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Artigo – Integração lavoura-pecuária propaga qualidade

De todos os bens que um produtor rural possui, sem dúvidas o mais importante é o solo. É nele que crescem as plantas que irão gerar os frutos, grãos, fibras e o alimento para animais. Com um solo degradado, o produtor perde sua capacidade produtiva e sua fonte de renda. Dessa forma, a conservação do solo e a busca por melhorar a sua qualidade deve ser uma meta prioritária de todos aqueles que atuam no meio rural. Mas o que vem a ser “Qualidade do Solo”? A definição clássica relaciona a Qualidade do Solo com sua capacidade de funcionamento dentro de um ecossistema, sustentando a produtividade, mantendo a qualidade ambiental e promovendo a sanidade animal e vegetal. Os primeiros trabalhos científicos que fizeram avaliações de qualidade do solo em função do uso e manejo geralmente focavam em indicadores mais específicos de sub-áreas da Ciência do Solo, desdobrando-a em: qualidade física, qualidade química e qualidade biológica de solos. Mas, atualmente, já está bem consolidado o conceito de que alterações expressivas na qualidade física do solo terão impactos expressivos na qualidade biológica, por exemplo. Ou seja, todo o ambiente edáfico está intimamente ligado em uma complexa rede de processos físicos, químicos e biológicos, e que não faz sentido tentar analisá-los separadamente. Entre as estratégias para melhoria e manutenção da qualidade do solo, a integração lavoura-pecuária (ILP) é uma das mais interessantes do ponto de vista de eficiência para o solo sem abrir mão da produção e geração de renda para o produtor. Ela pode ocorrer ao longo do mesmo ano, com agricultura na safra e pastagem no período seco, ou pode ocorrer ao longo do tempo, com um ou dois anos de lavoura, seguido por um ou dois anos de pastagem, por exemplo. Rotação de culturas Na ILP há necessariamente a rotação de culturas, o que possibilita melhor aproveitamento dos fertilizantes usados, a ciclagem de nutrientes, a diversificação do perfil de raízes, a descompactação do solo, a maior infiltração e retenção de água e a diversidade de exsudatos radiculares. Há ainda o incremento da matéria orgânica e tudo isso favorece o aumento de biodiversidade da microbiota, com efeitos positivos no controle biológico de fitopatógenos. Ao manter a cobertura do solo durante o ano todo, seja com a pastagem ou seja com a palhada no meio da lavoura, a ILP protege o solo da incidência solar direta e da desagregação do solo causada pelo impacto da gota de chuva. A rugosidade que a palhada causa reduz a velocidade da água do escorrimento superficial, possibilitando a infiltração da água e, consequentemente, menor perda de água, com efeitos positivos na recarga do lençol freático que abastece os mananciais daquela sub-bacia hidrográfica. Porém, é importante ressaltar que, mesmo em áreas que utilizam dessa estratégia de produção, o manejo da forrageira é crucial para não haver prejuízos à qualidade do solo. O pisoteio animal excessivo, com pastejo acima da capacidade de suporte da pastagem, certamente levará à degradação do pasto e, consequentemente, uma piora nos indicadores de qualidade do solo, e que irá refletir em produtividades aquém do esperado. Há mais de dez anos a Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT) vem pesquisando sistemas integrados de produção agropecuária e monitorando diversos atributos que ajudam a entender como os diferentes usos do solo impactam na sua qualidade, e consequentemente, identificar os sistemas que promovem melhorias na qualidade do solo. Alguns sistemas de produção em avaliação englobam a integração lavoura-pecuária, com resultados muito promissores em relação à qualidade do solo. Uma avaliação feita no 2° ano de pastejo, em que a ILP era feita com o cultivo de soja de outubro a fevereiro, e na sequência ocorria a semeadura do capim Marandu, mostrou uma melhoria significativa em atributos físicos do solo, com redução da densidade e da resistência à penetração, principalmente na camada de 0 a 10 cm, justamente onde o efeito do pisoteio animal é mais intenso. Essa melhoria resulta em maior infiltração de água e menores perdas de nutrientes nesses sistemas, beneficiando diretamente a produção de grãos e carne nos anos subsequentes. Ciclagem de nutrientes Um outro ponto que merece destaque é a maior eficiência no uso de nutrientes em sistemas de produção integrados, como a ILP. Como já mencionado, a rotação de culturas agrícolas com pastagem promove uma maior diversificação da exploração do solo pelas raízes das plantas, possibilitando a recuperação de parte de nutrientes que não foram aproveitados no cultivo agrícola. Em tempos de preços cada vez mais pressionados no mercado mundial de fertilizantes, poder contar com a ciclagem de nutrientes e aumentar a eficiência no uso dos fertilizantes é praticamente uma obrigação para o produtor se manter competitivo no médio e longo prazo. Consórcios forrageiros Outra estratégia que tem ganhado destaque e contribuiu para melhoria da qualidade da forragem em áreas de ILP é a utilização de consórcios forrageiros, em que a combinação de diferentes espécies de plantas na mesma área propicia serviços ecossistêmicos, como o aumento da matéria orgânica do solo e da diversidade microbiana, intensifica a ciclagem de nutrientes, auxilia no controle de plantas invasoras, controle de nematóides e também na descompactação do solo. Em situações em que a semeadura da segunda safra não seja possível dentro da janela de plantio estabelecida pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), os consórcios forrageiros podem e devem ser levados em consideração pelo produtor. Por fim, é importante comentar que a ILP é uma das principais estratégias para aumentar a produção agropecuária brasileira, já que temos excelentes condições de solo, clima e conhecimento técnico desenvolvido e validado pela pesquisa em todos os biomas brasileiros. Segundo estimativas, podemos dobrar nossa produção de grãos sem precisar derrubar mais nenhuma árvore, apenas utilizando as tecnologias e o conhecimento gerado ao longo dos últimos 50 anos pela Embrapa e parceiros. *Artigo publicado originalmente na edição de março da revista A Granja

