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Profissionais visitam propriedades rurais integrantes do projeto Balde Cheio em Rondônia

Pesquisadores, técnicos e jornalistas de unidades da Embrapa do Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, Tocantins, Maranhão e Piauí, além de professores e alunos da Universidade Federal do Acre visitaram propriedades rurais do interior rondoniense, que participam do Balde Cheio. A comitiva percorreu os municípios Ministro Andreazza, Rolim de Moura, Cacoal e Vilhena, entre os dias os dias 2 e 5 de agosto, para conhecer como a metodologia do projeto tem sido aplicada e nivelar conhecimentos para ampliação das ações.

Executado pela Embrapa, em parceria com outras instituições, há duas décadas o Balde Cheio capacita técnicos para a assistência continuada a produtores rurais na adoção de tecnologias sustentáveis e ferramentas de gerenciamento das propriedades, com a finalidade de aumentar a produtividade e eficiência dos sistemas de produção de leite e incrementar a renda das famílias. Entre as demandas atendidas estão a elevação do padrão genético do rebanho, controle da sanidade animal, melhoria da qualidade das pastagens, adequação da dieta nutricional de vacas leiteiras e implantação de projetos de irrigação de gramíneas. Em 2017, a iniciativa passou a funcionar em rede, com a participação de 16 Unidades de pesquisa, em diversos estados.

No Acre, as primeiras ações do Balde Cheio em Rede envolvem produtores rurais dos municípios de Feijó, Acrelândia e Plácido de Castro. O processo de formalização de parcerias para constituição de arranjos locais está em andamento. Para o analista da Embrapa, Márcio Bayma, um dos integrantes da equipe, o projeto é uma importante ferramenta de inclusão social, na medida em que trabalha com propriedades com diferentes perfis socioeconômicos. Em Rondônia, pequenas propriedades se tornaram altamente produtivas, seguindo recomendações técnicas, entretanto, os produtores de leite contam com um segmento consolidado e amplo mercado.

“Aqui, a produção de leite tem custo mais elevado, em função dos altos preços dos insumos. Além disso, a cadeia do leite ainda está em fase de estruturação, realidade que impõe desafios para o processo de melhoria da eficiência produtiva. Apesar das dificuldades, a atividade está presente em 70% das propriedades rurais do Estado, com predominância na produção familiar. Acreditamos que com o envolvimento dos produtores e apoio de outras instituições podemos alcançar bons resultados e os desdobramentos dessa primeira experiência despertarão o interesse de outros produtores pelo projeto”, diz o analista.

Metodologia para diferentes realidades

O Brasil é o quarto produtor mundial de leite, com 35 bilhões de litros/ano, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Estima-se que 1,4 milhões de produtores participam da atividade leiteira, com uma diversidade de sistemas de produção – do extensivo ao confinado – e variados níveis de incorporação de tecnologias nas propriedades.  Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos/SP), líder do projeto, a metodologia Balde Cheio pode ser aplicada às diferentes realidades, nas diversas regiões do País.

“A partir do conceito de “Unidade Demonstrativa”, a propriedade rural funciona como “sala de aula prática” para ampliação do conhecimento de todos os envolvidos no processo de transferência de tecnologias (pesquisadores, extensionistas e produtores). A adoção de alternativas tecnológicas para intensificação da produção, observa particularidades regionais. O compartilhamento das experiências pelos produtores, um dos requisitos básicos para participação no projeto, é importante para avaliarmos a adequação da metrologia em cada localidade”, afirma André Novo.

Mudança no campo

Em cada município, um técnico do Balde Cheio acompanhou a equipe e apresentou dados detalhados das propriedades, da execução da atividade leiteira e da produção nos últimos 12 meses. Os resultados no campo, revelaram performances variadas da produção leiteira e confirmam que o projeto tem ajudado a mudar a vida de quem vive no campo, como o paranaense Valdemir Eugênio da Silva que migrou para o município Ministro Andreazza, no ano 2000, para trabalhar na lavoura de café, mas sempre alimentou o sonho de ser produtor de leite. Em 2011 aderiu ao Balde Cheio e, orientado pelo técnico do projeto, investiu em animais com alta aptidão leiteira e, em 2013, um grave problema de saúde da esposa interrompeu a parceria em 2013.

Há dois anos, quando a família retornou ao projeto, as cinco vacas em lactação produziam 8 litros de leite/dia. Hoje, com 14 animais e utilizando apenas 1,5 hectares de pasto irrigado, a propriedade produz diariamente 200 litros de leite. A produção média saltou de 1,6/vaca/dia para 14,2 litros por vaca/dia. “Renovamos o rebanho, melhoramos a pastagem, conseguimos atingir nosso objetivo inicial e o sonho cresceu. A meta agora é produzir 500 litros de leite/dia. Sei que vamos chegar lá”, diz Silva.

