Será que o meu capim está doente? Esse questionamento deve ser feito pelo produtor rural quando percebe que algo não anda bem no campo. Um dos principais problemas nas áreas destinadas à pastagem é a elevada incidência de pragas e doenças, a qual impacta no potencial produtivo das forrageiras. Ao causar alteração na fisiologia da planta, o dano é um processo contínuo e, muitas vezes, irreversível.
As doenças provocam degradação da pastagem, sendo causa e consequência. Nas sementes, há perda de qualidade e mercado; e nos sistemas integrados impactam nas culturas agrícolas. Suas causas podem ser bióticas, como fungos, bactérias, vírus e nematóides; ou abióticas, como seca, excesso umidade, solo, deficiência nutricional, fitotoxicidade e temperatura baixa ou alta.
“As causas abióticas geralmente têm distribuição uniforme dos sintomas e as bióticas geralmente em reboleiras”, alerta Márcio Sanches, fitopatologista da Embrapa (Campo Grande-MS). Ele explica que os sintomas são primários, com o patógeno instalado no local, e secundários, em local distante da área de atuação do patógeno. De qualquer forma, os sinais são visíveis.
Como estratégia de combate e prevenção, o pesquisador recomenda conhecer o histórico da área e assim traçar estratégias em curto, médio e longo prazo. A seguir reconhecer os sintomas e os patógenos mais comuns a culturas e forrageiras. Ter informações sobre plantas daninhas, voluntárias e insetos da vizinhança também é relevante, assim como fazer uma análise dos patógenos encontrados no solo.
Principais doenças
Entre as bióticas que mais atacam o pasto, Sanches cita as causadas por fungos (manchas foliares, murcha e doenças radiculares), vírus (mosaico foliar, nanismo e deformação foliar) e nematóides.
Esses últimos merecem atenção, segundo ele, e são encontrados no solo, nas raízes e nas sementes. “Vento, chuva, insetos vetores ajudam a disseminar esses patógenos. Sementes, mudas, maquinário e animais também”, afirma.
O fito sugere uma amostragem de nematóides para melhor dimensão dos impactos e planejamento de estratégias:
- Caminhamento em zig-zag em áreas com sintomas (reboleiras)
- 10 a 20 subamostras por lote homogêneo para misturar em amostra composta
- Amostra composta por 500 a 1000g de solo e 10 a 50g de raízes
- Acondicionar solo e raízes no mesmo recipiente plástico e enviar em até quatro dias para análise
- Sementes de amostra composta devem ter 10g
Para forrageiras com sintomas de fungos e bactérias, recomenda a seguinte amostragem:
- Amostras representativas em diversos pontos, de áreas de transição doentes/sadias
- As amostras devem chegar mais rápido possível ao laboratório e mantidas úmidas e vivas
- Acondicionar solo mais plantas no mesmo recipiente plástico
Plantas daninhas
Hospedeiras alternativas para vírus e insetos vetores, as plantas daninhas competem por água, luz, nutrientes e espaço com o pasto. O professor Sidnei Roberto de Marchi da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) expande o conceito e apresenta as reais relações de interferência entre plantas daninhas e gramíneas forrageiras.
A primeira diz respeito ao acesso animal à forrageira. “Quanto mais fácil o acesso maior será a eficiência no processo de pastejo, mas a presença de obstáculos impede que o alimento seja aproveitado”, determina o professor e, nesse ponto, estão as plantas daninhas.
A seguir, a estrutura do dossel forrageiro, que é definida como a disposição espacial da biomassa aérea numa pastagem. Marchi destaca que “o surgimento das plantas daninhas altera a estrutura de homogênea para heterogênea e isso acarreta em transformações na estrutura das forrageiras. Tais transformações impactam negativamente na eficiência do processo de pastejo”.
Outra relação é a qualidade nutricional da forrageira, na qual a eficiência do uso de pastagens pelos bovinos não é baseada apenas na quantidade de forragem disponível, mas também depende da qualidade da pastagem (e do potencial do animal).
A quarta se refere à emissão de gases de efeito estufa (GEE). Resumidamente, a emissão de metano (CH4) por unidade de matéria seca ingerida é maior em alimentos de pior qualidade e menor densidade energética.
Sendo assim, “melhorar o acesso animal à forrageira, melhorar a estrutura do dossel forrageiro, manter a qualidade nutricional da forrageira, mitigar a emissão de gases de efeito estufa e manter a eficiência do processo de pastejo animal são razões suficientes para se controlar plantas daninhas em pastagens”, abrevia o fitotecnista da UFMT.
Curso Pragas e Doenças
Plantas daninhas e doenças foram temas abordados por Marchi e Sanches, respectivamente, na primeira edição do Curso de Pragas, Doenças, Plantas Invasoras em Pastagens, realizado nos dias 12 e 13 de novembro na Embrapa Gado de Corte. Os dois pesquisadores estavam ao lado de Fabrícia Zimermann Vilela Torres e Celso Dornelas Fernandes (Embrapa) e Fábio Henrique Rojo Baio (UFMS) como palestrantes. O treinamento trouxe os problemas fitossanitários relacionados a pastagens, com teoria e prática no campo.