De todos os bens que um produtor rural possui, sem dúvidas o mais importante é o solo. É nele que crescem as plantas que irão gerar os frutos, grãos, fibras e o alimento para animais. Com um solo degradado, o produtor perde sua capacidade produtiva e sua fonte de renda. Dessa forma, a conservação do solo e a busca por melhorar a sua qualidade deve ser uma meta prioritária de todos aqueles que atuam no meio rural.

Mas o que vem a ser “Qualidade do Solo”? A definição clássica relaciona a Qualidade do Solo com sua capacidade de funcionamento dentro de um ecossistema, sustentando a produtividade, mantendo a qualidade ambiental e promovendo a sanidade animal e vegetal. Os primeiros trabalhos científicos que fizeram avaliações de qualidade do solo em função do uso e manejo geralmente focavam em indicadores mais específicos de sub-áreas da Ciência do Solo, desdobrando-a em: qualidade física, qualidade química e qualidade biológica de solos. Mas, atualmente, já está bem consolidado o conceito de que alterações expressivas na qualidade física do solo terão impactos expressivos na qualidade biológica, por exemplo. Ou seja, todo o ambiente edáfico está intimamente ligado em uma complexa rede de processos físicos, químicos e biológicos, e que não faz sentido tentar analisá-los separadamente.

Entre as estratégias para melhoria e manutenção da qualidade do solo, a integração lavoura-pecuária (ILP) é uma das mais interessantes do ponto de vista de eficiência para o solo sem abrir mão da produção e geração de renda para o produtor. Ela pode ocorrer ao longo do mesmo ano, com agricultura na safra e pastagem no período seco, ou pode ocorrer ao longo do tempo, com um ou dois anos de lavoura, seguido por um ou dois anos de pastagem, por exemplo.