A propriedade do produtor Alceir Carneiro, em Rolim de Moura, chama a atenção pela rapidez na evolução da produção de leite. Em 2016 ele abandonou o trabalho de diarista para investir na atividade leiteira e, em apenas um ano e oito meses de adesão ao projeto, a produção de leite aumentou 700%. No início, a produção era de 20 litros de leite/dia, com produção média de 2,5 litros/vaca. Atualmente, são 132 litros/dia e a produção diária por animal aumentou para 10 litros. “Ainda podemos crescer, mas já posso dizer que hoje tenho a vida que sempre sonhei porque não preciso mais sair de casa para trabalhar. A cada dia aprendemos mais sobre a atividade e assim vamos transformando a produção de leite em um negócio lucrativo e prazeroso”, destaca.

Participação da família

Para chegar a esse resultado, Carneiro conta com o envolvimento de toda a família na atividade. Com a ajuda da esposa (Maria), ele ordenha diariamente as 13 vacas em lactação e cuida da alimentação e saúde do rebanho, enquanto o filho (Alcimar) trabalha na adubação e manutenção das pastagens. Já a filha (Alcimara) é responsável pelas anotações do desempenho e custos da produção e outras informações relativas à gestão e controle financeiro da atividade leiteira.

Segundo o pesquisador da Embrapa Arthur Chinelato, idealizador do Programa Balde Cheio, em 199…, a participação da família é essencial para o desenvolvimento da atividade leiteira. O projeto tem como foco propriedades rurais de base familiar. “Além do aumento da produtividade, busca recuperar a autoestima e dignidade dos produtores, por meio do aumento da renda e melhoria da qualidade de vida. As famílias passam a ter mais confiança na eficiência das tecnologias e no sistema produtivo e isso contribui para a permanência no campo”, afirma.

Protagonismo feminino

Outra característica marcante do projeto Balde Cheio é o engajamento das mulheres na atividade produtiva. Em todas as propriedades familiares visitadas elas executam diferentes tarefas na lida diária. Exemplos como o da produtora Jussara Adriana Farias da Silva, moradora de Vilhena, revelam o protagonismo feminino na produção familiar.

Em cinco anos, ela ajudou a dobrar a produção de 10 para 20 litros de leite por animal e a transformar a propriedade rural onde vive com o marido e os filhos, em referência na produção de Leite. As 21 vacas em lactação produzem 420 litros de leite dia, totalizando 150 mil litros do produto por ano.

Contexto de superação

André Novo explica que, há dez anos, quando o projeto iniciou em Rondônia a pecuária leiteira convivia com dificuldades de infraestrutura, logística e comercialização da produção. Entre outros fatores, o crescimento da atividade foi influenciado pelo desenvolvimento da pecuária de corte na região e pelo processo de expansão do leite de fronteira para suprir demandas de grandes capitais. Esse avanço tende a acontecer também em outros estados da região, devido às características fundiárias e outros aspectos regionais. É nesse contexto de superação que o projeto Balde Cheio se insere, contribuindo para o avanço tecnológico no setor.

“A exemplo de localidades do Sul e Sudeste do País, aqui os produtores e técnicos envolvidos com a produção leiteira seguem um processo de transferência de tecnologias inovadoras, porém, paralelo a esse trabalho adotam práticas associativas como, por exemplo, a compra conjunta de insumos. Essa integração ajuda a otimizar esforços, reduz custos na produção e facilita o alinhamento a princípios e preceitos da produção intensiva, preconizados pelo Balde Cheio, além de demonstrar que as limitações podem se converter em experiências positivas. A proposta do projeto é impulsionar e acompanhar essas mudanças no campo”, ressalta o pesquisador.

Tecnologia Compost Barn

Além de produtores rurais, o Balde cheio acolhe parceiros do sistema empresarial rural. No município de Cacoal, a comitiva visitou a primeira propriedade do Brasil a adotar o sistema de Compost Barn a pasto aberto, área para descanso de vacas leiteiras que tem como base uma cama de serragem e esterco compostado, combinação que proporciona ambiente seco e conforto térmico para os animais. Além dessa tecnologia, o produtor  Juan Travain, parceiro do Balde Cheio desde 2015, investiu em métodos de manejo de pastagens recomendados pelo projeto. Como resultado, em três anos, a produção aumentou 370%, saindo de 280 litros de leite/dia para 1020 litros diários, utilizados na fabricação de derivados do leite, na agroindústria instalada na própria fazenda.

“O Balde Cheio me ensinou a pensar diariamente como é produzir leite. O projeto orienta sobre todas as ações para tornar a atividade eficiente, ensinando o passo-a-passo de cada tecnologia. O maior desafio é manter a evolução da atividade, tanto em relação à qualidade das pastagens como no manejo reprodutivo e aspecto produtivo, porque isso exige mão de obra contínua. Por outro lado, é muito gratificante poder, em apenas sete hectares de pastagem irrigada, gerar emprego e renda para 25 famílias”, comenta o empresário.

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