Mapeamento das lavouras de café Robustas Amazônicos na região Matas de Rondônia constatou que apenas 0,8% da área da região é utilizada para o cultivo do café e dessa área somente 0,5% possui passivo ambiental. O estudo também mostra que nos 15 municípios pertencentes às Matas de Rondônia, mais da metade da área está coberta por florestas. As áreas preservadas por reservas indígenas ultrapassam 1 milhão de hectares. Esses resultados foram apresentados a produtores, técnicos extensionistas, empresários, representantes de instituições públicas e privadas ligadas ao setor cafeeiro, nos dias 9 e 10 de maio, no hotel Cacoal Selva Park, em Cacoal, RO. O mapeamento do uso e a cobertura do solo nas áreas de cultivo de café nas Matas de Rondônia integram o projeto CarbCafé-RO. A abertura do evento contou com a presença do secretário de agricultura Luiz Paulo Batista (Seagri-RO), a chefe-geral Lúcia Wadt (Embrapa Rondônia), o presidente do Sicoob, Oberdan Ermita Pandolfi, (Sicoob), a diretora técnica da Emater-RO, Fabiana Bezerra (Emater-RO), o produtor e presidente da Caferon, Juan Travian, e Tereza Janete Santos (Ministério do Trabalho). O trabalho, conduzido pelo pesquisador da Embrapa Territorial, SP, Carlos Ronquim, mostrou dados comparativos de cenários nos anos de 2020 e de 2023 para observar os avanços dos cafezais sobre áreas de floresta. O pesquisador enfatiza que a cafeicultura representa somente 0,8% da região, mas tem potencial para expandir sobre áreas de pastagens que representam quase metade da região. “Com base no Cadastro Ambiental Rural (CAR) observamos que 100% do café é cultivado em pequenas propriedades familiares, em áreas com pouco mais de 3 hectares”, complementa. De acordo com o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, cogestor do projeto, cada xícara de café Robusta Amazônico tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e responsabilidade social. “Rondônia, hoje, é o estado com a maior média global de produtividade do País e apenas 0,57% dos cafezais atuais é oriundo de desmatamento a partir de 2020. Acreditamos que esse modelo de produção de café com desmatamento zero pode incentivar políticas públicas para uma cafeicultura ambientalmente sustentável e mitigação dos efeitos do clima”. A atividade cafeeira envolve mais de 17 mil famílias, sendo 10 mil na região das Matas de Rondônia, berço e centro de excelência de qualidade dos Robustas Amazônicos, cafés reconhecidos entre os melhores do Brasil e do mundo. Para Juan Travian, os dados confirmam que além dos atributos dos Robustas Amazônicos, as áreas de cultivo não avançam sobre a floresta. “Esse mérito é graças a um conjunto de ações em parceria que envolve produtores, assistência técnica, apoio financeiro e trabalho da pesquisa”. Aspectos sociais e econômicos Já o perfil socioeconômico e produtivo dos cafezais apresentado pelo analista da Embrapa Rondônia, Calixto Rosa, com base na realidade de 213 produtores de municípios contemplados com a Indicação Geográfica Matas de Rondônia para Robustas Amazônicos, mostra que o café responde por mais de 97% das receitas agropecuárias, ressaltando a importância da atividade cafeeira na renda das propriedades. Além disso, a grande maioria dos produtores mora na propriedade rural (93%), é proprietária dos lotes (77%) e possui mais de 23 anos de experiência com o cultivo de café. Esse fator, de acordo com o analista, contribui para maior aprendizado na atividade. Já com relação ao nível educacional, 63% dos produtores concluíram o ensino fundamental e apenas 2% possuem curso superior. Para Calixto é fundamental sensibilizar a juventude rural a respeito da importância da educação, visto que pode refletir no processo de adoção de tecnologias que exige do produtor maior compreensão sobre o que precisa ser implementado. Cooperativismo Oberdan Ermita Pandolfi, presidente das Cooperativas Financeiras do Brasil (Sicoob), uma das instituições que aportou recursos financeiros para a realização da pesquisa, ressalta que os dados gerados no projeto CarbCafé ajudam a entender melhor a realidade socioeconômica, produtiva e ambiental. “Essas informações são insumos e nos propiciam uma série de insights para a formulação de novas ações comerciais de inclusão financeira do cooperado”, comenta. “Nos chamou a atenção que 40% dos produtores ainda não tiveram acesso a crédito. Essa constatação mostra que precisamos dar melhor condição ao cooperado para acessar um crédito bem estruturado para investir em uma cafeicultura sustentável. Ainda que para isso seja necessário fazer um trabalho de educação financeira para quem está