Um dos maiores problemas da agricultura moderna a ser superado é o uso inadequado das técnicas de aplicação, seja ela terrestre ou aérea. Pensando nisso, pesquisadores da Embrapa elaboraram um projeto para avaliar a deriva e o controle químico promovidos por aplicações aéreas de inseticida. O estudo, realizado em culturas de soja e cana-de-açúcar com o uso de atomizadores rotativos, observou que é possível reduzir em 79% – em média – a deriva, com o emprego dos equipamentos adequados e sua regulagem.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Robson Rolland Monticelli Barizon, o controle químico de insetos na cultura da soja (Glycine max L. Merrill) é uma prática cultural bastante comum. Ele salienta que na ausência deste controle, podem ocorrer grandes prejuízos na produtividade esperada. “Neste processo, frequentemente é dada maior importância ao produto a ser utilizado, e menor importância à forma de utilização”. Ele salienta que “para o sucesso da operação, é necessário dominar a forma adequada de aplicação, de modo a garantir que o produto alcance o alvo de forma eficiente, minimizando as perdas e reduzindo a contaminação do ambiente”.
Estudos já realizados mostraram que dois bicos de pulverização classificados como produtores de gotas médias produziram derivas significativamente diferentes. A 50 m de distância da área alvo, bicos ajustáveis produziram uma deriva 3,2 vezes superior à aplicação com bicos hidráulicos. “Isso confirma a importância do desenho construtivo de cada sistema de pulverização na produção da deriva”, salienta Barizon.
Verifica-se, desta forma, que os atomizadores, comparativamente aos bicos ajustáveis empregados, constituem-se em ferramentas interessantes para reduzir o risco de deriva. Barizon enfatiza que “a configuração dos equipamentos, sejam eles bicos, atomizadores e modelo da aeronave, influenciam na produção da deriva do produto no alvo”.
Experimentos
Para esta avaliação foram realizados dois experimentos no período de um ano, com a aeronave modelo Ipanema EMB 202A, com dois tipos de equipamentos de pulverização: atomizador rotativo e bico hidráulico ajustável, regulados para diferentes tamanhos de gotas. Foi utilizada uma área comercial de produção de grãos, localizada no município de Monte Alegre de Minas, MG, pertencente à Bacia do Rio Paraná. Esta etapa de campo foi coordenada pelo professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), parceira no projeto, João Paulo Rodrigues da Cunha.
Ele informa que realizou-se a semeadura direta do cultivar de soja RR Pionner, de ciclo tardio, com espaçamento entre fileiras de 0,5 m e 10 plantas por metro linear. Após o crescimento das plantas aplicou-se o inseticida tiametoxam + lambda cialotrina com taxa de aplicação de 20 litros por ha em quatro tratamentos: seis atomizadores rotativos de tela, modelo Micronair AU 5000, com pás em ângulo de 65° visando gotas de maior diâmetro, e em ângulo de 35°, para gotas de menor diâmetro; e 54 bicos ajustáveis, modelo Stol, com defletores posicionados a 90°, visando gotas de menor diâmetro, e a 30°, visando gotas de maior diâmetro, de acordo com cada tratamento, e orifício de vazão equivalente D8.
A avaliação da eficácia dos tratamentos no controle do complexo de lagartas (Anticarsia gemmatalis e pseudoplusia includens) e percevejos (Euschistus heros, Nezara viridula e Scaptocoris castanea) foi realizada em duas épocas: antes da aplicação e cinco dias após a aplicação.
Foram feitas quatro repetições, avaliadas após a aplicação de inseticida com diferentes tecnologias de aplicação aérea: deriva, espectro de gotas e controle de lagartas e percevejos. Barizon informa que “para os dois mecanismos geradores de gotas, buscou-se uma regulagem que representava um pior cenário em termos de risco de deriva (gota fina) e outra alternativa para reduzir a deriva”.
