Com a finalidade de discutir os problemas emergentes causados por fitonematoides no país e suas respectivas estratégias de manejo, teve início no último dia 24 de junho, em Bento Gonçalves/RS, o 35º Congresso Brasileiro de Nematologia (CBN). Promovido pela Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o evento reuniu mais de 400 participantes em seus primeiros dias de atividades e, neste início, destacou os prejuízos causados por essas pragas e a importância da assistência técnica aos produtores para minimização de perdas. Os fitonematoides são hoje um dos principais fatores limitantes de produtividade nas principais culturas em todo o país.
Participaram da solenidade de abertura o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), Jair Nachtigal; o sub-chefe do departamento de fitossanidade da UFPel, representando o reitor; Leandro Dalagnol; o chefe-adjunto de P&D da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), Adelino Carnegnin; o presidente da SBN, Ricardo Souza; o presidente do 35º CBN e professor da UFPel, Jerônimo de Araújo Filho; e o vice-presidente do 35º CBN e pesquisador da Embrapa Clima Temperado, César Bauer.
O presidente da SBN, Ricardo Souza, reforçou a importância da integração de pesquisadores de diferentes áreas para evolução na implementação de medidas integradas no controle dos nematoides, evitando-se a delimitação de áreas individuais. “Práticas como essas, que atrasam a ciência brasileira, precisam acabar”, afirmou. O chefe de P&D da Embrapa em Pelotas, Jair Nachtigal, falou da importância da renovação na área. “Fica aqui o desafio de trazer novas lideranças, novos nomes, novos personagens para essa história”, acrescentou. E o presidente do 35º CBN, Jerônimo de Araújo Filho, enfatizou a relevância da realização do evento no Rio Grande do Sul pela segunda vez, onde, segundo ele, a importância dos nematoides é negligenciada em função de limitações em difusão. “Esse congresso vem para suprir essa importância em termos de identificação e de adoção de estratégias de manejo para diversas culturas no RS”, disse.
Histórico nacional e estratégias de manejo
Após a abertura oficial, no domingo (24), o evento teve início com a palestra do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista no tema, Romero Marinho de Moura, que além de apresentar o histórico da problemática associada a fitonematoides no Brasil, ainda abordou seus impactos econômicos em determinadas culturas do Nordeste – onde desenvolveu boa parte de seu trabalho – e algumas necessidades básicas para minimização de perdas.
Segundo Romero, os nematoides de importância agrícola foram trazidos para o país no século XIX com o plantio da palmeira imperial. No Nordeste, a doença se espalhou, atacando coqueiros e dendezeiros. Cerca de 50 anos depois, no início do século XX, outros nematoides também foram a causa na queda de produtividade em cafezais da então província do Rio de Janeiro.
Os pesquisadores responsáveis por identificar os causadores desses problemas, hoje considerados os patriarcas da nematologia brasileira, também foram mencionados na fala de Romero. Bem como os primeiros eventos nacionais – como a Primeira Reunião de Fitopatologistas, em 1936 –, a publicação do primeiro livro ligado ao tema, em 1964, e a criação e primeira reunião da Sociedade Brasileira de Fitopatologia, em 1967, quando foi apresentado o primeiro trabalho sobre fitonematologia em um congresso científico relativo às ciências agrárias.
O pesquisador também demonstrou os resultados de seus trabalhos no Nordeste, onde foram identificadas diferentes espécies de nematoides e as diferentes culturas expressivas afetadas, como o inhame, a cana-de-açúcar, hortaliças como o coentro e o alho poró, a graviola, o melão, a goiabeira e a bananeira. Nestas áreas, um grande problema identificado foi o uso abusivo de nematicidas, sem respeito aos períodos de carência desses produtos.
Por fim, Romero destacou a importância da assistência técnica para orientação dos produtores, pontuando algumas estratégias de manejo para minimização de perdas, como o controle de ervas daninhas suscetíveis a nematoides; o cuidado no uso de mudas contaminadas, especialmente na fruticultura; a higienização de equipamentos utilizados coletivamente por cooperativas; a proibição no improviso de equipamentos para aplicação de nematicidas; a implementação de sistemas integrados de controle, com uso de rotação de culturas e pousio; e a recuperação de solos improdutivos infestados por nematoides.
Contexto internacional
Na segunda-feira, o professor da Universidade de Brasília (UNB), Juvenil Cares, também fez um resgate histórico da nematologia no país e abordou o tema no contexto internacional, apontando os gêneros mais importantes em determinadas regiões. Segundo ele, as perdas causadas pelos nematóides ameaçam a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar, principalmente, nas culturas de subsistência em regiões da África, Ásia e América Latina; e reduzem a eficiência produtiva nas culturas comerciais, gerando diminuição de quantidade e qualidade.
