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Agricultura familiar no DF se reinventou durante pandemia, diz estudo da Embrapa

Em artigo publicado na Revista Política Agrícola, pesquisadoras da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas afirmam que o uso de redes sociais para divulgação dos produtos da agricultura familiar, sistema delivery e CSA contribuíram para reduzir as perdas sofridas pelos agricultores A pandemia do coronavírus trouxe uma crise sem precedentes com capacidade de mudar fortemente cenários e alterar de maneira significativa as formas de produção, comercialização e de distribuição de alimentos. Estudos realizados com o objetivo de mensurar e projetar os impactos já causados pela pandemia mostram que a agricultura familiar foi impactada em múltiplas dimensões. A crise social causada pelo coronavírus resultou em mudanças abruptas e imprevisíveis também para agricultura familiar no Distrito Federal, mas as associações e cooperativas que representam os pequenos agricultores apontam que o setor conseguiu se reorganizou rapidamente para reduzir as perdas e desenvolver alternativas de comercialização. A constatação faz parte do recém lançado estudo da Embrapa realizado pelas pesquisadoras Virgínia Gomes de Caldas Nogueira e Maria Quitéria dos Santos Marcelino, da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire). Intitulado “Covid-19 : Impactos e estratégias para a comercialização de alimentos da agricultura familiar no DF”, o estudo foi publicado na forma de artigo na edição 01 de 2021 da Revista Política Agrícola, coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os dados para obtenção dos resultados da pesquisa foram coletados em entrevistas semiestruturadas com presidentes e gestores de 17 associações e cooperativas agrícolas do DF e Entorno. Apesar do prejuízo, associações e cooperativas desenvolveram estratégias de comercialização e intensificaram canais de distribuição de alimentos a partir do impacto que sofreram com a pandemia da Covid-19. De acordo com as autoras Virgínia Nogueira e Maria Quitéria Marcelino, os impactos econômicos dos agricultores se deram em decorrência da suspensão inicial das feiras livres e do fechamento dos restaurantes, somados à suspensão temporária dos programas de governo, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), em meados de março de 2020, por causa da interrupção das aulas nas escolas públicas. O Distrito Federal foi a primeira unidade federativa a suspender as aulas das redes pública e privada. “É indiscutível a importância de tais pro gramas de governo tanto para os alunos da educação básica quanto para agricultores familiares. Também é evidente que, durante a pandemia, o fortalecimento desses programas é uma alternativa ágil e eficaz para produtores rurais da agricultura familiar e para os que se beneficiam deles”, afirmam as autoras. Porém, o estudo apontou que com a interrupção das aulas da rede pública, por causa da Covid-19, os editais para renovação da contratação de compra dos alimentos da agricultura familiar para abastecer as escolas foram temporariamente suspensos. Alternativas para o escoamento da produção no DF O estudo concluiu que a vinculação dos produtores da agricultura familiar a associações e cooperativas fortaleceu os envolvidos na busca de estratégias criativas para o escoamento da produção. Segundo informações fornecidas pelos presidentes das associações e cooperativas do DF, a entrega direta ao consumidor (delivery), criação de páginas no Facebook e Instagram, o uso do aplicativo Whatsapp e a participação das Associações na Vitrine da Agricultura Familiar do DF foram determinantes para reduzir as perdas de comercialização. Destaca-se, ainda, a intensificação do sistema Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), modalidade de comercialização que foi intensificada com a oferta de cestas de produtos como forma de escoar a produção. Uma CSA é uma parceria entre agricultores e consumidores, em que responsabilidades, riscos e benefícios são compartilhados, e os consumidores se tornam “coagricultores”. Mediante um valor mensal, os coagricultores recebem uma cesta semanal ou quinzenal de produtos agrícolas de uma CSA local. Atualmente o DF conta com Outro aspecto relevante é que as associações e cooperativas foram fundamentais no momento de crise para agregar os agricultores em busca de uma solução coletiva. A resposta rápida de muitas entidades – CNA/Senar, Conab, Emater, Contag, Contar, universidades federais e Embrapa – também foi bastante eficaz para auxiliar no enfrentamento das contingências. Prejuízos na pandemia O estudo apontou a ocorrência de prejuízos significativos entre as associações de produtores rurais com a pandemia da Covid-19, com sérios prejuízos financeiros e perdas de toneladas de alimentos e produção. “Mas apenas 25% dessas associações e cooperativas aguardaram os editais emergenciais para voltar a participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). As demais procuraram, como estratégias de comercialização, diversificar ou intensificar canais de distribuição de alimentos, como aumentar o escoamento da produção para pequenos mercados e supermercados locais ou aumentar a oferta para os consumidores finais”, observam as autoras. “Com a pandemia, a associação percebeu mais claramente que o cooperativismo é essencial para sua comunidade. Diante de uma situação atípica e difícil, ela manteve a união de todos os produtores e possibilitou o escoamento da produção e de uma maior variedade de produtos”, concluiu o estudo. De acordo com as autoras, a partir dos relatos dos presidentes das associações e cooperativas, pode-se enumerar possíveis ações futuras para ampliar a capacidade produtiva da agricultura familiar, não apenas em momentos emergenciais, entre elas: realizar investimentos para melhorar a infraestrutura rural (estradas, energia elétrica e acesso à Internet); publicar editais específicos e direcionados para a produção orgânica; melhorar a orientação técnica e financeira ao produtor, para facilitar o acesso ao crédito; e desenvolver ações e programas que favoreçam a inclusão digital do agricultor familiar. “Contudo, ficou evidente que políticas públicas específicas, como o PAA e o Pnae, foram, neste contexto de pandemia, essenciais tanto para manter a produção e renda do agricultor familiar e evitar perdas quanto para garantir a oferta de alimentos à população de forte fragilidade socioeconômica, como os alunos da rede escolar e suas famílias – editais específicos para a agricultura orgânica ou agroecológica poderiam ter beneficiado mais agricultores. Este momento crítico deveria servir para que se aprimorem os programas dessa natureza, como forma de garantir a segurança alimentar da população brasileira, quem sabe, ampliando os programas”, finalizam as pesquisadoras da Embrapa. Acesse aqui o artigo completo Acesse aqui a primeira edição da Revista Política Agrícola do ano de 2021 Redação: Maria Clara Guaraldo Conteúdo técnico: Virgínia Gomes de Caldas Nogueira e Maria Quitéria dos Santos Marcelino

