Pesquisadores, extensionistas, técnicos, professores, formuladores de políticas públicas e estudantes do Brasil, Argentina e Uruguai reuniram-se em Dom Pedrito (RS), entre os dias 21 e 22 de março de 2018, para discutir o tema pecuária familiar. A segunda edição do Seminário Técnico Internacional Pecuária Familiar e Desenvolvimento Rural contou com a participação de mais de 200 interessados no assunto. Realizado no Parque de Exposições Juventino Corrêa de Moura, o evento avançou nos debates sobre pautas importantes e atuais para o setor, como produção agroecológica da pecuária familiar, governança territorial e políticas públicas.
Para o professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e um dos coordenadores do evento, Cláudio Ribeiro, um dos resultados mais importantes do evento é o fortalecimento e constituição mais efetiva e sólida de uma rede de discussão dessa temática entre pessoas interessadas no assunto, que tem pesquisado e trabalhado com isso.
Durante o evento, as discussões giraram em torno de três eixos temáticos: Eixo 1 – Experiências de Transição Agroecológica na Pecuária Familiar; Eixo 2 – Experiências de Políticas Públicas para a Pecuária Familiar; e Eixo 3 – Experiências de Governança Territorial. Dentro de cada eixo foram ministradas três palestras com a apresentação de estudos e experiências envolvendo a pecuária familiar nos três países. A palestra de abertura do evento, apresentada pelo pesquisador Jean François Tourrand, do Cirad/França e UFSM Brasil/Projeto Nexus, abordou a pecuária familiar no mundo.
No final do Seminário, os comentaristas dos três eixos fizeram um resumo do evento, com a avaliação do debate e perspectivas para a próxima edição, que será realizada em 2019 na Argentina. Para Marcio Neske (Uergs/Santana do Livramento), comentarista do Eixo 1, o processo de transição agroecológica deve ser uma construção social feita por diversos atores componentes da pecuária familiar, e não apenas uma intervenção institucional em uma realidade. “Isso nos traz aprendizados e desafios. A transição agroecológica é transversal. Se acharmos que ela deve ocorrer simplesmente dentro da unidade de produção, estaremos equivocados. Agroecologia não é somente a intervenção nos processos de produção, mas sim um processo muito maior, que diz respeito à transformação societária e ética, e que valoriza os processos locais”, disse.
O comentarista do Eixo 2, Paulo Waquil (UFRGS), destacou como síntese do Seminário as diferenças que caracterizam as especificidades da pecuária familiar nos diferentes territórios e, ao mesmo tempo, as similaridades e problemáticas comuns do setor. O professor finalizou com propostas para a continuidade dos debates, trabalhos e estudos sobre a pecuária familiar. Nesse sentido, Waquil listou temas como o uso e gestão coletiva dos recursos naturais, o papel das mulheres na pecuária familiar, a multifuncionalidade da pecuária e perspectivas e tendências para o futuro da atividade.
Quem resumiu o Eixo 3 foi a comentarista Alejandra Moreyra, do Inta da Argentina. “No Eixo Experiências de Governança Territorial se discutiu muito sobre como encarar a complexidade da pecuária familiar a partir da interinstitucionalidade, da interdisciplina, da incorporação dos saberes locais, dos processos de construção social”, resumiu Moreyra, que ainda destacou a importância de cada vez mais sedimentar os espaços de debate das instituições com os pecuaristas familiares.
O evento foi promovido pela Unipampa, Embrapa Pecuária Sul, Emater/RS-Ascar e Prefeitura de Dom Pedrito, no Brasil. No Uruguai, foram promotores do evento o Plan Agropecuario, Universidad de la Republica Uruguay, Instituto Nacional de Inverstigácion Agropecuaria, além do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria e Universidad Nacional de La Plata na Argentina.
Alto Camaquã
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Marcos Borba, apresentou, dentro do Eixo 1, a palestra O enfoque agroecológico no Alto Camaquã. Durante a apresentação o pesquisador destacou para o público a importância que a valorização do território cumpriu no processo de diferenciação dos produtos locais, especialmente pelo estabelecimento no mercado a partir de um conceito, representado em uma marca coletiva. “Hoje temos muitos desafios e uma das questões fundamentais é a conservação do território, porque sem o território perde-se a identidade e perde o sentido todo esse nível de organização que tem como estratégia de diferenciação associar os produtos à sua origem”, destacou Borba.
