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Periódicos predatórios põem em risco a credibilidade do conhecimento científico

Mais de 13 mil títulos de publicações científicas têm atividades suspeitas, segundo levantamento de empresa especializada. Esse cenário preocupante para os pesquisadores que querem divulgar os resultados de seus trabalhos foi tema do debate aberto ao público conduzido por Shirley Araújo e Francisca Rasche, bibliotecárias da Embrapa Cerrados e Embrapa Florestas, respectivamente. Elas falaram sobre o crescimento dos periódicos predatórios, termo utilizado para identificar publicações científicas sem credibilidade, que atraem autores inexperientes ou mal-intencionados para este negócio que está crescendo em todo o mundo. Com objetivo de promover o conhecimento científico, tornar públicos os trabalhos da comunidade de pesquisadores e evitar a duplicação de resultados, os periódicos científicos, até o momento, eram portadores de grande credibilidade na sociedade. Agora, na Era da Informação, quando há facilidade extrema para produção e circulação de informações, até mesmo essas publicações devem ser checadas antes de lhes fornecer crédito, alerta Araújo. Riscos dos periódicos predatórios – Não indexados em bases de dados que permitam identificar e acessar o artigo; – Risco de o artigo desaparecer; – Risco de pagar taxa de retratação; – Prejuízo à imagem do autor e da instituição. sso porque esse é um setor bastante atraente. Em 2017, uma única editora, a britânica Pearson, faturou 4,7 bilhões de euros. De olho no bilionário mercado editorial, nem mesmo a área científica ficou fora do alcance de fraudadores. “A cada ano, surgem as editoras de periódicos predatórios, com foco somente no lucro, sem compromisso com a ética ou a verdade científica”, completa a bibliotecária. Araújo explica que essas iniciativas não prezam pela informação de qualidade, já que não adotam como procedimento a revisão por pares, etapa cara aos periódicos sérios, fundamental para a credibilidade do que é publicado: “Uma revisão criteriosa, bem fundamentada, contribui para o desenvolvimento científico”. Crescimento do problema Segundo artigo publicado pela revista Learned Publishing, citado por Araújo, existem dois tipos de autores que recorrem a essas revistas: os mal-informados, em geral, em início de carreira que são atraídos pela facilidade de publicar nesses títulos, e os mal-intencionados, que conhecem a natureza desses periódicos e buscam inflar artificialmente sua produção acadêmica ou científica, para alcançar promoções na carreira. Em publicações sérias, em geral, o trâmite dos artigos é demorado e caro. No caminho inverso, nas predatórios, esse processo é feito de forma rápida. “Em semanas, o artigo é publicado e o preço não passa de algumas centenas de dólares. Assim, as vítimas acham que estão fazendo um ótimo negócio e caem no golpe”, alerta a bibliotecária. Como identificar um periódico predatório – Não tem um editor exclusivo; – Incompatibilidade do currículo do editor com sua função; – Não há diversidade geográfica do conselho editor, nem diversidade de gênero; – Não há política de preservação digital (podem ser retirados de circulação a qualquer momento); – Não são rastreados pelos sites de busca; – Não dá acesso ao PDF dos artigos; – Nome do periódico não reflete sua origem; – Nomes quase idênticos aos de periódicos conhecidos: Journal of Economics and Finance (editora Springer) e Journal of Finance and Economics (predatório). Uma das grandes dificuldades para lidar com esse problema é que não existe uma definição internacionalmente aceita sobre o que é um periódico predatório. Algumas listas circulam na Internet. A mais famosa, com mais de 8 mil títulos de editoras de todo o mundo, foi elaborada pelo bibliotecário Jeffrey Beall, da Universidade do Colorado, que usou 54 critérios para classificá-los. Até mesmo a Capes foi vítima das publicações enganosas. A partir da iniciativa Preda Qualis, criada em 2017, foram identificados 485 títulos predatórios inscritos na plataforma on-line Qualis Periódicos, que reúne cerca de 26,5 mil publicações. Apesar de representar uma pequena porcentagem, o preocupante é que 67% dos predatórios estavam classificados nos estratos A e B, os mais conceituados. Os professores da Universidade de São Paulo, responsáveis pelo desenvolvimento do Preda Qualis, alertam: “O fato de um artigo ser publicado em uma revista potencialmente predatória não significa que este artigo seja de má qualidade. Um dos prejuízos causados pelos periódicos predatórios é justamente o potencial de afetar a credibilidade de tais artigos”. Checklist para evitar armadilhas Já foram identificadas mais de 13 mil publicações com atividades suspeitas em operação, conforme levantamento a empresa norte-americana Cabell International. Segundo o diretor da empresa, Simon Linacre, as editoras predatórias são muito hábeis em identificar e seguir novas tendências e utilizam vários artifícios para se passar por publicações sérias, como utilizar ISNN (identificação internacional para periódicos) e informar endereço da sede, em geral, com falsas informações. Lista de verificação 1) Consulte indexadores e indicadores de qualidade (Qualis periódicos, Qualis Embrapa, Scimago Journal; Journal Citation Reports). 2) Use ferramentas automáticas para seleção de revistas (Elsevier Journal Finder, Springer Journal Suggester). A influência desses periódicos ainda é pequena, conforme estudo feito no campo das ciências biomédicas pelo pesquisador Richard Anderson, da Universidade de Utah. Eles têm baixa capacidade de contaminar as referências de artigos submetidos a avaliação por pares. Apesar disso, também se identificou que eles têm sido muito usados em trabalhos científicos fora das grandes bases de dados. Uma das revistas analisada teve 36% dos seus artigos citados em trabalhos acadêmicos. Para evitar que pesquisadores caiam nessa armadilha, já que essas publicações usam estratégias para se disfarçar sua natureza fraudulenta, a Embrapa Florestas elaborou uma lista de verificação (checklist) para facilitar a identificação de revistas não confiáveis. Segundo a bibliotecária Francisca Rasch, o setor recebe inúmeras consultas de pesquisadores e analistas sobre convites para publicação de artigos em revistas científicas. Ela entende que a identificação dos periódicos predatórios não é tão simples e por isso é importante ter um olhar estratégico para a produção do artigo científico, o que envolve a decisão sobre onde o trabalho será publicado. “É importante identificar os autores mais citados na área, os periódicos usados para pesquisa e de quais editoras eles são, quais instituições que estão representadas nessas editoras”, elenca Rasch. Recebeu convite para publicar em uma revista? 1) Verifique e avalie: – O site da revista tem informações claras sobre o editor e seu contato (o e-mail é institucional?), processo de revisão por pares, cobrança de taxas e conselho editorial (é conhecido?); – A revista é de acesso aberto ou indexada no Web of Science. 2) Fontes para checagem: – Preda Qualis (predaqualis.netlify.app/); – Doaj (para periódicos de acesso aberto) (doaj.org); – Busca no Google com o título do periódico seguido da palavra “predador” e de outras informações. O evento foi organizado pelo setor de Gestão da Informação e do Conhecimento da Embrapa, com a mediação do bibliotecário Fábio Cordeiro, e pode ser assistido na íntegra no canal da Embrapa no YouTube.

