Produtores de leite do sul de Minas Gerais que já conseguiram solucionar o problema de alimentação das vacas leiteiras e aumentar a produtividade seguem agora outro caminho. Eles enfrentam problemas mais específicos, que o projeto Balde Cheio também ajuda a solucionar. Infestação de carrapatos, adequação de projetos de irrigação, estruturação do rebanho para adaptação ao compost barn… essas são algumas das demandas que a equipe do projeto encontrou no Estado em meados de junho.
O Balde Cheio é uma iniciativa da Embrapa que busca capacitar técnicos em extensão rural para dar assistência a produtores de leite. Tradicionalmente, a pecuária leiteira é praticada por pequenos produtores, pouco tecnificados, que enfrentam muitas dificuldades no Brasil. O projeto está completando 20 anos em 2018 e tem mudado a vida de milhares de famílias no campo.
O pesquisador Artur Chinelato de Camargo, da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP), idealizador do Balde Cheio, visitou algumas propriedades nos municípios de Divisa Nova, Monsenhor Paulo, São Gonçalo do Sapucaí, Campanha, Maria da Fé e Guaranésia, sempre acompanhado do coordenador do projeto em Minas Gerais e Bahia, Walter Miguel Ribeiro, do supervisor regional Alexandre Prado e do pesquisador Alessandro Minho, também da Embrapa Pecuária Sudeste.
A metodologia utiliza a propriedade familiar como sala de aula real e os contatos entre o técnico treinado e o produtor acontecem pelo menos uma vez por mês. Os dois sempre combinam algumas tarefas que devem ser cumpridas pelo produtor e checadas pelo técnico. A adoção de tecnologias respeita o ritmo de cada propriedade. Não há burocracia e tanto o técnico quanto o produtor podem deixar o projeto a qualquer momento.
‘Dá pra viver do leite’
Em cada município, um técnico do Balde Cheio acompanhou a equipe e apresentou os dados das propriedades. Em Divisa Nova, o grupo esteve no Sítio Vista Alegre, de João Cândido Melo Carvalho e Frederico Mendes Carvalho, pai e filho. Na área de 188 hectares, eles produzem leite, queijos, arroz, têm gado de corte e a reserva legal.
O técnico Antônio Celso Pelaquim apresentou aos visitantes informações zootécnicas e financeiras da propriedade, coletadas nos últimos dez meses, quando a família aderiu ao projeto. Frederico recebeu como recomendações providenciar a outorga da água que passa pelo sítio para, futuramente, irrigar seus piquetes. Ele também terá que proteger uma área de preservação permanente, para não permitir a aproximação do gado, plantar aveia e visitar uma propriedade nas mesmas condições para conhecer o sistema de irrigação.
“Quando a gente começou no Balde Cheio, já não via mais futuro na atividade leiteira. Você vai tentando, tentando sozinho e não vai. Chega uma hora que para, trava, e você não dá conta. Foi aí que fui atrás do pessoal do Balde Cheio”, conta o rapaz, que se formou em agronomia e decidiu trabalhar no sítio da família. Hoje ele diz que é possível viver da renda do leite e do queijo, se tiver a assistência técnica para ir adequando sua produção.
Água e fertilidade
Em Guaranésia, a equipe visitou a Fazenda Gordura, de Caio Rivetti, que retornou ao Balde Cheio em janeiro de 2017. Ali, Artur recomendou que o produtor reveja seu sistema de irrigação, já instalado, e providencie composto orgânico para melhorar a fertilidade do solo.
Rivetti já irriga alguns piquetes, mas deve mudar o esquema. Em vez de molhar a pastagem todas as noites, ele passará a irrigar uma noite e deixar três sem irrigação. Esse intervalo vai favorecer o sistema radicular da planta, que deixa de ficar “preguiçoso” e deve se aprofundar mais no solo. O produtor já faz exames de brucelose e tuberculose anualmente no rebanho e adotou a análise de solo como rotina.
