A teníase causada pela “tênia” (Taenia saginata), também conhecida por “solitária”, é uma velha conhecida da saúde humana. A cisticercose, por sua vez, é uma doença de bovinos, causada pelas larvas dessa solitária, chamadas de cisticercos. Essa relação teníase-cisticercose acarreta problemas ambientais e sanitários com alto impacto na saúde pública. Dessa forma, pesquisadores da Embrapa e parceiros decidiram sob a ótica One Health (Saúde Única) encarar esse complexo cenário. Uma das iniciativas é o desenvolvimento de uma vacina a partir de duas proteínas denominadas TSA-9 e TSA-18. A tecnologia do DNA recombinante é a adotada nos estudos por ser reconhecida e aprovada pela comunidade científica. “O objetivo da vacina é impedir o desenvolvimento dos cisticercos no animal imunizado, minimizando prejuízos”, afirma o imunologista da Embrapa (Campo Grande-MS), Flabio Araújo. O pesquisador (foto à dir.) é o coordenador de um projeto em execução desde 2023, no qual o resultado pode colaborar com a interrupção do ciclo do parasita. Os especialistas da Embrapa ao lado de cientistas da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Federal de Goiás (UFG) conduzem a proposta financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “O uso de uma vacina pode trazer, além da proteção direta contra a doença, benefícios para toda a cadeia produtiva da carne bovina, garantindo mais segurança, rentabilidade e qualidade da carne, impactando positivamente na economia e saúde pública”, complementa Lenita Ramos. A pesquisadora em biologia molecular comenta também que algumas proteínas estão em avaliação para uso em testes de diagnóstico. A equipe do projeto considera essa combinação – testes diagnósticos precisos e vacinação – uma estratégia eficaz para o controle sustentável da cisticercose. Ciclo do parasita e consumo humano Até a chegada de uma vacina no mercado, eles reforçam medidas de prevenção direcionadas ao ser humano, como consumo de carne bovina bem cozida ou assada e com selo de inspeção; ingestão de água de fontes limpas ou fervida/tratada; saneamento residencial básico; e consumo de frutas e verduras bem lavadas. O uso correto de sanitário, seguido por higienização das mãos é outra recomendação. Aparentemente usual, a prática quando executada de forma inadequada é fonte de contaminação. Isso porque a pessoa infectada com a “tênia” contamina o ambiente depositando suas fezes em locais irregulares. Os animais (nesse caso, os bois) entram em contato com o ambiente contaminado e ingerem os ovos do parasita. As larvas (cisticercos) se alojam no corpo do animal, que depois são consumidos pelo ser humano. A larva da “tênia’ se fixa e se desenvolve no corpo do hospedeiro (ser humano) e pode chegar a quatro metros de comprimento. O ciclo de vida de T. saginata compreende as fases de ovo, cisticerco e tênia adulta (solitária) e os ovos podem permanecer vivos no pasto ou no meio ambiente entre quatro e doze meses. Dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura e Pecuária apontam que a prevalência da cisticercose em bovinos abatidos e inspecionados, entre 2007 a 2010, foi de 1,05%, com maior ocorrência em SP (3,34%), SC (3,17%), RS (3,12%), PR (2,91%), MS (1,34%) e RJ (1,13%). Em prejuízos econômicos, estudos regionais fornecem estimativas com valores próximos a 100 milhões de reais. Os dados evidenciam que, mesmo em análises regionais, os prejuízos são expressivos. Devido a um maior rigor no destino das carcaças infectadas, Decreto nº 10.468/2020, o achado de um único cisticerco viável ou calcificado leva a carcaça ao tratamento condicional pelo frio ou pelo calor, após a remoção, e à condenação da área atingida. A partir dessa medida, a legislação brasileira alinhou-se à internacional, como a adotada pela União Europeia. Divulgação e conscientização As medidas de controle da teníase/cisticercose, no enfoque Saúde Única, não dissociam saúde humana, animal e ambiental. É importante avaliar as condições econômicas, sociais e culturais de cada ambiente. Diante disso, os cientistas atuam levando conscientização sobre os perigos da doença a escolas públicas da capital sul-mato-grossense, rurais e urbanas. No ano passado, a equipe de Lenita e Flabio visitou a Escola Municipal Rural Darthesy Novaes Caminha e a Escola Estadual Prof. Silvio Oliveira dos Santos, atingindo ao redor de 100 (cem) estudantes. Outra iniciativa é o podcast Cisticercose em Foco, fruto do projeto em execução, disponível nas plataformas de mídia, como youtube e spotify. São sete episódios, de doze a 25 minutos, em formato de entrevista, conduzidos pela jornalista Thayssa Maluf, especialista em saúde, em companhia de pesquisadores da área.
