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Instrumentação para monitorar a água no solo e na planta

Dia Mundial da Água Luís Henrique Bassoi Pesquisador da Embrapa Instrumentação A agricultura irrigada deve-se valer do monitoramento sobre o quanto de água proveniente de corpos hídricos (chamada de água azul) deve ser reposta ao solo durante um cultivo irrigado, ou quanto de água já existe no solo devido à ocorrência de chuvas (chamada de água verde), para determinar quando a irrigação deverá ser realizada, e em qual quantidade. É a realização do manejo de irrigação, que em poucas palavras consiste na utilização de critérios (como o conteúdo de água no solo) para definir quando e quanto irrigar. O mesmo pode ser alcançado utilizando-se de outros critérios, como a evapotranspiração de uma cultura agrícola e o conteúdo de água na planta. Se unirmos esses critérios, que fornecem informações sobre o movimento da água através do solo e da planta para chegar à atmosfera, melhor. Com isso pode-se aplicar a água por um sistema de irrigação específico para a cultura em questão (como irrigar), de modo eficaz (quando irrigar) e eficiente (quanto irrigar). Em 2014–2015 vivenciamos uma crise hídrica que, além de problemas e prejuízos causados à sociedade como um todo, surpreendeu muitas pessoas, pois afetou intensamente as regiões Sudeste e Centro-Oeste, além da região Nordeste do Brasil. Em 2021, as chuvas novamente ocorreram em magnitudes menores que o esperado. De modo contrário, neste ano vivenciamos um verão com números de precipitação pluvial que excedem os valores normais em muitas regiões do Brasil. O monitoramento da água no solo e na planta para o manejo de irrigação é importante em ambas as situações. Nessas últimas duas décadas, em diversos momentos e em diferentes formas, a agricultura irrigada brasileira tem sido questionada de modo equivocado em relação ao uso da água para a produção de biomassa para a alimentação humana ou animal, ou para algum tipo de processamento ou transformação. Nesse mesmo período de tempo tem ocorrido o aparecimento de diversas tecnologias, como a agricultura de precisão, agricultura digital, automação e conectividade. Em algumas situações de aplicação dessas na agricultura esses termos “se confundem”. Além de uma constante evolução, todas essas tecnologias passam por problemas de natureza variada em nosso País, como burocracia para o seu emprego, falta de regulamentação específica, falta de infraestrutura, custo etc. A conectividade no campo, que vem aumentando, talvez possa ser um exemplo que resuma essas dificuldades. A instrumentação, presente nessas tecnologias, pode ser definida como a utilização de técnicas e conhecimentos avançados, métodos, sistemas e instrumentos para o desenvolvimento de equipamentos, metodologias, processos, novos materiais, sensores, medidores, controladores, atuadores, transmissores e processadores de sinal, envolvendo tanto a ciência básica como a aplicada. A instrumentação utilizada para o monitoramento de água no solo e na planta tem se desenvolvido de maneira marcante, mas a sua adoção pelo setor agrícola, independente do tamanho da área que o produtor tenha e do nível de tecnologia que ele adote, ainda é pequena. A dependência de componentes importados, o custo elevado e falta de uma indústria nacional que dê o suporte tecnológico para uma adoção mais ampla são entraves. Há também a necessidade de capacitação do usuário (produtor e/ou técnico), pois o caminho da água do solo para a planta, e desta para a atmosfera, é dinâmico, complexo. Nem sempre é trivial o manuseio para coleta de dados, a interpretação para a geração de informações e a manutenção da instrumentação. Some-se a isso a necessidade de maior compreensão pelos usuários de que a água é um bem finito, e que o seu custo pode não ser menor em relação a outros insumos utilizados na produção agrícola. A água, em muitas situações, não é cobrada como insumo. Talvez passe a ser. Por fim, há quem defenda que hoje o fator terra talvez não seja o mais limitante para a o processo de produção agrícola no Brasil, mas sim a falta de tecnologia adequada para cada tipo de produtor (principalmente os pequenos) e de sistema de produção agrícola. Os profissionais envolvidos com ensino, pesquisa, transferência e difusão de tecnologia, fabricantes e prestadores de serviços, juntamente com os produtores, têm como desafio aumentar o uso da instrumentação na agricultura irrigada brasileira, e contribuir para a sua sustentabilidade.