inseguro”, complementa. O presidente da Caferon também acredita na força da organização da cadeia produtiva do café da Região Matas de Rondônia e no modelo de um agronegócio que passa pelas Indicações Geográficas. “O selo traz mudanças positivas tanto para o cafeicultor como para a comunidade e pode beneficiar produtos que ainda não têm esse reconhecimento, como a cachaça de Rondônia, e, também, o ecoturismo na região que tem muito a oferecer. É uma cadeia de oportunidades e o cooperativismo tem contribuído para a consolidação dessas mudanças”. Visita aos cafezais Também fez parte da programação do seminário visitas em áreas de cultivo dos Robustas Amazônicos da etnia Paiter-Suruí, na Terra Indígena Sete de Setembro, do café Don Bento, dos produtores Deigson Mendes Bento e Dione Mendes Bento e do produtor Juan Travian, todas localizadas na região das Matas de Rondônia, que comercializam, desde 2021, o café com selo de Indicação Geográfica e já conquistaram premiações que reforçam a qualidade desse café no Brasil e no exterior. O diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon, participou da atividade e ficou bastante satisfeito com o trabalho que a Empresa e parceiros desenvolvem no sentido de incentivar a produção de um café com valor sociocultural e histórico que, além de agregar conhecimento e tecnologias, respeita o saber-fazer das populações tradicionais. “O papel da Embrapa não é só trazer conhecimento, mas também disponibilizar soluções tecnológicas que contribuam com uma produção de café em bases agroecológicas, com organização de produtores e geração de renda, fatores fundamentais para que os cafeicultores permaneçam na atividade”, disse o diretor. Outro aspecto que o gestor destacou foi o engajamento da iniciativa privada ao enxergar no modo de produção sustentável dos cafés Robustas Amazônicos uma oportunidade de negócio que oferece ao consumidor um café diferenciado e ambientalmente sustentável. Já o cacique Rafael Mopimop Suruí ressaltou a importância do trabalho em parceria com diversas instituições que atuam na região, principalmente, com a empresa Três Corações. “Antes nós não tínhamos ideia do que era produzir um café com qualidade, hoje nós temos conhecimento e nos dedicamos para ter cada vez mais um café melhor. O reconhecimento desse cuidado já chegou para nós com os prêmios que o nosso café recebeu”, complementa. O cacique também destacou a importância do Projeto Tribos, desenvolvido com a Três Corações, que foca no protagonismo indígena, na proteção da floresta e na qualidade. Cem por cento do café produzido é comercializado por meio dessa iniciativa. O concurso Tribos é uma das iniciativas do Projeto para valorizar e promover a descoberta do máximo potencial de qualidade das lavouras indígenas. O resultado são raros microlotes em edições limitadas uma vez ao ano com cafés 100% Robusta Amazônico de 80 a 90+ pontos. De olho na sustentabilidade Andressa Azarias, coordenadora de sustentabilidade da Louis da Dreyfus Company (LDC), empresa que há mais de 20 anos comercializa o café produzido em Rondônia, diz que veio conferir como a cafeicultura está sendo desenvolvida no estado. “Hoje, os clientes querem saber a procedência e como o café é produzido, principalmente, se é um modelo de produção sustentável, sem relação com o desmatamento ou trabalho escravo. Essas exigências são mais fortes entre os consumidores internacionais, mas também já despontam no consumidor brasileiro, mas durante as visitas aos cafezais vimos que os produtores também estão bastante sensibilizados para as questões ambientais”. A representante da LDC acrescenta que a empresa trabalha com certificações para agregar valor ao produto, buscando o equilíbrio entre pilares econômicos, sociais e ambientais. “Esses aspectos fazem parte da Stronger Coffee, iniciativa que visa a prosperidade do produtor, por meio de uma agricultura regenerativa com reduções de emissão de carbono”, explica. Também é uma prática da empresa estar próximo aos produtores para que eles possam ser prósperos na cafeicultura e desenvolverem-se ainda mais com tecnologia e suporte tanto nosso quanto de outras entidades. Projeto CarbCafé O projeto CarbCafé-RO: Estimativa do Carbono Estocado nas Lavouras dos Cafés das Matas de Rondônia, é liderado pela Embrapa Territorial, SP, em parceria com a Embrapa Rondônia, Cafeicultores Associados da Região Matas de Rondônia (Caferon), banco Sicoob e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Também conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RO) e Emater-RO. Para assistir ao seminário na íntegra, clique aqui.