Carrapatos, corredores e rebanho
Helena Frota foi a técnica que acompanhou a equipe na Fazenda Santa Maria, em São Gonçalo do Sapucaí. O produtor Henrique Meirelles faz o manejo correto no pastejo rotacionado, tem registrado um incremento da produtividade a cada ano e investiu na sala de ordenha. Este ano está ampliando a área de pastagem para as vacas e a projeção é produzir 4.600 litros/dia. A produtividade deve chegar a 7.100 litros/hectare/ano.
Aparentemente, está tudo correndo bem na Santa Maria. Mas Helena, Artur e Walter perceberam que o produtor pode aumentar sua renda se corrigir alguns problemas específicos, como a infestação por carrapatos, providenciar o abaulamento de corredores por onde os animais passam e, principalmente, rever a estrutura do rebanho.
Segundo Helena, a fazenda tem 34% de vacas em lactação – o que foi considerado um número muito preocupante pela equipe do Balde Cheio. Isso porque seu Henrique tem um custo alto com os animais que não estão produzindo. Ele e a filha, a veterinária Raquel, devem visitar uma propriedade no interior de São Paulo que está conseguindo controlar os carrapatos sem o uso de produtos químicos.
Viabilizando o compost barn
Em Monsenhor Paulo, o proprietário da fazenda Primavera, Anderson Ferreira Totti construiu uma estrutura para confinar 160 animais no sistema compost barn. Trata-se de uma cama de palha (área de descanso) que agrega dejetos dos bovinos, fazendo uma compostagem ao longo do tempo. Essa área é separada do corredor de alimentação ou cocho por um beiral de concreto. Ventiladores instalados na estrutura ajudam a secar o material e proporcionam conforto térmico aos animais.
O problema na fazenda Primavera é que o barracão está subutilizado porque Anderson não tem vacas suficientes para colocar na área. A indicação do Balde Cheio é que ele venda novilhas e adquira vacas em lactação, prestes a entrar nessa fase ou mesmo prenhes. O milho cultivado na propriedade é usado para silagem e o café terá a palhada aproveitada no compost barn.
Café com leite
No Sítio da Pedra, em Campanha, o casal Elza e Sérgio Dias de Castro também foi visitado pela equipe do Balde Cheio. Eles estão manejando o gado em pastejo rotacionado e planejam ampliar a área de pastagem. A técnica Helena Frota os ajuda a negociar com o filho as áreas que serão destinadas à ampliação do plantio de café e da produção de leite.
Artur gostou do que viu na propriedade e anotou algumas recomendações. Dona Elza e seu Sérgio começaram recentemente a estudar inglês na cidade para entender a conversa dos gringos na hora de negociar o café especial. “Nem sempre nossos filhos estarão com a gente. Então precisamos aprender”, disse ela.
Jovem produtor
A passagem da equipe por Maria da Fé foi marcada pela vontade de um jovem de melhorar sua produção. A história de Julian César dos Santos, 19, pode ser conhecida aqui.
Evolução
André dos Reis Silva está no Balde Cheio há seis anos. Ele é dono do sítio Santo Antônio, em, Paraguaçu, que desta vez não foi visitado pela equipe. Mas André acompanhou a equipe do projeto em São Gonçalo do Sapucaí. Ele conta que, antes de procurar a assistência técnica, produzia cerca de 50 litros/dia. Hoje tira 350 litros/dia. “Tenho potencial para produzir mil litros por dia em 6 hectares”, afirma.
André produz queijo fresco e iogurte e conseguiu o SIM (Serviço de Inspeção Municipal) para vender em Paraguaçu. “O Balde Cheio tem sido uma experiência muito significativa. A gente produzia pouco, não enxergava a atividade leiteira como rentável. Hoje vemos que a produção de leite é sustentável”.
Ele disse que começou dividindo a propriedade em piquetes. “Primeiro a gente fica com o pé atrás. Mas com o tempo, vai vendo os resultados e adquirindo confiança.” Segundo ele, dá para viver tranquilo com a produção do leite. André é casado e tem duas filhas.
Conheça mais sobre o Balde Cheio neste vídeo.
