Estudo investigou se o uso do nanomaterial no ambiente materno pode afetar a saúde da mãe ou da prole Todos os anos, milhares de toneladas de alimentos já embalados são perdidos no mundo, devido à deterioração do produto ocasionada por contaminação microbiana. Uma possível abordagem para minimizar esse problema é a utilização de embalagens microbicidas contendo aditivos de prata. Atualmente há um interesse crescente da indústria de embalagens, quanto a utilização de nanopartículas de prata (NPs Ag), por causa de suas propriedades antimicrobianas. Devido ao amplo uso dessas nanopartículas, foi realizado um estudo por cientistas da Embrapa com a pós graduanda Aline Becaro da Universidade Federal de São Carlos – UFsCar, investigando se o uso delas em embalagens de alimentos pode apresentar alguma interferência na reprodução. O estudo contou ainda com a colaboração da Universidade Federal de São Paulo. Os pesquisadores da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP) Marcos David e Daniel Corrêa explicam que embalagens de alimentos contendo prata apresentam-se como uma solução para ajudar na diminuição das perdas, uma vez que os sistemas de embalagem ativas promovem melhor qualidade ou estabilidade dos produtos. A eficácia inibitória microbiana de embalagens contendo nanomateriais é determinada pelo contato do agente antimicrobiano contido na superfície da embalagem com as bactérias. Também, alguns estudos mostram que ocorre a migração de prata (como nanopartícula ou forma iônica), de embalagens e recipientes de alimentos para os alimentos. Contudo, as questões relativas à saúde e segurança da utilização destes nanomateriais não estão totalmente estabelecidas, especialmente durante o período de desenvolvimento embriofetal. Em consequência, os pesquisadores acreditam que é importante avaliar se o nível de migração do nanomaterial da embalagem para o alimento pode causar prejuízo aos organismos. Eles pretenderam então verificar a ocorrência de possíveis efeitos tóxicos devido a ingestão de baixas concentrações de AgNP, representando a ingestão de AgNPs devido à sua migração da embalagem para o alimento. Estudo avaliou interferência na reprodução Na literatura científica há muitos estudos que avaliaram os efeitos adversos causados por nanopartículas de prata. Alguns desses trabalhos evidenciaram implicações na geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) e no controle hormonal dos processos reprodutivos e alguns desses estudos sugeriram que algumas dessas nanopartículas possam atravessar a placenta. Estes dados levaram a realização do trabalho que buscou estudar a eventual toxicidade dessas nanopartículas em organismos-teste no período perinatal. Assim, os cientistas, estudaram os efeitos da exposição pré-natal de nanopartículas de prata sobre os possíveis efeitos e consequências na prenhez de ratas Wistar e no desenvolvimento pós-natal da prole. As ratas foram expostas às nanopartículas de prata durante a gestação em diferentes concentrações que estão em conformidade com a quantidade que pode migrar da embalagem para os alimentos após certo período. Foram avaliados a duração da gestação, tamanho da ninhada no nascimento, número de filhotes natimortos e número de filhotes mortos durante o período de lactação, peso do embrião além do ganho médio de peso corporal das mães durante o período gestacional. Conforme explica Humberto Brandão, pesquisador da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), os dados do estudo não mostraram efeito sobre a duração da gestação, tamanho da ninhada ao nascimento e número de natimortos. Também não foi detectado acúmulo de prata em órgãos, como fígado e intestinos. Já a pesquisadora Luzia Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo, explica que os parâmetros de desenvolvimento físico avaliados nos filhotes, como o desenvolvimento do pelo, erupção dos dentes incisivos, abertura das orelhas e abertura dos olhos, em geral não foram afetados. Contudo, os resultados do estudo também indicaram que a exposição materna às nanopartículas pode induzir alterações nos parâmetros reprodutivos da prole, como descida dos testículos e abertura vaginal, mesmo em concentrações que não causam mudanças em outros parâmetros de desenvolvimento dos filhotes e na reprodução materna. Segundo os autores, isso ocorre porque, embora