O comprimento das parcelas experimentais foi de 250 m e a largura, 128 m. Para cada parcela, o avião realizou oito passadas de 16 m de faixa para garantir a sobreposição adequada, com direção do vento lateral ao sentido de deslocamento (vento de través). O pesquisador explica que durante as aplicações do inseticida, a temperatura variou de 23,9 a 25,3°C; a umidade relativa do ar, de 74 a 81% e; a velocidade do vento de 5,8 a 7,3 km/h. Desta forma, percebe-se que a variação ocorrida durante a realização dos quatro tratamentos foi pequena. “Isso é importante, pois, dentre os vários fatores que interferem no comportamento da deriva durante as aplicações de produtos fitossanitários, as condições ambientais e meteorológicas (temperatura, umidade do ar e velocidade do vento) são as mais importantes”, salienta ele.
Avaliações da deriva
Para a avaliação da deriva, ele explica que antes das aplicações foram instalados coletores ˗˗ estruturas de PVC suportando fios de nylon de 2 mm de diâmetro e 2 m de extensão na vertical. Estes coletores foram posicionados a 20, 40, 80, 160 e 320 metros da área aplicada, a partir do limite de cada parcela experimental no sentido do deslocamento do vento, em quatro repetições. Eles foram instalados de modo que cada fio foi posicionado imediatamente acima do dossel da cultura da soja.
Segundo o pesquisador, as avaliações de deriva foram feitas quantificando-se o ingrediente ativo tiametoxam, por meio de cromatografia líquida. “Para isto, imediatamente após a realização das aplicações, os fios de nylon foram recolhidos cuidadosamente para evitar contaminação cruzada entre as amostras, acondicionados em sacos plásticos, ao abrigo de luz, e encaminhados para análise ao Laboratório de Resíduos de Pesticidas da Embrapa Meio Ambiente.
O controle químico foi avaliado por meio de contagem do complexo de lagartas e percevejos, cinco dias após a aplicação. Também foi avaliado o espectro de gotas, por meio de papéis hidrossensíveis colocados na área alvo. Barizon salienta que “verificou-se que os atomizadores rotativos geraram níveis menores de deriva em relação aos bicos ajustáveis. Foi possível reduzir a deriva da aplicação aérea mediante emprego de regulagem adequada, mantendo-se alta a eficiência de controle de percevejos e lagartas da soja”. Pra ele o controle químico foi satisfatório em todos os tratamentos.
Na maior distância avaliada, de 320 m, a regulagem para tamanho de gota não influenciou os valores obtidos de deriva. As aplicações com atomizadores promoveram menor deriva (índice médio de 0,009), em comparação aos bicos ajustáveis, que em média geraram índice de deriva de 0,044, representando uma redução média de 79,6%. “Ressalta-se que na pesquisa não foi feito um estudo amplo de técnicas de redução de deriva em distintas condições operacionais. Verificou-se que é possível reduzir a deriva mediante regulagem e, desta forma, ensaios com diferentes disposições dos elementos pulverizadores na barra, novos fragmentadores de gotas e adjuvantes são necessários, de forma a minimizar ainda mais a perda por deriva”, complementa Barizon.
Com relação à eficiência de controle, o pesquisador informa que não houve diferença entre os quatro tratamentos, tanto em relação ao complexo de lagartas, quanto de percevejos. Isto demonstra que há viabilidade técnica em se utilizar os tratamentos que proporcionaram os menores níveis de deriva, principalmente aqueles com atomizador rotativo. “O número médio de indivíduos, considerando os quatro tratamentos, cinco dias após as aplicações, foi de 0,2 lagarta por m2 e de 0,4 percevejo por m2. Antes das aplicações a área apresentava 3,0 lagartas por m2 e 4,8 percevejos por m2. Desta forma, a eficiência média de controle foi de 93,3% e 91,7%, respectivamente, podendo os tratamentos inseticidas realizados serem considerados de alta eficiência (maior que 90%)”.
Portanto, o simples uso do defletor a 30° no bico ajustável da aeronave representaria um uma técnica de redução de deriva com potencial de redução deste risco em 57%. Também as aplicações com atomizadores promoveram menor deriva do que o bico ajustável, e não se diferenciaram entre si, apresentando índice de deriva média de 0,062 (redução de 91,5% com relação ao pior caso).
Os atomizadores rotativos geraram níveis menores de deriva e alta eficiência de controle do complexo de percevejos e lagartas da soja, em relação aos bicos ajustáveis. Deste modo, “é possível minimizar a deriva da aplicação aérea mediante emprego de regulagem adequada. Neste sentido, faz-se necessário ampliar os estudos de técnicas de redução de deriva”, diz Barizon.