Em artigo publicado na Revista Política Agrícola, pesquisadoras da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas afirmam que o uso de redes sociais para divulgação dos produtos da agricultura familiar, sistema delivery e CSA contribuíram para reduzir as perdas sofridas pelos agricultores

A pandemia do coronavírus trouxe uma crise sem precedentes com capacidade de mudar fortemente cenários e alterar de maneira significativa as formas de produção, comercialização e de distribuição de alimentos. Estudos realizados com o objetivo de mensurar e projetar os impactos já causados pela pandemia mostram que a agricultura familiar foi impactada em múltiplas dimensões. A crise social causada pelo coronavírus resultou em mudanças abruptas e imprevisíveis também para agricultura familiar no Distrito Federal, mas as associações e cooperativas que representam os pequenos agricultores apontam que o setor conseguiu se reorganizou rapidamente para reduzir as perdas e desenvolver alternativas de comercialização.

A constatação faz parte do recém lançado estudo da Embrapa realizado pelas pesquisadoras Virgínia Gomes de Caldas Nogueira e Maria Quitéria dos Santos Marcelino, da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire). Intitulado “Covid-19 : Impactos e estratégias para a comercialização de alimentos da agricultura familiar no DF”, o estudo foi publicado na forma de artigo na edição 01 de  2021 da Revista Política Agrícola, coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Os dados para obtenção dos resultados da pesquisa foram coletados em entrevistas semiestruturadas com presidentes e gestores de 17 associações e cooperativas agrícolas do DF e Entorno.  Apesar do prejuízo, associações e cooperativas desenvolveram estratégias de comercialização e intensificaram canais de distribuição de alimentos a partir do impacto que sofreram com a pandemia da Covid-19.

De acordo com as autoras Virgínia Nogueira e Maria Quitéria Marcelino, os impactos econômicos dos agricultores se deram em decorrência da suspensão inicial das feiras livres e do fechamento dos restaurantes, somados à suspensão temporária dos programas de  governo, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA),  em meados de  março de 2020, por causa da interrupção das aulas nas escolas públicas. O Distrito Federal foi a primeira unidade federativa a suspender as aulas das redes pública e privada.