Mapeamento das lavouras de café Robustas Amazônicos na região Matas de Rondônia constatou que apenas 0,8% da área da região é utilizada para o cultivo do café e dessa área somente 0,5% possui passivo ambiental. O estudo também mostra que nos 15 municípios pertencentes às Matas de Rondônia, mais da metade da área está coberta por florestas. As áreas preservadas por reservas indígenas ultrapassam 1 milhão de hectares.
Esses resultados foram apresentados a produtores, técnicos extensionistas, empresários, representantes de instituições públicas e privadas ligadas ao setor cafeeiro, nos dias 9 e 10 de maio, no hotel Cacoal Selva Park, em Cacoal, RO. O mapeamento do uso e a cobertura do solo nas áreas de cultivo de café nas Matas de Rondônia integram o projeto CarbCafé-RO.
A abertura do evento contou com a presença do secretário de agricultura Luiz Paulo Batista (Seagri-RO), a chefe-geral Lúcia Wadt (Embrapa Rondônia), o presidente do Sicoob, Oberdan Ermita Pandolfi, (Sicoob), a diretora técnica da Emater-RO, Fabiana Bezerra (Emater-RO), o produtor e presidente da Caferon, Juan Travian, e Tereza Janete Santos (Ministério do Trabalho).
O trabalho, conduzido pelo pesquisador da Embrapa Territorial, SP, Carlos Ronquim, mostrou dados comparativos de cenários nos anos de 2020 e de 2023 para observar os avanços dos cafezais sobre áreas de floresta. O pesquisador enfatiza que a cafeicultura representa somente 0,8% da região, mas tem potencial para expandir sobre áreas de pastagens que representam quase metade da região. “Com base no Cadastro Ambiental Rural (CAR) observamos que 100% do café é cultivado em pequenas propriedades familiares, em áreas com pouco mais de 3 hectares”, complementa.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, cogestor do projeto, cada xícara de café Robusta Amazônico tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e responsabilidade social. “Rondônia, hoje, é o estado com a maior média global de produtividade do País e apenas 0,57% dos cafezais atuais é oriundo de desmatamento a partir de 2020. Acreditamos que esse modelo de produção de café com desmatamento zero pode incentivar políticas públicas para uma cafeicultura ambientalmente sustentável e mitigação dos efeitos do clima”.
A atividade cafeeira envolve mais de 17 mil famílias, sendo 10 mil na região das Matas de Rondônia, berço e centro de excelência de qualidade dos Robustas Amazônicos, cafés reconhecidos entre os melhores do Brasil e do mundo. Para Juan Travian, os dados confirmam que além dos atributos dos Robustas Amazônicos, as áreas de cultivo não avançam sobre a floresta. “Esse mérito é graças a um conjunto de ações em parceria que envolve produtores, assistência técnica, apoio financeiro e trabalho da pesquisa”.
Aspectos sociais e econômicos
Já o perfil socioeconômico e produtivo dos cafezais apresentado pelo analista da Embrapa Rondônia, Calixto Rosa, com base na realidade de 213 produtores de municípios contemplados com a Indicação Geográfica Matas de Rondônia para Robustas Amazônicos, mostra que o café responde por mais de 97% das receitas agropecuárias, ressaltando a importância da atividade cafeeira na renda das propriedades.
Além disso, a grande maioria dos produtores mora na propriedade rural (93%), é proprietária dos lotes (77%) e possui mais de 23 anos de experiência com o cultivo de café. Esse fator, de acordo com o analista, contribui para maior aprendizado na atividade. Já com relação ao nível educacional, 63% dos produtores concluíram o ensino fundamental e apenas 2% possuem curso superior.
Para Calixto é fundamental sensibilizar a juventude rural a respeito da importância da educação, visto que pode refletir no processo de adoção de tecnologias que exige do produtor maior compreensão sobre o que precisa ser implementado.
Cooperativismo
Oberdan Ermita Pandolfi, presidente das Cooperativas Financeiras do Brasil (Sicoob), uma das instituições que aportou recursos financeiros para a realização da pesquisa, ressalta que os dados gerados no projeto CarbCafé ajudam a entender melhor a realidade socioeconômica, produtiva e ambiental. “Essas informações são insumos e nos propiciam uma série de insights para a formulação de novas ações comerciais de inclusão financeira do cooperado”, comenta.
“Nos chamou a atenção que 40% dos produtores ainda não tiveram acesso a crédito. Essa constatação mostra que precisamos dar melhor condição ao cooperado para acessar um crédito bem estruturado para investir em uma cafeicultura sustentável. Ainda que para isso seja necessário fazer um trabalho de educação financeira para quem está inseguro”, complementa.