 

Dia Mundial da Água

Luís Henrique Bassoi

Pesquisador da Embrapa Instrumentação

       A agricultura irrigada deve-se valer do monitoramento sobre o quanto de água proveniente de corpos hídricos (chamada de água azul) deve ser reposta ao solo durante um cultivo irrigado, ou quanto de água já existe no solo devido à ocorrência de chuvas (chamada de água verde), para determinar quando a irrigação deverá ser realizada, e em qual quantidade.

        É a realização do manejo de irrigação, que em poucas palavras consiste na utilização de critérios (como o conteúdo de água no solo) para definir quando e quanto irrigar. O mesmo pode ser alcançado utilizando-se de outros critérios, como a evapotranspiração de uma cultura agrícola e o conteúdo de água na planta.

        Se unirmos esses critérios, que fornecem informações sobre o movimento da água através do solo e da planta para chegar à atmosfera, melhor. Com isso pode-se aplicar a água por um sistema de irrigação específico para a cultura em questão (como irrigar), de modo eficaz (quando irrigar) e eficiente (quanto irrigar).

         Em 2014–2015 vivenciamos uma crise hídrica que, além de problemas e prejuízos causados à sociedade como um todo, surpreendeu muitas pessoas, pois afetou intensamente as regiões Sudeste e Centro-Oeste, além da região Nordeste do Brasil. Em 2021, as chuvas novamente ocorreram em magnitudes menores que o esperado.

        De modo contrário, neste ano vivenciamos um verão com números de precipitação pluvial que excedem os valores normais em muitas regiões do Brasil. O monitoramento da água no solo e na planta para o manejo de irrigação é importante em ambas as situações.

        Nessas últimas duas décadas, em diversos momentos e em diferentes formas, a agricultura irrigada brasileira tem sido questionada de modo equivocado em relação ao uso da água para a produção de biomassa para a alimentação humana ou animal, ou para algum tipo de processamento ou transformação.

         Nesse mesmo período de tempo tem ocorrido o aparecimento de diversas tecnologias, como a agricultura de precisão, agricultura digital, automação e conectividade. Em algumas situações de aplicação dessas na agricultura esses termos “se confundem”.

        Além de uma constante evolução, todas essas tecnologias passam por problemas de natureza variada em nosso País, como burocracia para o seu emprego, falta de regulamentação específica, falta de infraestrutura, custo etc. A conectividade no campo, que vem aumentando, talvez possa ser um exemplo que resuma essas dificuldades.

        A instrumentação, presente nessas tecnologias, pode ser definida como a utilização de técnicas e conhecimentos avançados, métodos, sistemas e instrumentos para o desenvolvimento de equipamentos, metodologias, processos, novos materiais, sensores, medidores, controladores, atuadores, transmissores e processadores de sinal, envolvendo tanto a ciência básica como a aplicada.

        A instrumentação utilizada para o monitoramento de água no solo e na planta tem se desenvolvido de maneira marcante, mas a sua adoção pelo setor agrícola, independente do tamanho da área que o produtor tenha e do nível de tecnologia que ele adote, ainda é pequena. A dependência de componentes importados, o custo elevado e falta de uma indústria nacional que dê o suporte tecnológico para uma adoção mais ampla são entraves.

        Há também a necessidade de capacitação do usuário (produtor e/ou técnico), pois o caminho da água do solo para a planta, e desta para a atmosfera, é dinâmico, complexo. Nem sempre é trivial o manuseio para coleta de dados, a interpretação para a geração de informações e a manutenção da instrumentação.

        Some-se a isso a necessidade de maior compreensão pelos usuários de que a água é um bem finito, e que o seu custo pode não ser menor em relação a outros insumos utilizados na produção agrícola. A água, em muitas situações, não é cobrada como insumo. Talvez passe a ser.

        Por fim, há quem defenda que hoje o fator terra talvez não seja o mais limitante para a o processo de produção agrícola no Brasil, mas sim a falta de tecnologia adequada para cada tipo de produtor (principalmente os pequenos) e de sistema de produção agrícola.

        Os profissionais envolvidos com ensino, pesquisa, transferência e difusão de tecnologia, fabricantes e prestadores de serviços, juntamente com os produtores, têm como desafio aumentar o uso da instrumentação na agricultura irrigada brasileira, e contribuir para a sua sustentabilidade.

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