A Caravana do Licuri, realizada entre 13 e 18 de outubro, promoveu um rico intercâmbio de experiências sobre o uso e o manejo do Licuri (Syagrus coronata), uma palmeira considerada sagrada pelos povos da Caatinga, presente nos estados de Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco e no norte de Minas Gerais. Também conhecido como Ouricuri, recebe outros nomes como aricuri, uricuri, alicuri, dicori, dentre outros, sendo de grande importância alimentar, socioeconômica, cultural e ecológica para as comunidades tradicionais e agricultores familiares. Organizada pela Embrapa Alimentos e Territórios, em parceria com o Instituto Terraviva (ITV) e a Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), a caravana contou com a participação de representantes de oito comunidades indígenas e quilombolas de Alagoas e Pernambuco, percorrendo quase 3 mil quilômetros entre os estados de Alagoas e da Bahia, sendo este último o estado com maior ocorrência da espécie. A jornada teve início na Associação Comunitária Baixa do Galo, território indígena Koiupanká em Inhapi (AL), onde os participantes compartilharam saberes com uma associação de mulheres que utilizam o coco Licuri para fabricar broas, bolos artesanais e doces, incluindo um brigadeiro de Licuri com banana. As mulheres da associação apresentaram seus produtos e contaram um pouco da história da comunidade e sua relação com o Licuri que remonta várias gerações. O representante da Associação, Marco Toakakoiupanka, falou sobre os diferentes usos do Licuri pelo seu povo. “Nossa essência sempre foi catar o coco licuri, quebrar, tirar a bolinha (amêndoa) e a partir dele fazer a nossa produção”, conta. Segundo Marco, seus antepassados cortavam o “olho” do coco licuri e pisado para tirar uma tapioca para fazer uma papinha para dar de comer aos filhos, era isso que a minha avó fazia”, lembra. Ele também conta que o coquinho do Licuri eram utilizados somente em duas épocas do ano, na Semana Santa e no período do São João, juntamente com o peixe, a umbuzada, o pé de moleque, os doces, o bolo de mandioca e milho com o licuri e o cuscuz. Sobre o intercâmbio, Toakakoiupanka relata que enxergou a possibilidade de aumentar a renda na associação e passar a produzir outros produtos, como sorvete, picolé, além de comprar maquinário para extrair o óleo e a fécula do coquinho Licuri para produzir farinha, tudo isso sem perder a essência e as raízes culturais de seu povo no que se refere ao extrativismo e processamento do Licuri. Visita à COOPERCUC – Outra experiência visitada foi em Uauá (BA) na unidade de beneficiamento de sorvetes e picolés da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), localizado na Comunidade Tradicional Fundo de Pasto Laje das Aroeiras. No local, foi apresentada a história da associação da comunidade e os primeiros trabalhos das mulheres, ainda no início dos anos 2000, com o beneficiamento e processamento do Umbuzeiro e atualmente na modernização da unidade de beneficiamento, com a aquisição de máquinas e adequação para atender a vigilância sanitária para produção e comercialização de picolés e sorvetes, de diversos sabores, como Licuri, Umbu, Maracujá da Caatinga, Buriti, entre outros. A próxima parada da caravana foi em Monte Santo (BA), na loja “Monte Sabores” da Cooperativa Regional de Agricultores Familiares e Extrativistas da Economia Solidária (COOPERSABOR), onde são comercializados produtos como biscoitos, cerveja, licor, balinhas, licuri torrado com sal, caramelizado e cosméticos como cremes, sabonetes, dentre outros. O grupo também participou de uma roda de conversa com a direção da Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (ARESOL), que atua com um fundo solidário rotativo para apoiar empreendimentos sociais, incluindo projetos ligados ao processamento e beneficiamento do licuri. A Escola Família Agrícola (EFA) de Monte Santo foi um dos empreendimentos solidários que a caravana visitou No local, foi realizada uma roda de diálogo com monitores e alunos destacando a importância da sociobiodiversidade e o papel do Licuri na dinâmica das famílias. A escola possui quase vinte anos de pesquisa e experimentação no desenvolvimento de máquinas e equipamentos para despolpa, quebra e extração de óleo do Licuri. Atualmente produzem