Rotação de culturas

Na ILP há necessariamente a rotação de culturas, o que possibilita melhor aproveitamento dos fertilizantes usados, a ciclagem de nutrientes, a diversificação do perfil de raízes, a descompactação do solo, a maior infiltração e retenção de água e a diversidade de exsudatos radiculares. Há ainda o incremento da matéria orgânica e tudo isso favorece o aumento de biodiversidade da microbiota, com efeitos positivos no controle biológico de fitopatógenos.

Ao manter a cobertura do solo durante o ano todo, seja com a pastagem ou seja com a palhada no meio da lavoura, a ILP protege o solo da incidência solar direta e da desagregação do solo causada pelo impacto da gota de chuva. A rugosidade que a palhada causa reduz a velocidade da água do escorrimento superficial, possibilitando a infiltração da água e, consequentemente, menor perda de água, com efeitos positivos na recarga do lençol freático que abastece os mananciais daquela sub-bacia hidrográfica.

Porém, é importante ressaltar que, mesmo em áreas que utilizam dessa estratégia de produção, o manejo da forrageira é crucial para não haver prejuízos à qualidade do solo. O pisoteio animal excessivo, com pastejo acima da capacidade de suporte da pastagem, certamente levará à degradação do pasto e, consequentemente, uma piora nos indicadores de qualidade do solo, e que irá refletir em produtividades aquém do esperado.

Há mais de dez anos a Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT) vem pesquisando sistemas integrados de produção agropecuária e monitorando diversos atributos que ajudam a entender como os diferentes usos do solo impactam na sua qualidade, e consequentemente, identificar os sistemas que promovem melhorias na qualidade do solo. Alguns sistemas de produção em avaliação englobam a integração lavoura-pecuária, com resultados muito promissores em relação à qualidade do solo.

Uma avaliação feita no 2° ano de pastejo, em que a ILP era feita com o cultivo de soja de outubro a fevereiro, e na sequência ocorria a semeadura do capim Marandu, mostrou uma melhoria significativa em atributos físicos do solo, com redução da densidade e da resistência à penetração, principalmente na camada de 0 a 10 cm, justamente onde o efeito do pisoteio animal é mais intenso. Essa melhoria resulta em maior infiltração de água e menores perdas de nutrientes nesses sistemas, beneficiando diretamente a produção de grãos e carne nos anos subsequentes.

Ciclagem de nutrientes

Um outro ponto que merece destaque é a maior eficiência no uso de nutrientes em sistemas de produção integrados, como a ILP. Como já mencionado, a rotação de culturas agrícolas com pastagem promove uma maior diversificação da exploração do solo pelas raízes das plantas, possibilitando a recuperação de parte de nutrientes que não foram aproveitados no cultivo agrícola. Em tempos de preços cada vez mais pressionados no mercado mundial de fertilizantes, poder contar com a ciclagem de nutrientes e aumentar a eficiência no uso dos fertilizantes é praticamente uma obrigação para o produtor se manter competitivo no médio e longo prazo.

Consórcios forrageiros

Outra estratégia que tem ganhado destaque e contribuiu para melhoria da qualidade da forragem em áreas de ILP é a utilização de consórcios forrageiros, em que a combinação de diferentes espécies de plantas na mesma área propicia serviços ecossistêmicos, como o aumento da matéria orgânica do solo e da diversidade microbiana, intensifica a ciclagem de nutrientes, auxilia no controle de plantas invasoras, controle de nematóides e também na descompactação do solo. Em situações em que a semeadura da segunda safra não seja possível dentro da janela de plantio estabelecida pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), os consórcios forrageiros podem e devem ser levados em consideração pelo produtor.

Por fim, é importante comentar que a ILP é uma das principais estratégias para aumentar a produção agropecuária brasileira, já que temos excelentes condições de solo, clima e conhecimento técnico desenvolvido e validado pela pesquisa em todos os biomas brasileiros. Segundo estimativas, podemos dobrar nossa produção de grãos sem precisar derrubar mais nenhuma árvore, apenas utilizando as tecnologias e o conhecimento gerado ao longo dos últimos 50 anos pela Embrapa e parceiros.

*Artigo publicado originalmente na edição de março da revista A Granja

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