Mais de 13 mil títulos de publicações científicas têm atividades suspeitas, segundo levantamento de empresa especializada. Esse cenário preocupante para os pesquisadores que querem divulgar os resultados de seus trabalhos foi tema do debate aberto ao público conduzido por Shirley Araújo e Francisca Rasche, bibliotecárias da Embrapa Cerrados e Embrapa Florestas, respectivamente. Elas falaram sobre o crescimento dos periódicos predatórios, termo utilizado para identificar publicações científicas sem credibilidade, que atraem autores inexperientes ou mal-intencionados para este negócio que está crescendo em todo o mundo.

Com objetivo de promover o conhecimento científico, tornar públicos os trabalhos da comunidade de pesquisadores e evitar a duplicação de resultados, os periódicos científicos, até o momento, eram portadores de grande credibilidade na sociedade. Agora, na Era da Informação, quando há facilidade extrema para produção e circulação de informações, até mesmo essas publicações devem ser checadas antes de lhes fornecer crédito, alerta Araújo. 

Riscos dos periódicos predatórios

– Não indexados em bases de dados que permitam identificar e acessar o artigo; 

– Risco de o artigo desaparecer; 

– Risco de pagar taxa de retratação;

– Prejuízo à imagem do autor e da instituição. 

sso porque esse é um setor bastante atraente. Em 2017, uma única editora, a britânica Pearson, faturou 4,7 bilhões de euros. De olho no bilionário mercado editorial, nem mesmo a área científica ficou fora do alcance de fraudadores. “A cada ano, surgem as editoras de periódicos predatórios, com foco somente no lucro, sem compromisso com a ética ou a verdade científica”, completa a bibliotecária.

Araújo explica que essas iniciativas não prezam pela informação de qualidade, já que não adotam como procedimento a revisão por pares, etapa cara aos periódicos sérios, fundamental para a credibilidade do que é publicado: “Uma revisão criteriosa, bem fundamentada, contribui para o desenvolvimento científico”. 

Crescimento do problema

Segundo artigo publicado pela revista Learned Publishing, citado por Araújo, existem dois tipos de autores que recorrem a essas revistas: os mal-informados, em geral, em início de carreira que são atraídos pela facilidade de publicar nesses títulos, e os mal-intencionados, que conhecem a natureza desses periódicos e buscam inflar artificialmente sua produção acadêmica ou científica, para alcançar promoções na carreira. 