Produtores de leite do sul de Minas Gerais que já conseguiram solucionar o problema de alimentação das vacas leiteiras e aumentar a produtividade seguem agora outro caminho. Eles enfrentam problemas mais específicos, que o projeto Balde Cheio também ajuda a solucionar. Infestação de carrapatos, adequação de projetos de irrigação, estruturação do rebanho para adaptação ao compost barn… essas são algumas das demandas que a equipe do projeto encontrou no Estado em meados de junho.
O Balde Cheio é uma iniciativa da Embrapa que busca capacitar técnicos em extensão rural para dar assistência a produtores de leite. Tradicionalmente, a pecuária leiteira é praticada por pequenos produtores, pouco tecnificados, que enfrentam muitas dificuldades no Brasil. O projeto está completando 20 anos em 2018 e tem mudado a vida de milhares de famílias no campo.
O pesquisador Artur Chinelato de Camargo, da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP), idealizador do Balde Cheio, visitou algumas propriedades nos municípios de Divisa Nova, Monsenhor Paulo, São Gonçalo do Sapucaí, Campanha, Maria da Fé e Guaranésia, sempre acompanhado do coordenador do projeto em Minas Gerais e Bahia, Walter Miguel Ribeiro, do supervisor regional Alexandre Prado e do pesquisador Alessandro Minho, também da Embrapa Pecuária Sudeste.
A metodologia utiliza a propriedade familiar como sala de aula real e os contatos entre o técnico treinado e o produtor acontecem pelo menos uma vez por mês. Os dois sempre combinam algumas tarefas que devem ser cumpridas pelo produtor e checadas pelo técnico. A adoção de tecnologias respeita o ritmo de cada propriedade. Não há burocracia e tanto o técnico quanto o produtor podem deixar o projeto a qualquer momento.
‘Dá pra viver do leite’
Em cada município, um técnico do Balde Cheio acompanhou a equipe e apresentou os dados das propriedades. Em Divisa Nova, o grupo esteve no Sítio Vista Alegre, de João Cândido Melo Carvalho e Frederico Mendes Carvalho, pai e filho. Na área de 188 hectares, eles produzem leite, queijos, arroz, têm gado de corte e a reserva legal.
O técnico Antônio Celso Pelaquim apresentou aos visitantes informações zootécnicas e financeiras da propriedade, coletadas nos últimos dez meses, quando a família aderiu ao projeto. Frederico recebeu como recomendações providenciar a outorga da água que passa pelo sítio para, futuramente, irrigar seus piquetes. Ele também terá que proteger uma área de preservação permanente, para não permitir a aproximação do gado, plantar aveia e visitar uma propriedade nas mesmas condições para conhecer o sistema de irrigação.
“Quando a gente começou no Balde Cheio, já não via mais futuro na atividade leiteira. Você vai tentando, tentando sozinho e não vai. Chega uma hora que para, trava, e você não dá conta. Foi aí que fui atrás do pessoal do Balde Cheio”, conta o rapaz, que se formou em agronomia e decidiu trabalhar no sítio da família. Hoje ele diz que é possível viver da renda do leite e do queijo, se tiver a assistência técnica para ir adequando sua produção.
Água e fertilidade
Em Guaranésia, a equipe visitou a Fazenda Gordura, de Caio Rivetti, que retornou ao Balde Cheio em janeiro de 2017. Ali, Artur recomendou que o produtor reveja seu sistema de irrigação, já instalado, e providencie composto orgânico para melhorar a fertilidade do solo.
Rivetti já irriga alguns piquetes, mas deve mudar o esquema. Em vez de molhar a pastagem todas as noites, ele passará a irrigar uma noite e deixar três sem irrigação. Esse intervalo vai favorecer o sistema radicular da planta, que deixa de ficar “preguiçoso” e deve se aprofundar mais no solo. O produtor já faz exames de brucelose e tuberculose anualmente no rebanho e adotou a análise de solo como rotina.
