão tendo que reduzir a quantidade e qualidade de seu consumo de alimentos”, comenta Furtado, um dos autores do estudo da Embrapa Territorial.
Essa redução do consumo impacta também nas atividades rurais, o que demonstra, de acordo com Furtado, a integração entre o que ocorre no campo e a cidade. “Isso significa que há uma relação direta entre as atividades de pesquisa da Embrapa e estudos relacionados às condições das famílias de baixa renda urbanas ou não. Optamos pelo estudo das famílias de baixa renda urbanas pois, no caso de Campinas, elas representavam mais que 90% do conjunto”, explica o pesquisador.
Aspectos das moradias
Um item que reflete as condições sociais e econômicas das famílias é o da habitabilidade das moradias, ou seja, suas características físicas e de acesso à infraestrutura urbana básica. O estudo aponta que mais de 16 mil responsáveis familiares em idade economicamente ativa (cerca de 25% da amostra) contam com casas sem revestimento nas paredes, nos pisos, sem calçamento e iluminação elétrica com medidor comunitário ou sem medidor.
“Essas características indicam a persistência de precariedades na habitabilidade desses domicílios, a despeito dos esforços de ampliação da infraestrutura urbana básica”, concluem os autores.
No entanto, o estudo também assinalou a existência de indicadores positivos: 96% dos responsáveis familiares indicaram que a moradia é particular e permanente; 98% das moradias são feitas de alvenaria; e 73% das famílias residem em moradias com piso de cerâmica.
Os autores do estudo lamentam que as variáveis do CadÚnico não fornecem informações consistentes sobre o custo financeiro do imóvel em que a família reside, sobre o tempo de deslocamento casa–trabalho ou sobre as condições sociais e culturais da localidade em que o domicílio está inserido. O que poderia enriquecer as análises.
“O maior problema que detectamos para prosseguirmos o estudo é a qualidade dos dados obtidos no momento da declaração. Apresentamos um relatório a Prefeitura Municipal de Campinas propondo algumas medidas para aumentar a confiabilidade das informações constantes do CadÚnico”, declara Furtado.
Para o pesquisador, a adoção de alguns procedimentos que melhore a qualidade dos dados do CadÚnico é necessária para que se possa realizar análises mais confiáveis e que permitam no futuro a implantação de políticas para aprimorar programas de transferência de renda e reduzir a desigualdade social no município.
Além do pesquisador André Luiz dos Santos Furtado, são autores do estudo o estagiário da Embrapa Territorial, Matheus Ribeiro, e a professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Stela Cristina de Godoi.
Leia mais sobre o estudo “Análise das condições de moradia das famílias de baixa renda do município de Campinas (SP)”.