azeite, óleo, cosméticos, cremes cicatrizantes e ração animal. Visita à COOPES – Outro município percorrido foi Capim Grosso (BA), onde os participantes conheceram a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) que, há 20 anos, reúne comunidades de sete municípios e trabalha com mais de 20 (vinte) produtos derivados do licuri. Tradicionalmente, as mulheres da região quebram o licuri na pedra e fornecem para a COOPES cerca de seis toneladas/ano para a produção de alimentos, como licuri torrado com sal, caramelizado, farinha, azeite, óleo, etc. O cofundador e coordenador de relações institucionais da COOPES, Valdivino Araújo (Dino), recebeu a caravana. Ele conta que nos últimos anos a cooperativa realizou esforços para fazer chegar as políticas públicas do estado da Bahia às comunidades e famílias extrativistas, e que isso foi fundamental para ajudar a desenvolver o território. “Ações de pesquisa, extensão, capacitação e formação ajudaram na valorização econômica do licuri e a colocá-lo em mercados estratégicos, e na valorização da cultura e da espécie, também resultando no sentimento de pertencimento das comunidades para a preservação dos ouricurizeiros”, afirmou. A COOPES vem se modernizando com a instalação de unidades de pré-beneficiamento do Licuri nas comunidades, com máquinas de dispela e quebra do coco, além de equipamentos na fábrica para secagem, beneficiamento e extração do azeite e óleo. Os participantes puderam observar de perto os avanços no processamento do licuri, por meio do desenvolvimento de maquinário e logística de produção na unidade, bem como no funcionamento de uma loja especializada em produtos de espécie. “Os grupos puderam ver de perto os avanços que ocorreram nos últimos anos e o que os cooperados conseguiram em termos de processamento e maquinário. A Coopes demonstrou que possui uma inserção potente no mercado, a ponto de não conseguirem atender toda a demanda pelos produtos”, observou o pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios, Fernando Curado. As famosas “Festas do Licuri”, que em Capim Grosso está em sua 13ª edição, também foram mencionadas como uma demonstração da inserção do Licuri na cultura e no turismo local, reunindo 165 empreendimentos solidários. Além de Capim Grosso, as festas ocorrem, tradicionalmente, nos municípios baianos de Quixabeira, Serrolândia, Várzea da Roça, Mairi, São José do Jacuípe, Várzea do Poço e Caldeirão Grande. Maria Célia Nogueira, do Quilombo Santo Antônio (Palestina/AL), diz que o intercâmbio do licuri foi muito importante para compreender o valor dessa espécie no estado da Bahia. “Não estávamos sabendo utilizá-lo e explorar tudo o que o aricuri é capaz de oferecer. Ganhamos mais conhecimento com essa caravana para explorar mais o licuri e o umbuzeiro no nosso quilombo”, afirma. Célia conta que atualmente aproveita o leite do Licuri para usar em bolos de massa puba, macaxeira, arroz doce e mungunzá, leite e feijão de coco, principalmente na Semana Santa. “A partir do intercâmbio, vamos tirar mais proveito do Aricuri, como o caramelizado, a cocada e o doce. Ainda não temos o maquinário para extrair o óleo e fazer o sorvete, mas quem sabe um dia conseguimos. Gratidão a tudo isso que aconteceu”. Chapada Diamantina – A última parada da caravana foi na Chapada Diamantina, no distrito de Campos de São João (Palmeiras/BA), onde os participantes conheceram a Casa de Maria, organização social voltada para o desenvolvimento da comunidade, criadora da marca “Licuri de Maria”, que promove a sociobiodiversidade e geração de renda com as mulheres do território. Na Casa de Maria, o grupo participou de uma oficina de preparo de sorvete de Licuri e também experienciou a extração do óleo de Licuri com o uso de equipamentos desenvolvidos pela organização social e parceiros. Os participantes apreciaram ainda uma demonstração de Dona Vera sobre a confecção artesanal de bolsa de palha de Licuri, um produto típico da região da Chapada Diamantina e fonte de renda para muitas famílias desde a década de 1960. Bruna Ferreira, representante da Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), enfatizou a importância e o impacto do intercâmbio para as comunidades extrativistas. “A caravana foi uma oportunidade para unir as comunidades em