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ARTIGO – Como a rentabilidade dos plantios florestais é impactada pelo financiamento do Programa ABC

Autores:
– José Mauro Magalhães Ávila Paz Moreira – Engenheiro Florestal, doutor em Ciências na área de Concentração em Economia Aplicada, pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo, PR
– Gabriela Grizang Zancanaro –  Engenheira Florestal, consultora independente
– Elisabete Vuaden – Engenheira Florestal, doutora em Engenharia Florestal, professora Associada da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Dois Vizinhos, PR
– Flávio José Simioni – Engenheiro-agrônomo, doutor em Engenharia Florestal, professor Associado da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC

O estabelecimento de plantações florestais é um dos seis programas do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), sendo uma das tecnologias sustentáveis de produção do setor agropecuário brasileiro para responder aos compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do agronegócio nacional assumidos pelo país. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), a expansão da área com florestas plantadas entre 2013 e 2018 foi de 1,75 milhão de hectares, mas o Plano ABC participou com menos de 634 mil hectares. 

A disponibilização de linhas de financiamento que se adequassem às especificidades do setor era uma solicitação antiga, atendida inicialmente pelo Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas (Propflora) em 2002, e incorporada ao Programa ABC em 2012. Mas qual o impacto que esta linha de financiamento pode efetivamente trazer nos indicadores de rentabilidade da atividade de florestas plantadas?

Para responder a esta pergunta, analisamos de forma separada o fluxo de caixa de um empreendimento de florestas plantadas para energia no estado de Goiás, e o fluxo de caixa do investidor florestal, após sua alteração com a entrada e saída dos recursos disponibilizados pelo Programa ABC. Clique aqui para acessar o estudo completo.

Foram analisados 15 cenários e a inserção dos recursos do Programa ABC melhorou a rentabilidade do Valor Presente Líquido (VPL) em oito, e a Taxa Interna de Retorno (TIR) em doze. Os cenários nos quais a inserção do Programa ABC piorou o resultado econômico foram cenários extremos, com valores acima de 10% ano da taxa de juros do financiamento, ou com taxas de juros reais acima de 5% ao ano (taxa de juros do ABC acima da inflação), valores nunca observados desde o início da política pública até o momento. Além disso, reduziu a sensibilidade do indicador VPL em relação a variações na Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do investidor. 

A melhora do VPL resulta de dois movimentos conjuntos, ligados à ação dos juros e da inflação sobre o capital: 1) a redução dos valores reais (descontada a inflação futura esperada) dos pagamentos das parcelas do financiamento no fluxo de caixa, resultante da inflação; 2) a taxa de juros real (já descontada a inflação) paga pelo produtor para o financiamento ser menor do que a taxa de juros real (a TMA) paga para o capital do próprio produtor, o que reduz o custo total com juros do fluxo de caixa, aumentando o valor do VPL. O que explicaria então a baixa adesão à esta linha de financiamento tão importante para o setor de florestas plantadas entre os anos de 2015 e 2018?

Neste período ocorreram dois movimentos em várias regiões do país que podem auxiliar na busca por esta resposta. Um foi o aumento das taxas de juros do Programa ABC, que saltaram de 5,0% ao ano em 2013 e 2014 para cerca de 8,0% ao ano em 2018, impactando de forma significativa a atratividade a linha de financiamento para os produtores de florestas; outro foi a elevada oscilação de preços que ocorreu em várias regiões onde o plantio de florestas se expandiu com reduzido planejamento e conhecimento do mercado florestal por parte dos agricultores. 

Mas, mesmo com estes movimentos, nossos estudos mostram que o ABC ainda é atrativo, o que evidencia, por outro lado, que existe falta de conhecimento e informação para a tomada de decisão que apoiem os produtores para que se sintam mais atraídos e confortáveis em plantar florestas. 
Uma delas, de extrema importância, seria uma maior disponibilidade de informações sobre o mercado florestal, como preços pagos nas regiões, inventário do ativo florestal disponível e um mapeamento dos consumidores de produtos florestais, que podem auxiliar no planejamento da produção tanto por produtores como por consumidores de produtos florestais, contribuindo para um melhor ajuste no mercado e redução das oscilações de preço dos produtos. O MAPA já incluiu estes direcionamentos como ações indicativas do Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas.

A taxa de juros do Plano Safra 2021/22 para o Plano ABC é de 7,5% ao ano nominal. Com as atuais taxas de inflação, esta taxa real é negativa, e ainda será em torno de 3% ao ano acima da inflação se o Brasil voltar à meta de inflação de 4,5% ao ano, estando este cenário dentro daqueles onde a linha apresentou resultados positivos ao produtor. O principal cuidado que o produtor deve ter é com um melhor conhecimento do mercado florestal na sua região, com o planejamento florestal e tratos silviculturais do seu plantio, de forma a minimizar o impacto que possíveis alterações de preço possam ter na rentabilidade do seu negócio. Quando os preços dos produtos (receitas) e insumos e serviços (custos) variam a diferentes taxas, o pressuposto de preços constantes da análise deixa de ser válido, alterando o resultado da análise, sendo necessário refazer os cálculos para a tomada de decisão.

Visando minimizar este risco e dar maior segurança ao produtor, grandes consumidores de madeira, como empresas de papel e celulose, já estão estabelecendo estratégias de contratos com seus produtores parceiros e fomentados com garantia de preço mínimo para madeira, como uma forma de reduzir estas oscilações. A conclusão que chegamos é que a linha de financiamento do Programa ABC é importante para o desenvolvimento da cadeia produtiva de florestas plantadas, trazendo impactos positivos para o produtor florestal, mas que a sua baixa adesão se deve a outros fatores, que o mercado, em parceria com as instituições governamentais, já está buscando solucionar.

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