Estudo publicado na revista Nature analisou 448 parcelas de florestas secundárias e revelou que, em condições favoráveis, a regeneração ocorre sem intervenção humana. Os pesquisadores sugerem quatro indicadores-chave que servem como parâmetro para medir a restauração e podem ajudar governos, produtores, ONGs e investidores em mercados de carbono a planejar estratégias de restauração, economizando recursos e garantindo eficácia. A nova metodologia é simples e pode acelerar a implementação de políticas de restauração, alinhando metas locais e globais, como combate às mudanças climáticas e conservação da biodiversidade. Indicadores vão balizar a criação de uma instrução normativa com indicadores de monitoramento a ser usada pelos órgãos ambientais brasileiros. Um estudo publicado na revista Nature Communications Earth & Environment propõe uma metodologia inovadora para monitorar a regeneração da Floresta Amazônica usando indicadores ecológicos simples, que podem orientar programas de restauração florestal e subsidiar a formulação de políticas públicas na região. A pesquisa foi realizada por uma equipe multi-institucional de cientistas que analisou dados de 448 parcelas de florestas secundárias em diferentes estágios de regeneração natural e em 24 localidades da Amazônia. “As florestas secundárias ocupam 20% das áreas já convertidas da Amazônia. São áreas que já foram desmatadas para conversão em pastagem, agricultura ou outro uso e então abandonadas, nas quais a floresta retornou”, explica o pesquisador Daniel Vieira, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um dos autores do artigo. Os cientistas analisaram como essas áreas florestais se regeneraram em diferentes épocas e com isso conseguiram montar um filme contando a história de como a floresta retomou terras desmatadas ao longo de três décadas. A primeira constatação do estudo, segundo Daniel Vieira, é que, em algumas condições (pouco uso da terra e alta cobertura florestal na paisagem), a floresta é capaz de regenerar integralmente, sem a intervenção humana. A partir dessa informação, os pesquisadores identificaram quatro indicadores que servem como parâmetro da qualidade da regeneração de uma área (veja no box abaixo). Com isso, a pesquisa estabeleceu valores de referência que servem como parâmetro para que agentes públicos ligados à área de planejamento e fiscalização ambiental, produtores, além ONGs e de setores da iniciativa privada interessados em investir no mercado de carbono consigam traçar suas estratégias de restauração. “Essas florestas servem como um parâmetro para as atividades de restauração e também permitem a adoção de estratégias de inteligência territorial, na medida em que é possível identificar áreas onde a regeneração natural ocorre com alta qualidade, de forma gratuita e com alta possibilidade de prestar serviços ecossistêmicos. Isso economiza recursos e garante o sucesso da restauração”, explica Daniel Vieira. Importância para políticas públicas A proposta busca soluções para os grandes desafios relacionados ao desmatamento e à degradação ambiental que a Amazônia enfrenta. A adoção de ferramentas simples e cientificamente embasadas são também importantes para que o Brasil e outros países amazônicos acelerarem a implementação de políticas de restauração, para cumprir metas climáticas globais. De acordo com o artigo, ter parâmetros claros para avaliar o progresso da regeneração natural é essencial para que possamos alinhar os objetivos de restauração com as necessidades locais e globais. O pesquisador André L. Giles, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), autor principal do estudo, destaca que a incerteza sobre a efetividade do processo de restauração gera insegurança para proprietários, órgãos ambientais e investidores. “Nosso trabalho dá o primeiro passo para enfrentar essa subjetividade, oferecendo ferramentas claras para a tomada de decisões sobre quando atestar que a regeneração natural cumpriu seu papel como método de restauração.” Para Rita Mesquita, também autora do artigo e pesquisadora do Instituto Nacional da Amazônia (INPA) e da secretária de Biodiversidade, Florestas e Direito Animal do Ministério do Meio Ambiente, o estudo representa um marco para restauração na Amazônia: “Agora temos parâmetros científicos precisos para avaliar a saúde de nossas florestas em regeneração, o que é fundamental para o sucesso de nossos compromissos com a restauração da vegetação nativa, conservação da biodiversidade e metas de enfrentamento à mudança do Clima.” Parâmetros devem ser adotados em todo o País O estudo também gerou uma nota técnica, em colaboração com IBAMA, MMA e ICMBio, que detalha os indicadores para cada estado brasileiro do bioma amazônico. E, entre 25 e 29 de novembro, especialistas de diversas instituições se reuniram na Embrapa, em Brasília, para discutir e definir a aplicação dos indicadores de eficácia da recuperação ambiental no Brasil. Durante o encontro, os resultados da pesquisa foram apresentados e começou a ser discutido um documento técnico para fundamentar uma instrução normativa sobre indicadores de monitoramento da recuperação ambiental. A oficina “Indicadores da Vegetação para Monitoramento e Avaliação da Recuperação Ambiental” reuniu especialistas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID Brasil) e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS). Os quatro indicadores-chave para restauração Os cientistas propuseram quatro indicadores principais que são fáceis de medir e refletem diferentes aspectos do progresso ecológico. Seus valores de referência variam entre regiões, devido a condições de clima e solo. Veja abaixo os indicadores e os valores de referência médios: Área Basal: Corresponde à soma das seções transversais dos troncos das árvores em um hectare. Uma área basal mínima de 14 m² por hectare após 20 anos indica uma boa recuperação estrutural, sugerindo que a vegetação está evoluindo para um estágio mais maduro. Esse parâmetro é crucial para avaliar a capacidade da floresta de fornecer sombra, criar microclimas e favorecer a retenção de umidade no solo. Riqueza de Espécies: Mede a diversidade de árvores nativas na área em regeneração. A meta de pelo menos 34 espécies por 100 indivíduos indica um ecossistema biodiverso e funcional, essencial para o equilíbrio ecológico. Uma maior diversidade de espécies permite um melhor aproveitamento dos recursos naturais e reduz a vulnerabilidade a pragas e doenças. Heterogeneidade Estrutural: Avalia a variabilidade na estrutura da vegetação, como diferenças na altura das árvores e na densidade da cobertura vegetal. Um índice de 0,27 reflete um ecossistema mais próximo das condições naturais, proporcionando abrigo e alimento para diversas espécies da fauna. Essa diversidade estrutural também favorece processos ecológicos, como a dispersão de sementes e a ciclagem de nutrientes. Biomassa Acima do Solo: Refere-se à quantidade de carbono armazenado em árvores e outras plantas. Uma meta de 123 toneladas por hectare evidencia contribuições significativas para o sequestro de carbono, desempenhando um papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas. Esse indicador também reflete o estágio de crescimento das árvores e a capacidade da floresta de sustentar um ecossistema produtivo e resiliente. Para saber mais: Recomendações para o monitoramento da regeneração natural na Amazônia Glossário da regeneração natural Estratégias para implementar a restauração florestal em grande escala na Amazônia
Um estudo publicado na revista Nature Communications Earth & Environment propõe uma metodologia inovadora para monitorar a regeneração da Floresta Amazônica usando indicadores ecológicos simples, que podem orientar programas de restauração florestal e subsidiar a formulação de políticas públicas na região.