Em publicações sérias, em geral, o trâmite dos artigos é demorado e caro. No caminho inverso, nas predatórios, esse processo é feito de forma rápida. “Em semanas, o artigo é publicado e o preço não passa de algumas centenas de dólares. Assim, as vítimas acham que estão fazendo um ótimo negócio e caem no golpe”, alerta a bibliotecária.

Como identificar um periódico predatório

– Não tem um editor exclusivo; 

– Incompatibilidade do currículo do editor com sua função;

– Não há diversidade geográfica do conselho editor, nem diversidade de gênero; 

– Não há política de preservação digital (podem ser retirados de circulação a qualquer momento);

– Não são rastreados pelos sites de busca;

– Não dá acesso ao PDF dos artigos;

– Nome do periódico não reflete sua origem; 

– Nomes quase idênticos aos de periódicos conhecidos: Journal of Economics and Finance (editora Springer) e Journal of Finance and Economics (predatório). 

Uma das grandes dificuldades para lidar com esse problema é que não existe uma definição internacionalmente aceita sobre o que é um periódico predatório. Algumas listas circulam na Internet. A mais famosa, com mais de 8 mil títulos de editoras de todo o mundo, foi elaborada pelo bibliotecário Jeffrey Beall, da Universidade do Colorado, que usou 54 critérios para classificá-los. 

Até mesmo a Capes foi vítima das publicações enganosas. A partir da iniciativa Preda Qualis, criada em 2017, foram identificados 485 títulos predatórios inscritos na plataforma on-line Qualis Periódicos, que reúne cerca de 26,5 mil publicações. Apesar de representar uma pequena porcentagem, o preocupante é que 67% dos predatórios estavam classificados nos estratos A e B, os mais conceituados. 

Os professores da Universidade de São Paulo, responsáveis pelo desenvolvimento do Preda Qualis, alertam: “O fato de um artigo ser publicado em uma revista potencialmente predatória não significa que este artigo seja de má qualidade. Um dos prejuízos causados pelos periódicos predatórios é justamente o potencial de afetar a credibilidade de tais artigos”. 

Checklist para evitar armadilhas

Já foram identificadas mais de 13 mil publicações com atividades suspeitas em operação, conforme levantamento a empresa norte-americana Cabell International. Segundo o diretor da empresa, Simon Linacre, as editoras predatórias são muito hábeis em identificar e seguir novas tendências e utilizam vários artifícios para se passar por publicações sérias, como utilizar ISNN (identificação internacional para periódicos) e informar endereço da sede, em geral, com falsas informações. 

Lista de verificação 

1) Consulte indexadores e indicadores de qualidade (Qualis periódicos, Qualis Embrapa, Scimago Journal; Journal Citation Reports).

2) Use ferramentas automáticas para seleção de revistas (Elsevier Journal Finder, Springer Journal Suggester).

A influência desses periódicos ainda é pequena, conforme estudo feito no campo das ciências biomédicas pelo pesquisador Richard Anderson, da Universidade de Utah. Eles têm baixa capacidade de contaminar as referências de artigos submetidos a avaliação por pares. Apesar disso, também se identificou que eles têm sido muito usados em trabalhos científicos fora das grandes bases de dados. Uma das revistas analisada teve 36% dos seus artigos citados em trabalhos acadêmicos. 

Para evitar que pesquisadores caiam nessa armadilha, já que essas publicações usam estratégias para se disfarçar sua natureza fraudulenta, a Embrapa Florestas elaborou uma lista de verificação (checklist) para facilitar a identificação de revistas não confiáveis. 

Segundo a bibliotecária Francisca Rasch, o setor recebe inúmeras consultas de pesquisadores e analistas sobre convites para publicação de artigos em revistas científicas. Ela entende que a identificação dos periódicos predatórios não é tão simples e por isso é importante ter um olhar estratégico para a produção do artigo científico, o que envolve a decisão sobre onde o trabalho será publicado. “É importante identificar os autores mais citados na área, os periódicos usados para pesquisa e de quais editoras eles são, quais instituições que estão representadas nessas editoras”, elenca Rasch.  

Recebeu convite para publicar em uma revista?

1) Verifique e avalie: 

– O site da revista tem informações claras sobre o editor e seu contato (o e-mail é institucional?), processo de revisão por pares, cobrança de taxas e conselho editorial (é conhecido?); 

– A revista é de acesso aberto ou indexada no Web of Science.

2) Fontes para checagem:

– Preda Qualis (predaqualis.netlify.app/);

– Doaj (para periódicos de acesso aberto) (doaj.org);

– Busca no Google com o título do periódico seguido da palavra “predador” e de outras informações.

O evento foi organizado pelo setor de Gestão da Informação e do Conhecimento da Embrapa, com a mediação do bibliotecário Fábio Cordeiro, e pode ser assistido na íntegra no canal da Embrapa no YouTube.

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