torno do Licuri, promovendo uma rica troca de saberes que valoriza o conhecimento local e destaca o papel fundamental das mulheres na economia do território. Esse encontro foi mais do que uma troca técnica, foi um momento de reafirmar o Licuri como um símbolo de resistência e sustentabilidade para essas comunidades”, afirmou. Para Bruna, ao compartilhar métodos de beneficiamento, foram fortalecidas as redes de cooperação que garantem que a tradição do Licuri continue a beneficiar as gerações futuras. Para o pesquisador da Embrapa Fernando Curado, a caravana trouxe pistas para uma possível estruturação de rede de povos que manejam e utilizam o Licuri, e, a depender das articulações desses povos nos territórios, a proposição de uma “Rota do Licuri” na região, a exemplo de outras Rotas de Integração Nacional que já existem no Nordeste, como a Rota do Mel, do Leite, da Cachaça, do Pescado, conectando a Bahia com Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Norte de Minas Gerais. Importância do Licuri – O licurizeiro tem grande importância na cultura do sertanejo, fornece alimento para pessoas e animais silvestres, forragens, complemento nutricional para criatórios e matéria-prima para artesanato. Suas amêndoas também são bastante nutritivas. “Ouvimos muitos relatos de como o Licuri faz parte da cultura das comunidades tradicionais, que associam conhecimentos, saberes e práticas de uso e manejo das diferentes partes da planta, desde o aproveitamento alimentar do coco, a polpa e o palmito, que compõem uma diversidade de receitas tradicionais, além do uso medicinal do óleo e o aproveitamento das palhas na confecção de artesanato e cobertura das casas. O Licuri faz parte da memória biocultural dos povos e comunidades tradicionais do Semiárido, que conservam e manejam secularmente em seus territórios extensas áreas com a presença desta palmeira”, contou o analista da Embrapa Alimentos e Territórios, Fabrício Bianchini. As experiências visitadas demonstram uma importante parceria entre a sociedade civil organizada e organizações públicas estaduais e federais, seja no desenvolvimento de pesquisas para novas máquinas e equipamentos, ou de novos produtos alimentares, cosméticos ou medicinais, além de pesquisas sobre o uso, manejo e a conservação da espécie. “Atualmente os empreendimentos com o Licuri estão pautados em uma economia solidária, criativa, circular e de valorização da biodiversidade”, comenta Bianchini. “Durante a caravana, tivemos a oportunidade de visitar diversas experiências bem-sucedidas de beneficiamento do ouricuri, o que resultou em um valioso intercâmbio de saberes e estimulou o desejo de consolidar uma rede de extrativistas”, comenta a bióloga e consultora do Instituto Terraviva, Nínive Paes. Nínive também relembrou as histórias que escutou sobre como o Licuri tem sido parte fundamental da alimentação das comunidades desde tempos remotos, sobre a abundância das matas de Licuri no passado e os desafios que enfrentaram ao longo do tempo. “Em nossos diálogos, enfatizamos a importância do extrativismo sustentável e a necessidade urgente de evitar o uso irracional deste recurso precioso através da disseminação das melhores práticas para a sua extração da natureza, sempre com um olhar voltado para as gerações futuras, para que o Licuri continue a ser uma fonte de sustento e cultura para nossas comunidades”, concluiu. *Participaram da caravana representantes do Quilombo Santo Antônio (Palestina/AL), Quilombo Tupete (Canapi/AL); Quilombo Lagoa do Algodão (Carneiros/AL); Quilombo Mameluco (Taquarana/AL); Povo Indígena Geripankó (Pariconha/AL); Povo Indígena Koiupanká (Inhapi/AL); Povo Indígena Kapinawá (Buíque/PE); Povo Indígena Xukuru de Ororubá (Pesqueira/PE)
A Caravana do Licuri, realizada entre 13 e 18 de outubro, promoveu um rico intercâmbio de experiências sobre o uso e o manejo do Licuri (Syagrus coronata), uma palmeira considerada sagrada pelos povos da Caatinga, presente nos estados de Alagoas, Bahia, Sergipe, Pernambuco e no norte de Minas Gerais. Também conhecido como Ouricuri, recebe outros nomes como aricuri, uricuri, alicuri, dicori, dentre outros, sendo de grande importância alimentar, socioeconômica, cultural e ecológica para as comunidades tradicionais e agricultores familiares.