os marcos da maturação sexual estejam dentro dos parâmetros fisiológicos da espécie, foi verificado um pequeno atraso na apresentação destes parâmetros nos filhotes de ratas expostas as nanopartículas de prata, em comparação aos indivíduos do grupo controle. O atraso sutil no sinal da puberdade sugere cautela com relação à exposição às nanopartículas de prata durante a gravidez. Conforme destacou a pesquisadora Vera Castro, da Embrapa Meio Ambiente, apesar de nanopartículas de prata serem uma boa solução para a conservação de alimentos, quando presentes nas embalagens, ainda se faz necessária um maior aprofundamento acerca das possíveis consequências da exposição humana a esses materiais, com o objetivo de avaliar mais claramente as doses de exposição segura a estas nanopartículas. A prata como agente bactericida Na Grécia antiga, havia o hábito de se colocar uma colher de prata no vaso com água de beber, como forma de elemento sanitizante. Sais de prata têm sido utilizados por séculos como agentes antimicrobianos na medicina e o seu uso diminuiu com a introdução de antibióticos, como a partir da invenção da penicilina, que fez com que o uso da prata diminuísse consideravelmente. Contudo, com o aumento de casos envolvendo resistência a antibióticos, os compostos de prata têm ganhado mais espaço. Atualmente com o avanço da nanotecnologia, as propriedades antimicrobianas dos sais de prata também chegaram às embalagens de alimentos, em forma de aditivos nanoparticulados. Como funciona Os metais e óxidos metálicos, dentre estes a prata, liberam íons que ao entrar em contato com a célula, superficialmente ou no seu interior, acarretam alterações funcionais e estruturais importantes, capazes de causar a morte celular. Nesse universo, as nanopartículas de prata, são uma das mais eficazes por se ligarem a diferentes materiais como os que compõem as embalagens. O trabalho está disponível aqui, de Aline Becaro, Maria Siqueira, Daniel Correa e Marcos David Ferreira, do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Embrapa Instrumentação, Luzia de Oliveira, Universidade Federal de São Paulo, Vera Castro, Embrapa Meio Ambiente e Humberto Brandao, Embrapa Gado de Leite.
Estudo investigou se o uso do nanomaterial no ambiente materno pode afetar a saúde da mãe ou da prole
Todos os anos, milhares de toneladas de alimentos já embalados são perdidos no mundo, devido à deterioração do produto ocasionada por contaminação microbiana. Uma possível abordagem para minimizar esse problema é a utilização de embalagens microbicidas contendo aditivos de prata. Atualmente há um interesse crescente da indústria de embalagens, quanto a utilização de nanopartículas de prata (NPs Ag), por causa de suas propriedades antimicrobianas.
Devido ao amplo uso dessas nanopartículas, foi realizado um estudo por cientistas da Embrapa com a pós graduanda Aline Becaro da Universidade Federal de São Carlos – UFsCar, investigando se o uso delas em embalagens de alimentos pode apresentar alguma interferência na reprodução. O estudo contou ainda com a colaboração da Universidade Federal de São Paulo.
Os pesquisadores da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP) Marcos David e Daniel Corrêa explicam que embalagens de alimentos contendo prata apresentam-se como uma solução para ajudar na diminuição das perdas, uma vez que os sistemas de embalagem ativas promovem melhor qualidade ou estabilidade dos produtos. A eficácia inibitória microbiana de embalagens contendo nanomateriais é determinada pelo contato do agente antimicrobiano contido na superfície da embalagem com as bactérias. Também, alguns estudos mostram que ocorre a migração de prata (como nanopartícula ou forma iônica), de embalagens e recipientes de alimentos para os alimentos.
Contudo, as questões relativas à saúde e segurança da utilização destes nanomateriais não estão totalmente estabelecidas, especialmente durante o período de desenvolvimento embriofetal. Em consequência, os pesquisadores acreditam que é importante avaliar se o nível de migração do nanomaterial da embalagem para o alimento pode causar prejuízo aos organismos. Eles pretenderam então verificar a ocorrência de possíveis efeitos tóxicos devido a ingestão de baixas concentrações de AgNP, representando a ingestão de AgNPs devido à sua migração da embalagem para o alimento.