O Alto Camaquã situa-se na parte superior da bacia do rio Camaquã e engloba os municípios de Bagé, Caçapava do Sul, Canguçu, Encruzilhada do Sul, Lavras do Sul, Piratini, Pinheiro Machado e Santana da Boa Vista. Organizados a partir da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (Adac), os pecuaristas estão próximos de ter sua própria indústria e, com isso, ter o controle total (da produção à distribuição) da cadeia da carne ovina. A organização social e produtiva em rede dos pecuaristas familiares foi reconhecida oficialmente pelo governo do estado do RS como um Arranjo Produtivo Local de ovinos e turismo.
Conexão de ideias
Durante a abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Alexandre Varella, falou sobre a importância da conexão de ideias entre instituições de pesquisa, ensino e extensão do Brasil, Uruguai e Argentina, tendo como enfoque o debate sobre a pecuária familiar. “A pecuária familiar tem enfrentado novos desafios e a Embrapa tem atuado com esse público, com experiências que tem se destacado, como o projeto Alto Camaquã, como a Rede Leite e o PoloGen, na disseminação de genética para os pecuaristas familiares, por exemplo”, destacou.
O gerente regional da Regional Bagé da Emater/RS-Ascar, Eloí Pozzer, destacou o quanto esse tipo de debate pode ajudar a gerar alternativas para melhoria da renda e qualidade de vida no campo. “A nossa regional abrange 24% da área física do Estado. Desses, em torno de 70% é usado para a pecuária. Nos últimos 40 anos o custo de vida no campo triplicou. Ou nós aumentamos a liquidez para a pecuária ou poderemos ter problemas no futuro”, disse.
O prefeito de Dom Pedrito, Mário Augusto Gonçalves, destacou a importância de integrar os conhecimentos das instituições públicas e privadas para a geração de alternativas para o setor rural. “Na gestão tentamos resolver problemas sempre tentando inovar, e isso também pode ser usado no campo e na vida acadêmica”, contextualizou.
Pesquisadores, extensionistas, técnicos, professores, formuladores de políticas públicas e estudantes do Brasil, Argentina e Uruguai reuniram-se em Dom Pedrito (RS), entre os dias 21 e 22 de março de 2018, para discutir o tema pecuária familiar. A segunda edição do Seminário Técnico Internacional Pecuária Familiar e Desenvolvimento Rural contou com a participação de mais de 200 interessados no assunto. Realizado no Parque de Exposições Juventino Corrêa de Moura, o evento avançou nos debates sobre pautas importantes e atuais para o setor, como produção agroecológica da pecuária familiar, governança territorial e políticas públicas.
Para o professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e um dos coordenadores do evento, Cláudio Ribeiro, um dos resultados mais importantes do evento é o fortalecimento e constituição mais efetiva e sólida de uma rede de discussão dessa temática entre pessoas interessadas no assunto, que tem pesquisado e trabalhado com isso.
Durante o evento, as discussões giraram em torno de três eixos temáticos: Eixo 1 – Experiências de Transição Agroecológica na Pecuária Familiar; Eixo 2 – Experiências de Políticas Públicas para a Pecuária Familiar; e Eixo 3 – Experiências de Governança Territorial. Dentro de cada eixo foram ministradas três palestras com a apresentação de estudos e experiências envolvendo a pecuária familiar nos três países. A palestra de abertura do evento, apresentada pelo pesquisador Jean François Tourrand, do Cirad/França e UFSM Brasil/Projeto Nexus, abordou a pecuária familiar no mundo.
No final do Seminário, os comentaristas dos três eixos fizeram um resumo do evento, com a avaliação do debate e perspectivas para a próxima edição, que será realizada em 2019 na Argentina. Para Marcio Neske (Uergs/Santana do Livramento), comentarista do Eixo 1, o processo de transição agroecológica deve ser uma construção social feita por diversos atores componentes da pecuária familiar, e não apenas uma intervenção institucional em uma realidade. “Isso nos traz aprendizados e desafios. A transição agroecológica é transversal. Se acharmos que ela deve ocorrer simplesmente dentro da unidade de produção, estaremos equivocados. Agroecologia não é somente a intervenção nos processos de produção, mas sim um processo muito maior, que diz respeito à transformação societária e ética, e que valoriza os processos locais”, disse.