Organizada pela Embrapa Alimentos e Territórios, em parceria com o Instituto Terraviva (ITV) e a Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), a caravana contou com a participação de representantes de oito comunidades indígenas e quilombolas de Alagoas e Pernambuco, percorrendo quase 3 mil quilômetros entre os estados de Alagoas e da Bahia, sendo este último o estado com maior ocorrência da espécie.
A jornada teve início na Associação Comunitária Baixa do Galo, território indígena Koiupanká em Inhapi (AL), onde os participantes compartilharam saberes com uma associação de mulheres que utilizam o coco Licuri para fabricar broas, bolos artesanais e doces, incluindo um brigadeiro de Licuri com banana. As mulheres da associação apresentaram seus produtos e contaram um pouco da história da comunidade e sua relação com o Licuri que remonta várias gerações.
O representante da Associação, Marco Toakakoiupanka, falou sobre os diferentes usos do Licuri pelo seu povo. “Nossa essência sempre foi catar o coco licuri, quebrar, tirar a bolinha (amêndoa) e a partir dele fazer a nossa produção”, conta. Segundo Marco, seus antepassados cortavam o “olho” do coco licuri e pisado para tirar uma tapioca para fazer uma papinha para dar de comer aos filhos, era isso que a minha avó fazia”, lembra. Ele também conta que o coquinho do Licuri eram utilizados somente em duas épocas do ano, na Semana Santa e no período do São João, juntamente com o peixe, a umbuzada, o pé de moleque, os doces, o bolo de mandioca e milho com o licuri e o cuscuz.
Sobre o intercâmbio, Toakakoiupanka relata que enxergou a possibilidade de aumentar a renda na associação e passar a produzir outros produtos, como sorvete, picolé, além de comprar maquinário para extrair o óleo e a fécula do coquinho Licuri para produzir farinha, tudo isso sem perder a essência e as raízes culturais de seu povo no que se refere ao extrativismo e processamento do Licuri.
Visita à COOPERCUC – Outra experiência visitada foi em Uauá (BA) na unidade de beneficiamento de sorvetes e picolés da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), localizado na Comunidade Tradicional Fundo de Pasto Laje das Aroeiras. No local, foi apresentada a história da associação da comunidade e os primeiros trabalhos das mulheres, ainda no início dos anos 2000, com o beneficiamento e processamento do Umbuzeiro e atualmente na modernização da unidade de beneficiamento, com a aquisição de máquinas e adequação para atender a vigilância sanitária para produção e comercialização de picolés e sorvetes, de diversos sabores, como Licuri, Umbu, Maracujá da Caatinga, Buriti, entre outros.
A próxima parada da caravana foi em Monte Santo (BA), na loja “Monte Sabores” da Cooperativa Regional de Agricultores Familiares e Extrativistas da Economia Solidária (COOPERSABOR), onde são comercializados produtos como biscoitos, cerveja, licor, balinhas, licuri torrado com sal, caramelizado e cosméticos como cremes, sabonetes, dentre outros. O grupo também participou de uma roda de conversa com a direção da Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (ARESOL), que atua com um fundo solidário rotativo para apoiar empreendimentos sociais, incluindo projetos ligados ao processamento e beneficiamento do licuri.
A Escola Família Agrícola (EFA) de Monte Santo foi um dos empreendimentos solidários que a caravana visitou No local, foi realizada uma roda de diálogo com monitores e alunos destacando a importância da sociobiodiversidade e o papel do Licuri na dinâmica das famílias. A escola possui quase vinte anos de pesquisa e experimentação no desenvolvimento de máquinas e equipamentos para despolpa, quebra e extração de óleo do Licuri. Atualmente produzem azeite, óleo, cosméticos, cremes cicatrizantes e ração animal.