A pesquisa foi realizada por uma equipe multi-institucional de cientistas que analisou dados de 448 parcelas de florestas secundárias em diferentes estágios de regeneração natural e em 24 localidades da Amazônia. “As florestas secundárias ocupam 20% das áreas já convertidas da Amazônia. São áreas que já foram desmatadas para conversão em pastagem, agricultura ou outro uso e então abandonadas, nas quais a floresta retornou”, explica o pesquisador Daniel Vieira, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um dos autores do artigo.
Os cientistas analisaram como essas áreas florestais se regeneraram em diferentes épocas e com isso conseguiram montar um filme contando a história de como a floresta retomou terras desmatadas ao longo de três décadas.
A primeira constatação do estudo, segundo Daniel Vieira, é que, em algumas condições (pouco uso da terra e alta cobertura florestal na paisagem), a floresta é capaz de regenerar integralmente, sem a intervenção humana. A partir dessa informação, os pesquisadores identificaram quatro indicadores que servem como parâmetro da qualidade da regeneração de uma área (veja no box abaixo).
Com isso, a pesquisa estabeleceu valores de referência que servem como parâmetro para que agentes públicos ligados à área de planejamento e fiscalização ambiental, produtores, além ONGs e de setores da iniciativa privada interessados em investir no mercado de carbono consigam traçar suas estratégias de restauração.
“Essas florestas servem como um parâmetro para as atividades de restauração e também permitem a adoção de estratégias de inteligência territorial, na medida em que é possível identificar áreas onde a regeneração natural ocorre com alta qualidade, de forma gratuita e com alta possibilidade de prestar serviços ecossistêmicos. Isso economiza recursos e garante o sucesso da restauração”, explica Daniel Vieira.
Importância para políticas públicas
A proposta busca soluções para os grandes desafios relacionados ao desmatamento e à degradação ambiental que a Amazônia enfrenta. A adoção de ferramentas simples e cientificamente embasadas são também importantes para que o Brasil e outros países amazônicos acelerarem a implementação de políticas de restauração, para cumprir metas climáticas globais.
De acordo com o artigo, ter parâmetros claros para avaliar o progresso da regeneração natural é essencial para que possamos alinhar os objetivos de restauração com as necessidades locais e globais.
O pesquisador André L. Giles, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), autor principal do estudo, destaca que a incerteza sobre a efetividade do processo de restauração gera insegurança para proprietários, órgãos ambientais e investidores. “Nosso trabalho dá o primeiro passo para enfrentar essa subjetividade, oferecendo ferramentas claras para a tomada de decisões sobre quando atestar que a regeneração natural cumpriu seu papel como método de restauração.”
Para Rita Mesquita, também autora do artigo e pesquisadora do Instituto Nacional da Amazônia (INPA) e da secretária de Biodiversidade, Florestas e Direito Animal do Ministério do Meio Ambiente, o estudo representa um marco para restauração na Amazônia: “Agora temos parâmetros científicos precisos para avaliar a saúde de nossas florestas em regeneração, o que é fundamental para o sucesso de nossos compromissos com a restauração da vegetação nativa, conservação da biodiversidade e metas de enfrentamento à mudança do Clima.”
Parâmetros devem ser adotados em todo o País
O estudo também gerou uma nota técnica, em colaboração com IBAMA, MMA e ICMBio, que detalha os indicadores para cada estado brasileiro do bioma amazônico. E, entre 25 e 29 de novembro, especialistas de diversas instituições se reuniram na Embrapa, em Brasília, para discutir e definir a aplicação dos indicadores de eficácia da recuperação ambiental no Brasil. Durante o encontro, os resultados da pesquisa foram apresentados e começou a ser discutido um documento técnico para fundamentar uma instrução normativa sobre indicadores de monitoramento da recuperação ambiental.
A oficina “Indicadores da Vegetação para Monitoramento e Avaliação da Recuperação Ambiental” reuniu especialistas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID Brasil) e Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS).
Os quatro indicadores-chave para restauraçãoOs cientistas propuseram quatro indicadores principais que são fáceis de medir e refletem diferentes aspectos do progresso ecológico. Seus valores de referência variam entre regiões, devido a condições de clima e solo. Veja abaixo os indicadores e os valores de referência médios:
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