Estudo avaliou interferência na reprodução
Na literatura científica há muitos estudos que avaliaram os efeitos adversos causados por nanopartículas de prata. Alguns desses trabalhos evidenciaram implicações na geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) e no controle hormonal dos processos reprodutivos e alguns desses estudos sugeriram que algumas dessas nanopartículas possam atravessar a placenta. Estes dados levaram a realização do trabalho que buscou estudar a eventual toxicidade dessas nanopartículas em organismos-teste no período perinatal.
Assim, os cientistas, estudaram os efeitos da exposição pré-natal de nanopartículas de prata sobre os possíveis efeitos e consequências na prenhez de ratas Wistar e no desenvolvimento pós-natal da prole. As ratas foram expostas às nanopartículas de prata durante a gestação em diferentes concentrações que estão em conformidade com a quantidade que pode migrar da embalagem para os alimentos após certo período.
Foram avaliados a duração da gestação, tamanho da ninhada no nascimento, número de filhotes natimortos e número de filhotes mortos durante o período de lactação, peso do embrião além do ganho médio de peso corporal das mães durante o período gestacional.
Conforme explica Humberto Brandão, pesquisador da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), os dados do estudo não mostraram efeito sobre a duração da gestação, tamanho da ninhada ao nascimento e número de natimortos. Também não foi detectado acúmulo de prata em órgãos, como fígado e intestinos.
Já a pesquisadora Luzia Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo, explica que os parâmetros de desenvolvimento físico avaliados nos filhotes, como o desenvolvimento do pelo, erupção dos dentes incisivos, abertura das orelhas e abertura dos olhos, em geral não foram afetados.
Contudo, os resultados do estudo também indicaram que a exposição materna às nanopartículas pode induzir alterações nos parâmetros reprodutivos da prole, como descida dos testículos e abertura vaginal, mesmo em concentrações que não causam mudanças em outros parâmetros de desenvolvimento dos filhotes e na reprodução materna. Segundo os autores, isso ocorre porque, embora os marcos da maturação sexual estejam dentro dos parâmetros fisiológicos da espécie, foi verificado um pequeno atraso na apresentação destes parâmetros nos filhotes de ratas expostas as nanopartículas de prata, em comparação aos indivíduos do grupo controle. O atraso sutil no sinal da puberdade sugere cautela com relação à exposição às nanopartículas de prata durante a gravidez.
Conforme destacou a pesquisadora Vera Castro, da Embrapa Meio Ambiente, apesar de nanopartículas de prata serem uma boa solução para a conservação de alimentos, quando presentes nas embalagens, ainda se faz necessária um maior aprofundamento acerca das possíveis consequências da exposição humana a esses materiais, com o objetivo de avaliar mais claramente as doses de exposição segura a estas nanopartículas.
A prata como agente bactericida
Na Grécia antiga, havia o hábito de se colocar uma colher de prata no vaso com água de beber, como forma de elemento sanitizante. Sais de prata têm sido utilizados por séculos como agentes antimicrobianos na medicina e o seu uso diminuiu com a introdução de antibióticos, como a partir da invenção da penicilina, que fez com que o uso da prata diminuísse consideravelmente. Contudo, com o aumento de casos
envolvendo resistência a antibióticos, os compostos de prata têm ganhado mais espaço. Atualmente com o avanço da nanotecnologia, as propriedades antimicrobianas dos sais de prata também chegaram às embalagens de alimentos, em forma de aditivos nanoparticulados.
Como funciona
Os metais e óxidos metálicos, dentre estes a prata, liberam íons que ao entrar em contato com a célula, superficialmente ou no seu interior, acarretam alterações funcionais e estruturais importantes, capazes de causar a morte celular. Nesse universo, as nanopartículas de prata, são uma das mais eficazes por se ligarem a diferentes materiais como os que compõem as embalagens.
O trabalho está disponível aqui, de Aline Becaro, Maria Siqueira, Daniel Correa e Marcos David Ferreira, do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Embrapa Instrumentação, Luzia de Oliveira, Universidade Federal de São Paulo, Vera Castro, Embrapa Meio Ambiente e Humberto Brandao, Embrapa Gado de Leite.