Visita à COOPES – Outro município percorrido foi Capim Grosso (BA), onde os participantes conheceram a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) que, há 20 anos, reúne comunidades de sete municípios e trabalha com mais de 20 (vinte) produtos derivados do licuri. Tradicionalmente, as mulheres da região quebram o licuri na pedra e fornecem para a COOPES cerca de seis toneladas/ano para a produção de alimentos, como licuri torrado com sal, caramelizado, farinha, azeite, óleo, etc.
O cofundador e coordenador de relações institucionais da COOPES, Valdivino Araújo (Dino), recebeu a caravana. Ele conta que nos últimos anos a cooperativa realizou esforços para fazer chegar as políticas públicas do estado da Bahia às comunidades e famílias extrativistas, e que isso foi fundamental para ajudar a desenvolver o território. “Ações de pesquisa, extensão, capacitação e formação ajudaram na valorização econômica do licuri e a colocá-lo em mercados estratégicos, e na valorização da cultura e da espécie, também resultando no sentimento de pertencimento das comunidades para a preservação dos ouricurizeiros”, afirmou.
A COOPES vem se modernizando com a instalação de unidades de pré-beneficiamento do Licuri nas comunidades, com máquinas de dispela e quebra do coco, além de equipamentos na fábrica para secagem, beneficiamento e extração do azeite e óleo.
Os participantes puderam observar de perto os avanços no processamento do licuri, por meio do desenvolvimento de maquinário e logística de produção na unidade, bem como no funcionamento de uma loja especializada em produtos de espécie. “Os grupos puderam ver de perto os avanços que ocorreram nos últimos anos e o que os cooperados conseguiram em termos de processamento e maquinário. A Coopes demonstrou que possui uma inserção potente no mercado, a ponto de não conseguirem atender toda a demanda pelos produtos”, observou o pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios, Fernando Curado.
As famosas “Festas do Licuri”, que em Capim Grosso está em sua 13ª edição, também foram mencionadas como uma demonstração da inserção do Licuri na cultura e no turismo local, reunindo 165 empreendimentos solidários. Além de Capim Grosso, as festas ocorrem, tradicionalmente, nos municípios baianos de Quixabeira, Serrolândia, Várzea da Roça, Mairi, São José do Jacuípe, Várzea do Poço e Caldeirão Grande.
Maria Célia Nogueira, do Quilombo Santo Antônio (Palestina/AL), diz que o intercâmbio do licuri foi muito importante para compreender o valor dessa espécie no estado da Bahia. “Não estávamos sabendo utilizá-lo e explorar tudo o que o aricuri é capaz de oferecer. Ganhamos mais conhecimento com essa caravana para explorar mais o licuri e o umbuzeiro no nosso quilombo”, afirma.
Célia conta que atualmente aproveita o leite do Licuri para usar em bolos de massa puba, macaxeira, arroz doce e mungunzá, leite e feijão de coco, principalmente na Semana Santa. “A partir do intercâmbio, vamos tirar mais proveito do Aricuri, como o caramelizado, a cocada e o doce. Ainda não temos o maquinário para extrair o óleo e fazer o sorvete, mas quem sabe um dia conseguimos. Gratidão a tudo isso que aconteceu”.
Chapada Diamantina – A última parada da caravana foi na Chapada Diamantina, no distrito de Campos de São João (Palmeiras/BA), onde os participantes conheceram a Casa de Maria, organização social voltada para o desenvolvimento da comunidade, criadora da marca “Licuri de Maria”, que promove a sociobiodiversidade e geração de renda com as mulheres do território.
Na Casa de Maria, o grupo participou de uma oficina de preparo de sorvete de Licuri e também experienciou a extração do óleo de Licuri com o uso de equipamentos desenvolvidos pela organização social e parceiros. Os participantes apreciaram ainda uma demonstração de Dona Vera sobre a confecção artesanal de bolsa de palha de Licuri, um produto típico da região da Chapada Diamantina e fonte de renda para muitas famílias desde a década de 1960.