A teníase causada pela “tênia” (Taenia saginata), também conhecida por “solitária”, é uma velha conhecida da saúde humana. A cisticercose, por sua vez, é uma doença de bovinos, causada pelas larvas dessa solitária, chamadas de cisticercos. Essa relação teníase-cisticercose acarreta problemas ambientais e sanitários com alto impacto na saúde pública. Dessa forma, pesquisadores da Embrapa e parceiros decidiram sob a ótica One Health (Saúde Única) encarar esse complexo cenário.
Uma das iniciativas é o desenvolvimento de uma vacina a partir de duas proteínas denominadas TSA-9 e TSA-18. A tecnologia do DNA recombinante é a adotada nos estudos por ser reconhecida e aprovada pela comunidade científica. “O objetivo da vacina é impedir o desenvolvimento dos cisticercos no animal imunizado, minimizando prejuízos”, afirma o imunologista da Embrapa (Campo Grande-MS), Flabio Araújo.
O pesquisador (foto à dir.) é o coordenador de um projeto em execução desde 2023, no qual o resultado pode colaborar com a interrupção do ciclo do parasita. Os especialistas da Embrapa ao lado de cientistas da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Federal de Goiás (UFG) conduzem a proposta financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“O uso de uma vacina pode trazer, além da proteção direta contra a doença, benefícios para toda a cadeia produtiva da carne bovina, garantindo mais segurança, rentabilidade e qualidade da carne, impactando positivamente na economia e saúde pública”, complementa Lenita Ramos. A pesquisadora em biologia molecular comenta também que algumas proteínas estão em avaliação para uso em testes de diagnóstico. A equipe do projeto considera essa combinação – testes diagnósticos precisos e vacinação – uma estratégia eficaz para o controle sustentável da cisticercose.
Ciclo do parasita e consumo humano
Até a chegada de uma vacina no mercado, eles reforçam medidas de prevenção direcionadas ao ser humano, como consumo de carne bovina bem cozida ou assada e com selo de inspeção; ingestão de água de fontes limpas ou fervida/tratada; saneamento residencial básico; e consumo de frutas e verduras bem lavadas.
O uso correto de sanitário, seguido por higienização das mãos é outra recomendação. Aparentemente usual, a prática quando executada de forma inadequada é fonte de contaminação. Isso porque a pessoa infectada com a “tênia” contamina o ambiente depositando suas fezes em locais irregulares. Os animais (nesse caso, os bois) entram em contato com o ambiente contaminado e ingerem os ovos do parasita. As larvas (cisticercos) se alojam no corpo do animal, que depois são consumidos pelo ser humano.
A larva da “tênia’ se fixa e se desenvolve no corpo do hospedeiro (ser humano) e pode chegar a quatro metros de comprimento. O ciclo de vida de T. saginata compreende as fases de ovo, cisticerco e tênia adulta (solitária) e os ovos podem permanecer vivos no pasto ou no meio ambiente entre quatro e doze meses.
Dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura e Pecuária apontam que a prevalência da cisticercose em bovinos abatidos e inspecionados, entre 2007 a 2010, foi de 1,05%, com maior ocorrência em SP (3,34%), SC (3,17%), RS (3,12%), PR (2,91%), MS (1,34%) e RJ (1,13%). Em prejuízos econômicos, estudos regionais fornecem estimativas com valores próximos a 100 milhões de reais. Os dados evidenciam que, mesmo em análises regionais, os prejuízos são expressivos.
Devido a um maior rigor no destino das carcaças infectadas, Decreto nº 10.468/2020, o achado de um único cisticerco viável ou calcificado leva a carcaça ao tratamento condicional pelo frio ou pelo calor, após a remoção, e à condenação da área atingida. A partir dessa medida, a legislação brasileira alinhou-se à internacional, como a adotada pela União Europeia.
Divulgação e conscientização
As medidas de controle da teníase/cisticercose, no enfoque Saúde Única, não dissociam saúde humana, animal e ambiental. É importante avaliar as condições econômicas, sociais e culturais de cada ambiente.
Diante disso, os cientistas atuam levando conscientização sobre os perigos da doença a escolas públicas da capital sul-mato-grossense, rurais e urbanas. No ano passado, a equipe de Lenita e Flabio visitou a Escola Municipal Rural Darthesy Novaes Caminha e a Escola Estadual Prof. Silvio Oliveira dos Santos, atingindo ao redor de 100 (cem) estudantes.
Outra iniciativa é o podcast Cisticercose em Foco, fruto do projeto em execução, disponível nas plataformas de mídia, como youtube e spotify. São sete episódios, de doze a 25 minutos, em formato de entrevista, conduzidos pela jornalista Thayssa Maluf, especialista em saúde, em companhia de pesquisadores da área.