Uma iniciativa da Embrapa Meio Ambiente reuniu cerca de 50 jovens da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri e Epitaciolândia, no Acre, com o objetivo de estimular a permanência dos jovens no campo e fortalecer a sucessão familiar. Entre 28 de outubro e 2 de novembro, pesquisadores realizaram trabalho em campo e duas oficinas, uma na Reserva Chico Mendes e outra numa escola rural de Epitaciolândia, com atividades voltadas para incentivar o diálogo entre as gerações, fomentar a bioeconomia e apoiar o desenvolvimento sustentável das famílias extrativistas. Esses jovens atuam principalmente na extração de látex de seringueiras, na pecuária de pequeno porte e no manejo de castanhas, conforme explicou Ivan Alvarez, pesquisador da Embrapa e coordenador da oficina. “Buscamos promover um espaço de troca e reflexão para que esses jovens percebam o potencial econômico das atividades que desenvolvem em suas terras. A ideia é que eles possam ver o extrativismo como uma oportunidade rentável e sustentável, e que possam contribuir para a continuidade dessa atividade nas gerações futuras”, afirmou o pesquisador. O conceito de bioeconomia foi central durante as atividades da oficina, que abordou maneiras de agregar valor ao trabalho extrativista com um enfoque sustentável, tanto no aspecto econômico quanto ambiental. De acordo com Alvarez, as práticas extrativistas locais têm potencial para gerar renda, e é importante que os jovens se sintam motivados a dar continuidade a esse trabalho. Para demonstrar o impacto positivo da bioeconomia na renda familiar e na sustentabilidade, foram compartilhados casos de sucesso de jovens que permaneceram no campo e prosperaram por meio dessas atividades. Os participantes puderam interagir com esses exemplos, o que reforça o papel do extrativismo no desenvolvimento local e pode inspirar outros jovens a seguir o mesmo caminho. Inclusão digital e troca de experiências Outro ponto abordado foi a inclusão digital dos jovens da reserva. Todos os participantes foram entrevistados para que os pesquisadores pudessem entender o grau de acesso à tecnologia entre eles. Com base nessas informações, foi promovida uma atividade com foco em casos de sucesso de empreendimentos rurais e extrativistas que utilizam a tecnologia para inovar e melhorar suas práticas. A inclusão digital, nesse contexto, é vista como uma ferramenta para aprimorar o conhecimento e expandir as possibilidades de crescimento econômico e sustentável. O uso de vídeos também foi uma estratégia da oficina para conectar os jovens a um diálogo profundo sobre o significado de permanecer no campo. Os vídeos exibidos provocaram reflexões sobre os sonhos e os sentimentos dos jovens em relação ao futuro no meio rural. “A ideia é que esses materiais audiovisuais estimulem o autoconhecimento e a valorização das atividades tradicionais, incentivando os participantes a se associarem e a desenvolverem ideias inovadoras em conjunto”, salienta Alvarez. Diálogo entre pais e filhos no planejamento rural Para além do incentivo econômico e tecnológico, a oficina também focou no fortalecimento do diálogo entre pais e filhos. O analista Sandro Pereira, também facilitador do evento, explicou que a proposta incluiu atividades voltadas para o planejamento conjunto das propriedades, envolvendo as gerações na tomada de decisões. As divergências entre gerações, conforme Alvarez enfatizou, também foram tratadas como um ponto natural do processo de sucessão. “A oficina buscou mostrar que, com diálogo, é possível superar diferenças. Queremos que eles entendam que as divergências podem ser resolvidas com conversas, respeitando o papel de cada um na família e no trabalho rural”, acrescentou Pereira. Os pais participaram ativamente da oficina e da construção em conjunto entre pais e filhos, por isso foi sugerido que eles reservem um momento semanal para planejar a propriedade juntos, prática essa que ajuda a alinhar as expectativas e os objetivos familiares e fortalece a estrutura da sucessão rural. A oficina em Xapuri é parte de uma série de iniciativas que a Embrapa Meio Ambiente promove em diversas regiões do Brasil para fortalecer o extrativismo sustentável e apoiar a permanência de jovens no campo. O produtor do Seringal Cachoeira, Antonio Mendes, destacou a importância da troca de ideias com a Embrapa e com outros técnicos presentes. Para Mendes, é fundamental que essas instituições entendam as principais necessidades da região para oferecerem apoio mais eficaz às comunidades locais. “Foi muito importante essa troca. Eles precisam saber o que realmente precisamos para poderem ajudar mais”, afirmou o produtor, que tem no extrativismo sua principal fonte de sustento. No evento, também foi