Bruna Ferreira, representante da Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), enfatizou a importância e o impacto do intercâmbio para as comunidades extrativistas. “A caravana foi uma oportunidade para unir as comunidades em torno do Licuri, promovendo uma rica troca de saberes que valoriza o conhecimento local e destaca o papel fundamental das mulheres na economia do território. Esse encontro foi mais do que uma troca técnica, foi um momento de reafirmar o Licuri como um símbolo de resistência e sustentabilidade para essas comunidades”, afirmou. Para Bruna, ao compartilhar métodos de beneficiamento, foram fortalecidas as redes de cooperação que garantem que a tradição do Licuri continue a beneficiar as gerações futuras.
Para o pesquisador da Embrapa Fernando Curado, a caravana trouxe pistas para uma possível estruturação de rede de povos que manejam e utilizam o Licuri, e, a depender das articulações desses povos nos territórios, a proposição de uma “Rota do Licuri” na região, a exemplo de outras Rotas de Integração Nacional que já existem no Nordeste, como a Rota do Mel, do Leite, da Cachaça, do Pescado, conectando a Bahia com Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Norte de Minas Gerais.
Importância do Licuri – O licurizeiro tem grande importância na cultura do sertanejo, fornece alimento para pessoas e animais silvestres, forragens, complemento nutricional para criatórios e matéria-prima para artesanato. Suas amêndoas também são bastante nutritivas.
“Ouvimos muitos relatos de como o Licuri faz parte da cultura das comunidades tradicionais, que associam conhecimentos, saberes e práticas de uso e manejo das diferentes partes da planta, desde o aproveitamento alimentar do coco, a polpa e o palmito, que compõem uma diversidade de receitas tradicionais, além do uso medicinal do óleo e o aproveitamento das palhas na confecção de artesanato e cobertura das casas. O Licuri faz parte da memória biocultural dos povos e comunidades tradicionais do Semiárido, que conservam e manejam secularmente em seus territórios extensas áreas com a presença desta palmeira”, contou o analista da Embrapa Alimentos e Territórios, Fabrício Bianchini.
As experiências visitadas demonstram uma importante parceria entre a sociedade civil organizada e organizações públicas estaduais e federais, seja no desenvolvimento de pesquisas para novas máquinas e equipamentos, ou de novos produtos alimentares, cosméticos ou medicinais, além de pesquisas sobre o uso, manejo e a conservação da espécie. “Atualmente os empreendimentos com o Licuri estão pautados em uma economia solidária, criativa, circular e de valorização da biodiversidade”, comenta Bianchini.
“Durante a caravana, tivemos a oportunidade de visitar diversas experiências bem-sucedidas de beneficiamento do ouricuri, o que resultou em um valioso intercâmbio de saberes e estimulou o desejo de consolidar uma rede de extrativistas”, comenta a bióloga e consultora do Instituto Terraviva, Nínive Paes.
Nínive também relembrou as histórias que escutou sobre como o Licuri tem sido parte fundamental da alimentação das comunidades desde tempos remotos, sobre a abundância das matas de Licuri no passado e os desafios que enfrentaram ao longo do tempo.
“Em nossos diálogos, enfatizamos a importância do extrativismo sustentável e a necessidade urgente de evitar o uso irracional deste recurso precioso através da disseminação das melhores práticas para a sua extração da natureza, sempre com um olhar voltado para as gerações futuras, para que o Licuri continue a ser uma fonte de sustento e cultura para nossas comunidades”, concluiu.
*Participaram da caravana representantes do Quilombo Santo Antônio (Palestina/AL), Quilombo Tupete (Canapi/AL); Quilombo Lagoa do Algodão (Carneiros/AL); Quilombo Mameluco (Taquarana/AL); Povo Indígena Geripankó (Pariconha/AL); Povo Indígena Koiupanká (Inhapi/AL); Povo Indígena Kapinawá (Buíque/PE); Povo Indígena Xukuru de Ororubá (Pesqueira/PE)
Irene Lôbo (MTb 11.354/DF)
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