Um dos maiores problemas da agricultura moderna a ser superado é o uso inadequado das técnicas de aplicação, seja ela terrestre ou aérea. Pensando nisso, pesquisadores da Embrapa elaboraram um projeto para avaliar a deriva e o controle químico promovidos por aplicações aéreas de inseticida. O estudo, realizado em culturas de soja e cana-de-açúcar com o uso de atomizadores rotativos, observou que é possível reduzir em 79% – em média – a deriva, com o emprego dos equipamentos adequados e sua regulagem.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Robson Rolland Monticelli Barizon, o controle químico de insetos na cultura da soja (Glycine max L. Merrill) é uma prática cultural bastante comum. Ele salienta que na ausência deste controle, podem ocorrer grandes prejuízos na produtividade esperada. “Neste processo, frequentemente é dada maior importância ao produto a ser utilizado, e menor importância à forma de utilização”. Ele salienta que “para o sucesso da operação, é necessário dominar a forma adequada de aplicação, de modo a garantir que o produto alcance o alvo de forma eficiente, minimizando as perdas e reduzindo a contaminação do ambiente”.
Estudos já realizados mostraram que dois bicos de pulverização classificados como produtores de gotas médias produziram derivas significativamente diferentes. A 50 m de distância da área alvo, bicos ajustáveis produziram uma deriva 3,2 vezes superior à aplicação com bicos hidráulicos. “Isso confirma a importância do desenho construtivo de cada sistema de pulverização na produção da deriva”, salienta Barizon.
Verifica-se, desta forma, que os atomizadores, comparativamente aos bicos ajustáveis empregados, constituem-se em ferramentas interessantes para reduzir o risco de deriva. Barizon enfatiza que “a configuração dos equipamentos, sejam eles bicos, atomizadores e modelo da aeronave, influenciam na produção da deriva do produto no alvo”.
Experimentos
Para esta avaliação foram realizados dois experimentos no período de um ano, com a aeronave modelo Ipanema EMB 202A, com dois tipos de equipamentos de pulverização: atomizador rotativo e bico hidráulico ajustável, regulados para diferentes tamanhos de gotas. Foi utilizada uma área comercial de produção de grãos, localizada no município de Monte Alegre de Minas, MG, pertencente à Bacia do Rio Paraná. Esta etapa de campo foi coordenada pelo professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), parceira no projeto, João Paulo Rodrigues da Cunha.
Ele informa que realizou-se a semeadura direta do cultivar de soja RR Pionner, de ciclo tardio, com espaçamento entre fileiras de 0,5 m e 10 plantas por metro linear. Após o crescimento das plantas aplicou-se o inseticida tiametoxam + lambda cialotrina com taxa de aplicação de 20 litros por ha em quatro tratamentos: seis atomizadores rotativos de tela, modelo Micronair AU 5000, com pás em ângulo de 65° visando gotas de maior diâmetro, e em ângulo de 35°, para gotas de menor diâmetro; e 54 bicos ajustáveis, modelo Stol, com defletores posicionados a 90°, visando gotas de menor diâmetro, e a 30°, visando gotas de maior diâmetro, de acordo com cada tratamento, e orifício de vazão equivalente D8.
A avaliação da eficácia dos tratamentos no controle do complexo de lagartas (Anticarsia gemmatalis e pseudoplusia includens) e percevejos (Euschistus heros, Nezara viridula e Scaptocoris castanea) foi realizada em duas épocas: antes da aplicação e cinco dias após a aplicação.
Foram feitas quatro repetições, avaliadas após a aplicação de inseticida com diferentes tecnologias de aplicação aérea: deriva, espectro de gotas e controle de lagartas e percevejos. Barizon informa que “para os dois mecanismos geradores de gotas, buscou-se uma regulagem que representava um pior cenário em termos de risco de deriva (gota fina) e outra alternativa para reduzir a deriva”.