discutido o tema da sucessão rural e o papel dessa estratégia para aproximar pais e filhos e incentivar a permanência dos jovens nas propriedades familiares. André da Silva Maciel, extrativista que trabalha com castanha do Brasil, agricultura, pecuária e também investe no café robusta amazônico, além de conselheiro deliberativo da Reserva Chico Mendes, enfatizou a necessidade de uma abordagem diferenciada para o Acre, distinta da aplicada em outras regiões do país. Segundo ele, é essencial que o trabalho inclua a implementação de atividades práticas“. Segundo ele, é essencial que o trabalho inclua a implementação de atividades práticas. “No Acre, precisamos de uma estratégia que realmente faça a diferença. Temos um parceiro importante, a Cooperacra, que atua na cadeia produtiva da castanha e está construindo uma indústria de frutas capaz de processar até 12 milhões de quilos, com possibilidade de expansão para 22 milhões de quilos por ano. Queremos que a regional do Alto Acre participe ativamente dessas iniciativas. A cooperativa também começou a investir em plantações de café, que têm sido bem aceitas pela população. Acredito que, ao proporcionar renda, podemos alcançar sucesso na questão da sucessão rural”, disse Maciel. Durante o encontro, Maciel compartilhou sua experiência pessoal, ressaltando que buscou plantar a ideia de que é possível viver dignamente de uma produção sustentável. “Temos uma base científica e tecnológica para isso, só precisamos trazê-la e implementá-la na nossa região. Também mostrei que a Reserva Chico Mendes não impede o progresso. Podemos usar até 10% das áreas para produção, inclusive com pecuária, desde que respeitando os limites legais. Nós, criadores da reserva, sempre fomos contra a grilagem de terras e o desmatamento descontrolado. Creio que consegui passar essa visão de que é possível produzir de forma sustentável e legal dentro da reserva.” Reserva Extrativista Chico Mendes A Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada em 1990 e foi pioneira no conceito de unidade de conservação de uso sustentável, onde as populações tradicionais têm a permissão de, não apenas morar dentro da Resex, mas também realizar o extrativismo de bens naturais, como a castanha, a borracha e o açaí.
Uma iniciativa da Embrapa Meio Ambiente reuniu cerca de 50 jovens da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri e Epitaciolândia, no Acre, com o objetivo de estimular a permanência dos jovens no campo e fortalecer a sucessão familiar.
Entre 28 de outubro e 2 de novembro, pesquisadores realizaram trabalho em campo e duas oficinas, uma na Reserva Chico Mendes e outra numa escola rural de Epitaciolândia, com atividades voltadas para incentivar o diálogo entre as gerações, fomentar a bioeconomia e apoiar o desenvolvimento sustentável das famílias extrativistas.
Esses jovens atuam principalmente na extração de látex de seringueiras, na pecuária de pequeno porte e no manejo de castanhas, conforme explicou Ivan Alvarez, pesquisador da Embrapa e coordenador da oficina. “Buscamos promover um espaço de troca e reflexão para que esses jovens percebam o potencial econômico das atividades que desenvolvem em suas terras. A ideia é que eles possam ver o extrativismo como uma oportunidade rentável e sustentável, e que possam contribuir para a continuidade dessa atividade nas gerações futuras”, afirmou o pesquisador.
O conceito de bioeconomia foi central durante as atividades da oficina, que abordou maneiras de agregar valor ao trabalho extrativista com um enfoque sustentável, tanto no aspecto econômico quanto ambiental. De acordo com Alvarez, as práticas extrativistas locais têm potencial para gerar renda, e é importante que os jovens se sintam motivados a dar continuidade a esse trabalho.
Para demonstrar o impacto positivo da bioeconomia na renda familiar e na sustentabilidade, foram compartilhados casos de sucesso de jovens que permaneceram no campo e prosperaram por meio dessas atividades. Os participantes puderam interagir com esses exemplos, o que reforça o papel do extrativismo no desenvolvimento local e pode inspirar outros jovens a seguir o mesmo caminho.
Inclusão digital e troca de experiências
Outro ponto abordado foi a inclusão digital dos jovens da reserva. Todos os participantes foram entrevistados para que os pesquisadores pudessem entender o grau de acesso à tecnologia entre eles. Com base nessas informações, foi promovida uma atividade com foco em casos de sucesso de empreendimentos rurais e extrativistas que utilizam a tecnologia para inovar e melhorar suas práticas. A inclusão digital, nesse contexto, é vista como uma ferramenta para aprimorar o conhecimento e expandir as possibilidades de crescimento econômico e sustentável.