O comentarista do Eixo 2, Paulo Waquil (UFRGS), destacou como síntese do Seminário as diferenças que caracterizam as especificidades da pecuária familiar nos diferentes territórios e, ao mesmo tempo, as similaridades e problemáticas comuns do setor. O professor finalizou com propostas para a continuidade dos debates, trabalhos e estudos sobre a pecuária familiar. Nesse sentido, Waquil listou temas como o uso e gestão coletiva dos recursos naturais, o papel das mulheres na pecuária familiar, a multifuncionalidade da pecuária e perspectivas e tendências para o futuro da atividade.
Quem resumiu o Eixo 3 foi a comentarista Alejandra Moreyra, do Inta da Argentina. “No Eixo Experiências de Governança Territorial se discutiu muito sobre como encarar a complexidade da pecuária familiar a partir da interinstitucionalidade, da interdisciplina, da incorporação dos saberes locais, dos processos de construção social”, resumiu Moreyra, que ainda destacou a importância de cada vez mais sedimentar os espaços de debate das instituições com os pecuaristas familiares.
O evento foi promovido pela Unipampa, Embrapa Pecuária Sul, Emater/RS-Ascar e Prefeitura de Dom Pedrito, no Brasil. No Uruguai, foram promotores do evento o Plan Agropecuario, Universidad de la Republica Uruguay, Instituto Nacional de Inverstigácion Agropecuaria, além do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria e Universidad Nacional de La Plata na Argentina.
Alto Camaquã
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Marcos Borba, apresentou, dentro do Eixo 1, a palestra O enfoque agroecológico no Alto Camaquã. Durante a apresentação o pesquisador destacou para o público a importância que a valorização do território cumpriu no processo de diferenciação dos produtos locais, especialmente pelo estabelecimento no mercado a partir de um conceito, representado em uma marca coletiva. “Hoje temos muitos desafios e uma das questões fundamentais é a conservação do território, porque sem o território perde-se a identidade e perde o sentido todo esse nível de organização que tem como estratégia de diferenciação associar os produtos à sua origem”, destacou Borba.
O Alto Camaquã situa-se na parte superior da bacia do rio Camaquã e engloba os municípios de Bagé, Caçapava do Sul, Canguçu, Encruzilhada do Sul, Lavras do Sul, Piratini, Pinheiro Machado e Santana da Boa Vista. Organizados a partir da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (Adac), os pecuaristas estão próximos de ter sua própria indústria e, com isso, ter o controle total (da produção à distribuição) da cadeia da carne ovina. A organização social e produtiva em rede dos pecuaristas familiares foi reconhecida oficialmente pelo governo do estado do RS como um Arranjo Produtivo Local de ovinos e turismo.
Conexão de ideias
Durante a abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Alexandre Varella, falou sobre a importância da conexão de ideias entre instituições de pesquisa, ensino e extensão do Brasil, Uruguai e Argentina, tendo como enfoque o debate sobre a pecuária familiar. “A pecuária familiar tem enfrentado novos desafios e a Embrapa tem atuado com esse público, com experiências que tem se destacado, como o projeto Alto Camaquã, como a Rede Leite e o PoloGen, na disseminação de genética para os pecuaristas familiares, por exemplo”, destacou.
O gerente regional da Regional Bagé da Emater/RS-Ascar, Eloí Pozzer, destacou o quanto esse tipo de debate pode ajudar a gerar alternativas para melhoria da renda e qualidade de vida no campo. “A nossa regional abrange 24% da área física do Estado. Desses, em torno de 70% é usado para a pecuária. Nos últimos 40 anos o custo de vida no campo triplicou. Ou nós aumentamos a liquidez para a pecuária ou poderemos ter problemas no futuro”, disse.
O prefeito de Dom Pedrito, Mário Augusto Gonçalves, destacou a importância de integrar os conhecimentos das instituições públicas e privadas para a geração de alternativas para o setor rural. “Na gestão tentamos resolver problemas sempre tentando inovar, e isso também pode ser usado no campo e na vida acadêmica”, contextualizou.