O comprimento das parcelas experimentais foi de 250 m e a largura, 128 m. Para cada parcela, o avião realizou oito passadas de 16 m de faixa para garantir a sobreposição adequada, com direção do vento lateral ao sentido de deslocamento (vento de través). O pesquisador explica que durante as aplicações do inseticida, a temperatura variou de 23,9 a 25,3°C; a umidade relativa do ar, de 74 a 81% e; a velocidade do vento de 5,8 a 7,3 km/h. Desta forma, percebe-se que a variação ocorrida durante a realização dos quatro tratamentos foi pequena. “Isso é importante, pois, dentre os vários fatores que interferem no comportamento da deriva durante as aplicações de produtos fitossanitários, as condições ambientais e meteorológicas (temperatura, umidade do ar e velocidade do vento) são as mais importantes”, salienta ele.
Avaliações da deriva
Para a avaliação da deriva, ele explica que antes das aplicações foram instalados coletores ˗˗ estruturas de PVC suportando fios de nylon de 2 mm de diâmetro e 2 m de extensão na vertical. Estes coletores foram posicionados a 20, 40, 80, 160 e 320 metros da área aplicada, a partir do limite de cada parcela experimental no sentido do deslocamento do vento, em quatro repetições. Eles foram instalados de modo que cada fio foi posicionado imediatamente acima do dossel da cultura da soja.
Segundo o pesquisador, as avaliações de deriva foram feitas quantificando-se o ingrediente ativo tiametoxam, por meio de cromatografia líquida. “Para isto, imediatamente após a realização das aplicações, os fios de nylon foram recolhidos cuidadosamente para evitar contaminação cruzada entre as amostras, acondicionados em sacos plásticos, ao abrigo de luz, e encaminhados para análise ao Laboratório de Resíduos de Pesticidas da Embrapa Meio Ambiente.
O controle químico foi avaliado por meio de contagem do complexo de lagartas e percevejos, cinco dias após a aplicação. Também foi avaliado o espectro de gotas, por meio de papéis hidrossensíveis colocados na área alvo. Barizon salienta que “verificou-se que os atomizadores rotativos geraram níveis menores de deriva em relação aos bicos ajustáveis. Foi possível reduzir a deriva da aplicação aérea mediante emprego de regulagem adequada, mantendo-se alta a eficiência de controle de percevejos e lagartas da soja”. Pra ele o controle químico foi satisfatório em todos os tratamentos.
Na maior distância avaliada, de 320 m, a regulagem para tamanho de gota não influenciou os valores obtidos de deriva. As aplicações com atomizadores promoveram menor deriva (índice médio de 0,009), em comparação aos bicos ajustáveis, que em média geraram índice de deriva de 0,044, representando uma redução média de 79,6%. “Ressalta-se que na pesquisa não foi feito um estudo amplo de técnicas de redução de deriva em distintas condições operacionais. Verificou-se que é possível reduzir a deriva mediante regulagem e, desta forma, ensaios com diferentes disposições dos elementos pulverizadores na barra, novos fragmentadores de gotas e adjuvantes são necessários, de forma a minimizar ainda mais a perda por deriva”, complementa Barizon.
Com relação à eficiência de controle, o pesquisador informa que não houve diferença entre os quatro tratamentos, tanto em relação ao complexo de lagartas, quanto de percevejos. Isto demonstra que há viabilidade técnica em se utilizar os tratamentos que proporcionaram os menores níveis de deriva, principalmente aqueles com atomizador rotativo. “O número médio de indivíduos, considerando os quatro tratamentos, cinco dias após as aplicações, foi de 0,2 lagarta por m2 e de 0,4 percevejo por m2. Antes das aplicações a área apresentava 3,0 lagartas por m2 e 4,8 percevejos por m2. Desta forma, a eficiência média de controle foi de 93,3% e 91,7%, respectivamente, podendo os tratamentos inseticidas realizados serem considerados de alta eficiência (maior que 90%)”.
Portanto, o simples uso do defletor a 30° no bico ajustável da aeronave representaria um uma técnica de redução de deriva com potencial de redução deste risco em 57%. Também as aplicações com atomizadores promoveram menor deriva do que o bico ajustável, e não se diferenciaram entre si, apresentando índice de deriva média de 0,062 (redução de 91,5% com relação ao pior caso).
Os atomizadores rotativos geraram níveis menores de deriva e alta eficiência de controle do complexo de percevejos e lagartas da soja, em relação aos bicos ajustáveis. Deste modo, “é possível minimizar a deriva da aplicação aérea mediante emprego de regulagem adequada. Neste sentido, faz-se necessário ampliar os estudos de técnicas de redução de deriva”, diz Barizon.