O uso de vídeos também foi uma estratégia da oficina para conectar os jovens a um diálogo profundo sobre o significado de permanecer no campo. Os vídeos exibidos provocaram reflexões sobre os sonhos e os sentimentos dos jovens em relação ao futuro no meio rural. “A ideia é que esses materiais audiovisuais estimulem o autoconhecimento e a valorização das atividades tradicionais, incentivando os participantes a se associarem e a desenvolverem ideias inovadoras em conjunto”, salienta Alvarez.
Diálogo entre pais e filhos no planejamento rural
Para além do incentivo econômico e tecnológico, a oficina também focou no fortalecimento do diálogo entre pais e filhos. O analista Sandro Pereira, também facilitador do evento, explicou que a proposta incluiu atividades voltadas para o planejamento conjunto das propriedades, envolvendo as gerações na tomada de decisões.
As divergências entre gerações, conforme Alvarez enfatizou, também foram tratadas como um ponto natural do processo de sucessão. “A oficina buscou mostrar que, com diálogo, é possível superar diferenças. Queremos que eles entendam que as divergências podem ser resolvidas com conversas, respeitando o papel de cada um na família e no trabalho rural”, acrescentou Pereira.
Os pais participaram ativamente da oficina e da construção em conjunto entre pais e filhos, por isso foi sugerido que eles reservem um momento semanal para planejar a propriedade juntos, prática essa que ajuda a alinhar as expectativas e os objetivos familiares e fortalece a estrutura da sucessão rural.
A oficina em Xapuri é parte de uma série de iniciativas que a Embrapa Meio Ambiente promove em diversas regiões do Brasil para fortalecer o extrativismo sustentável e apoiar a permanência de jovens no campo.
O produtor do Seringal Cachoeira, Antonio Mendes, destacou a importância da troca de ideias com a Embrapa e com outros técnicos presentes. Para Mendes, é fundamental que essas instituições entendam as principais necessidades da região para oferecerem apoio mais eficaz às comunidades locais. “Foi muito importante essa troca. Eles precisam saber o que realmente precisamos para poderem ajudar mais”, afirmou o produtor, que tem no extrativismo sua principal fonte de sustento.
No evento, também foi discutido o tema da sucessão rural e o papel dessa estratégia para aproximar pais e filhos e incentivar a permanência dos jovens nas propriedades familiares. André da Silva Maciel, extrativista que trabalha com castanha do Brasil, agricultura, pecuária e também investe no café robusta amazônico, além de conselheiro deliberativo da Reserva Chico Mendes, enfatizou a necessidade de uma abordagem diferenciada para o Acre, distinta da aplicada em outras regiões do país. Segundo ele, é essencial que o trabalho inclua a implementação de atividades práticas“. Segundo ele, é essencial que o trabalho inclua a implementação de atividades práticas. “No Acre, precisamos de uma estratégia que realmente faça a diferença. Temos um parceiro importante, a Cooperacra, que atua na cadeia produtiva da castanha e está construindo uma indústria de frutas capaz de processar até 12 milhões de quilos, com possibilidade de expansão para 22 milhões de quilos por ano. Queremos que a regional do Alto Acre participe ativamente dessas iniciativas. A cooperativa também começou a investir em plantações de café, que têm sido bem aceitas pela população. Acredito que, ao proporcionar renda, podemos alcançar sucesso na questão da sucessão rural”, disse Maciel.
Durante o encontro, Maciel compartilhou sua experiência pessoal, ressaltando que buscou plantar a ideia de que é possível viver dignamente de uma produção sustentável. “Temos uma base científica e tecnológica para isso, só precisamos trazê-la e implementá-la na nossa região. Também mostrei que a Reserva Chico Mendes não impede o progresso. Podemos usar até 10% das áreas para produção, inclusive com pecuária, desde que respeitando os limites legais. Nós, criadores da reserva, sempre fomos contra a grilagem de terras e o desmatamento descontrolado. Creio que consegui passar essa visão de que é possível produzir de forma sustentável e legal dentro da reserva.”
Reserva Extrativista Chico Mendes
A Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada em 1990 e foi pioneira no conceito de unidade de conservação de uso sustentável, onde as populações tradicionais têm a permissão de, não apenas morar dentro da Resex, mas também realizar o extrativismo de bens naturais, como a castanha, a borracha e o açaí.