Carrapatos, corredores e rebanho
Helena Frota foi a técnica que acompanhou a equipe na Fazenda Santa Maria, em São Gonçalo do Sapucaí. O produtor Henrique Meirelles faz o manejo correto no pastejo rotacionado, tem registrado um incremento da produtividade a cada ano e investiu na sala de ordenha. Este ano está ampliando a área de pastagem para as vacas e a projeção é produzir 4.600 litros/dia. A produtividade deve chegar a 7.100 litros/hectare/ano.
Aparentemente, está tudo correndo bem na Santa Maria. Mas Helena, Artur e Walter perceberam que o produtor pode aumentar sua renda se corrigir alguns problemas específicos, como a infestação por carrapatos, providenciar o abaulamento de corredores por onde os animais passam e, principalmente, rever a estrutura do rebanho.
Segundo Helena, a fazenda tem 34% de vacas em lactação – o que foi considerado um número muito preocupante pela equipe do Balde Cheio. Isso porque seu Henrique tem um custo alto com os animais que não estão produzindo. Ele e a filha, a veterinária Raquel, devem visitar uma propriedade no interior de São Paulo que está conseguindo controlar os carrapatos sem o uso de produtos químicos.
Viabilizando o compost barn
Em Monsenhor Paulo, o proprietário da fazenda Primavera, Anderson Ferreira Totti construiu uma estrutura para confinar 160 animais no sistema compost barn. Trata-se de uma cama de palha (área de descanso) que agrega dejetos dos bovinos, fazendo uma compostagem ao longo do tempo. Essa área é separada do corredor de alimentação ou cocho por um beiral de concreto. Ventiladores instalados na estrutura ajudam a secar o material e proporcionam conforto térmico aos animais.
O problema na fazenda Primavera é que o barracão está subutilizado porque Anderson não tem vacas suficientes para colocar na área. A indicação do Balde Cheio é que ele venda novilhas e adquira vacas em lactação, prestes a entrar nessa fase ou mesmo prenhes. O milho cultivado na propriedade é usado para silagem e o café terá a palhada aproveitada no compost barn.
Café com leite
No Sítio da Pedra, em Campanha, o casal Elza e Sérgio Dias de Castro também foi visitado pela equipe do Balde Cheio. Eles estão manejando o gado em pastejo rotacionado e planejam ampliar a área de pastagem. A técnica Helena Frota os ajuda a negociar com o filho as áreas que serão destinadas à ampliação do plantio de café e da produção de leite.
Artur gostou do que viu na propriedade e anotou algumas recomendações. Dona Elza e seu Sérgio começaram recentemente a estudar inglês na cidade para entender a conversa dos gringos na hora de negociar o café especial. “Nem sempre nossos filhos estarão com a gente. Então precisamos aprender”, disse ela.
Jovem produtor
A passagem da equipe por Maria da Fé foi marcada pela vontade de um jovem de melhorar sua produção. A história de Julian César dos Santos, 19, pode ser conhecida aqui.
Evolução
André dos Reis Silva está no Balde Cheio há seis anos. Ele é dono do sítio Santo Antônio, em, Paraguaçu, que desta vez não foi visitado pela equipe. Mas André acompanhou a equipe do projeto em São Gonçalo do Sapucaí. Ele conta que, antes de procurar a assistência técnica, produzia cerca de 50 litros/dia. Hoje tira 350 litros/dia. “Tenho potencial para produzir mil litros por dia em 6 hectares”, afirma.
André produz queijo fresco e iogurte e conseguiu o SIM (Serviço de Inspeção Municipal) para vender em Paraguaçu. “O Balde Cheio tem sido uma experiência muito significativa. A gente produzia pouco, não enxergava a atividade leiteira como rentável. Hoje vemos que a produção de leite é sustentável”.
Ele disse que começou dividindo a propriedade em piquetes. “Primeiro a gente fica com o pé atrás. Mas com o tempo, vai vendo os resultados e adquirindo confiança.” Segundo ele, dá para viver tranquilo com a produção do leite. André é casado e tem duas filhas.
Conheça mais sobre o Balde Cheio neste vídeo.