“É indiscutível a importância de tais pro gramas de governo tanto para os alunos da educação básica quanto para agricultores familiares. Também é evidente que, durante a pandemia, o fortalecimento desses programas é uma alternativa ágil e eficaz para produtores rurais da agricultura familiar e para os que se beneficiam deles”, afirmam as autoras.

Porém, o estudo apontou que com a interrupção das aulas da rede pública, por causa da Covid-19, os editais para renovação da contratação de compra dos alimentos da agricultura familiar para abastecer as escolas foram temporariamente suspensos.

Alternativas para o escoamento da produção no DF

O estudo concluiu que a vinculação dos produtores da agricultura familiar a associações e cooperativas fortaleceu os envolvidos na busca de estratégias criativas para o escoamento da produção. Segundo informações fornecidas pelos presidentes das associações e cooperativas do DF, a entrega direta ao consumidor (delivery), criação de páginas no Facebook e Instagram, o uso do aplicativo Whatsapp e a participação das Associações na Vitrine da Agricultura Familiar do DF foram determinantes para reduzir as perdas de comercialização. Destaca-se, ainda, a intensificação do sistema Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), modalidade de comercialização que foi intensificada com a oferta de cestas de produtos como forma de escoar a produção.

Uma CSA é uma parceria entre agricultores e consumidores, em que responsabilidades, riscos e benefícios são compartilhados, e os consumidores se tornam “coagricultores”. Mediante um valor mensal, os coagricultores recebem uma cesta semanal ou quinzenal de produtos agrícolas de uma CSA local. Atualmente o DF conta com

Outro aspecto relevante é que as associações e cooperativas foram fundamentais no momento de crise para agregar os agricultores em busca de uma solução coletiva. A resposta rápida de muitas entidades – CNA/Senar, Conab, Emater, Contag, Contar, universidades federais e Embrapa – também foi bastante eficaz para auxiliar no enfrentamento das contingências.

Prejuízos na pandemia

O estudo apontou a ocorrência de prejuízos significativos entre as associações de produtores rurais com a pandemia da Covid-19, com sérios prejuízos financeiros e perdas de toneladas de alimentos e produção. “Mas apenas 25% dessas associações e cooperativas aguardaram os editais emergenciais para voltar a participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). As demais procuraram, como estratégias de comercialização, diversificar ou intensificar canais de distribuição de alimentos, como aumentar o escoamento da produção para pequenos mercados e supermercados locais ou aumentar a oferta para os consumidores finais”, observam as autoras.

“Com a pandemia, a associação percebeu mais claramente que o cooperativismo é essencial para sua comunidade. Diante de uma situação atípica e difícil, ela manteve a união de todos os produtores e possibilitou o escoamento da produção e de uma maior variedade de produtos”, concluiu o estudo.

De acordo com as autoras, a partir dos relatos dos presidentes das associações e cooperativas, pode-se enumerar possíveis ações futuras para ampliar a capacidade produtiva da agricultura familiar, não apenas em momentos emergenciais, entre elas: realizar investimentos para melhorar a infraestrutura rural (estradas, energia elétrica e acesso à Internet); publicar editais específicos e direcionados para a produção orgânica; melhorar a orientação técnica e financeira ao produtor, para facilitar o acesso ao crédito; e desenvolver ações e programas que favoreçam a inclusão digital do agricultor familiar.

“Contudo, ficou evidente que políticas públicas específicas, como o PAA e o Pnae, foram, neste contexto de pandemia, essenciais tanto para manter a produção e renda do agricultor familiar e evitar perdas quanto para garantir a oferta de alimentos à população de forte fragilidade socioeconômica, como os alunos da rede escolar e suas famílias – editais específicos para a agricultura orgânica ou agroecológica poderiam ter beneficiado mais agricultores. Este momento crítico deveria servir para que se aprimorem os programas dessa natureza, como forma de garantir a segurança alimentar da população brasileira, quem sabe, ampliando os programas”, finalizam as pesquisadoras da Embrapa.

Acesse aqui o artigo completo

Acesse aqui a primeira edição da Revista Política Agrícola do ano de 2021

Redação: Maria Clara Guaraldo

Conteúdo técnico: Virgínia Gomes de Caldas Nogueira e Maria Quitéria dos Santos Marcelino

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