O presidente da Caferon também acredita na força da organização da cadeia produtiva do café da Região Matas de Rondônia e no modelo de um agronegócio que passa pelas Indicações Geográficas. “O selo traz mudanças positivas tanto para o cafeicultor como para a comunidade e pode beneficiar produtos que ainda não têm esse reconhecimento, como a cachaça de Rondônia, e, também, o ecoturismo na região que tem muito a oferecer. É uma cadeia de oportunidades e o cooperativismo tem contribuído para a consolidação dessas mudanças”.
Visita aos cafezais
Também fez parte da programação do seminário visitas em áreas de cultivo dos Robustas Amazônicos da etnia Paiter-Suruí, na Terra Indígena Sete de Setembro, do café Don Bento, dos produtores Deigson Mendes Bento e Dione Mendes Bento e do produtor Juan Travian, todas localizadas na região das Matas de Rondônia, que comercializam, desde 2021, o café com selo de Indicação Geográfica e já conquistaram premiações que reforçam a qualidade desse café no Brasil e no exterior.
O diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon, participou da atividade e ficou bastante satisfeito com o trabalho que a Empresa e parceiros desenvolvem no sentido de incentivar a produção de um café com valor sociocultural e histórico que, além de agregar conhecimento e tecnologias, respeita o saber-fazer das populações tradicionais. “O papel da Embrapa não é só trazer conhecimento, mas também disponibilizar soluções tecnológicas que contribuam com uma produção de café em bases agroecológicas, com organização de produtores e geração de renda, fatores fundamentais para que os cafeicultores permaneçam na atividade”, disse o diretor.
Outro aspecto que o gestor destacou foi o engajamento da iniciativa privada ao enxergar no modo de produção sustentável dos cafés Robustas Amazônicos uma oportunidade de negócio que oferece ao consumidor um café diferenciado e ambientalmente sustentável.
Já o cacique Rafael Mopimop Suruí ressaltou a importância do trabalho em parceria com diversas instituições que atuam na região, principalmente, com a empresa Três Corações. “Antes nós não tínhamos ideia do que era produzir um café com qualidade, hoje nós temos conhecimento e nos dedicamos para ter cada vez mais um café melhor. O reconhecimento desse cuidado já chegou para nós com os prêmios que o nosso café recebeu”, complementa.
O cacique também destacou a importância do Projeto Tribos, desenvolvido com a Três Corações, que foca no protagonismo indígena, na proteção da floresta e na qualidade. Cem por cento do café produzido é comercializado por meio dessa iniciativa.
O concurso Tribos é uma das iniciativas do Projeto para valorizar e promover a descoberta do máximo potencial de qualidade das lavouras indígenas. O resultado são raros microlotes em edições limitadas uma vez ao ano com cafés 100% Robusta Amazônico de 80 a 90+ pontos.
De olho na sustentabilidade
Andressa Azarias, coordenadora de sustentabilidade da Louis da Dreyfus Company (LDC), empresa que há mais de 20 anos comercializa o café produzido em Rondônia, diz que veio conferir como a cafeicultura está sendo desenvolvida no estado. “Hoje, os clientes querem saber a procedência e como o café é produzido, principalmente, se é um modelo de produção sustentável, sem relação com o desmatamento ou trabalho escravo. Essas exigências são mais fortes entre os consumidores internacionais, mas também já despontam no consumidor brasileiro, mas durante as visitas aos cafezais vimos que os produtores também estão bastante sensibilizados para as questões ambientais”.
A representante da LDC acrescenta que a empresa trabalha com certificações para agregar valor ao produto, buscando o equilíbrio entre pilares econômicos, sociais e ambientais. “Esses aspectos fazem parte da Stronger Coffee, iniciativa que visa a prosperidade do produtor, por meio de uma agricultura regenerativa com reduções de emissão de carbono”, explica. Também é uma prática da empresa estar próximo aos produtores para que eles possam ser prósperos na cafeicultura e desenvolverem-se ainda mais com tecnologia e suporte tanto nosso quanto de outras entidades.
Projeto CarbCafé
O projeto CarbCafé-RO: Estimativa do Carbono Estocado nas Lavouras dos Cafés das Matas de Rondônia, é liderado pela Embrapa Territorial, SP, em parceria com a Embrapa Rondônia, Cafeicultores Associados da Região Matas de Rondônia (Caferon), banco Sicoob e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Também conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RO) e Emater-RO.
Para assistir ao seminário na íntegra, clique aqui.