Para Cares, no entanto, as perdas anuais são difíceis de serem avaliadas, mas importantes para demonstrar e conscientizar a sociedade sobre o problema, estabelecer as prioridades de pesquisa, e definir as estratégias de manejo. “Até hoje é difícil mostrar que nematoides são importantes porque não é possível vê-los a olho nu. Não dá para mostrar como um inseto, por exemplo”, disse. No entanto, dados coletados em 2015, em 14 países e 40 culturas, estimam perdas anuais em torno de 13,5%, resultando em prejuízos na ordem de 358,24 bilhões de dólares.
Outro ponto abordado foi o futuro dos nematicidas utilizados para o controle. Para o professor, é necessária a elaboração de compostos mais efetivos e ambientalmente seguros, já que muitos dos atualmente utilizados estão sendo banidos do mercado nacional. Além disso, Cares também mencionou a necessidade de que as tecnologias de aplicação avancem e que sejam desenvolvidos produtos que passem das plantas às raízes, sem contato com o solo.
As mudanças climáticas também têm papel importante na infestação de nematoides, segundo Cares, porque estão alterando a distribuição geográfica das plantas hospedeiras, ocasionando perda de eficiência das medidas de controle. O aquecimento global também possibilitou que nematoides geralmente distribuídos em regiões de altitudes inferiores a 1.400 metros ocupem regiões mais altas.
Com relação ao desenvolvimento da nematologia, o professor vê as limitações de infraestrutura e de recursos como um problema, principalmente porque isso varia muito entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Também, para ele, falta reconhecimento à importância dos nematoides e recursos financeiros para a pesquisa e a extensão rural. O desenvolvimento de políticas públicas que viabilizem a chegada e aplicação dos conhecimentos à agricultura de subsistência, por fim, é uma estratégia importante no controle dos nematoides para Cares.
Programação
Ao longo da semana, o 35º CBN ainda está abordando o impacto dos nematoides especificamente nas culturas do arroz, soja, cana-de-açúcar, fruteiras tropicais e temperadas, cucurbitáceas, tomates e pimentas. Voltado a pesquisadores, professores, técnicos e estudantes, o evento contará ainda com painés, apresentação de trabalhos, minicurso voltado ao emprego da agricultura de precisão no manejo de fitonemaoides, discussão sobre os serviços nematológicos prestados no país, e atividades sócio-culturais. A programação se estende até sexta-feira (29), culminando em visita técnica a pomares de videira e pessegueiro afetados por nematoides.
Confira a programação na íntegra neste link.
Com a finalidade de discutir os problemas emergentes causados por fitonematoides no país e suas respectivas estratégias de manejo, teve início no último dia 24 de junho, em Bento Gonçalves/RS, o 35º Congresso Brasileiro de Nematologia (CBN). Promovido pela Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o evento reuniu mais de 400 participantes em seus primeiros dias de atividades e, neste início, destacou os prejuízos causados por essas pragas e a importância da assistência técnica aos produtores para minimização de perdas. Os fitonematoides são hoje um dos principais fatores limitantes de produtividade nas principais culturas em todo o país.
Participaram da solenidade de abertura o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), Jair Nachtigal; o sub-chefe do departamento de fitossanidade da UFPel, representando o reitor; Leandro Dalagnol; o chefe-adjunto de P&D da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), Adelino Carnegnin; o presidente da SBN, Ricardo Souza; o presidente do 35º CBN e professor da UFPel, Jerônimo de Araújo Filho; e o vice-presidente do 35º CBN e pesquisador da Embrapa Clima Temperado, César Bauer.
O presidente da SBN, Ricardo Souza, reforçou a importância da integração de pesquisadores de diferentes áreas para evolução na implementação de medidas integradas no controle dos nematoides, evitando-se a delimitação de áreas individuais. “Práticas como essas, que atrasam a ciência brasileira, precisam acabar”, afirmou. O chefe de P&D da Embrapa em Pelotas, Jair Nachtigal, falou da importância da renovação na área. “Fica aqui o desafio de trazer novas lideranças, novos nomes, novos personagens para essa história”, acrescentou. E o presidente do 35º CBN, Jerônimo de Araújo Filho, enfatizou a relevância da realização do evento no Rio Grande do Sul pela segunda vez, onde, segundo ele, a importância dos nematoides é negligenciada em função de limitações em difusão. “Esse congresso vem para suprir essa importância em termos de identificação e de adoção de estratégias de manejo para diversas culturas no RS”, disse.
Histórico nacional e estratégias de manejo
Após a abertura oficial, no domingo (24), o evento teve início com a palestra do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista no tema, Romero Marinho de Moura, que além de apresentar o histórico da problemática associada a fitonematoides no Brasil, ainda abordou seus impactos econômicos em determinadas culturas do Nordeste – onde desenvolveu boa parte de seu trabalho – e algumas necessidades básicas para minimização de perdas.
Segundo Romero, os nematoides de importância agrícola foram trazidos para o país no século XIX com o plantio da palmeira imperial. No Nordeste, a doença se espalhou, atacando coqueiros e dendezeiros. Cerca de 50 anos depois, no início do século XX, outros nematoides também foram a causa na queda de produtividade em cafezais da então província do Rio de Janeiro.
Os pesquisadores responsáveis por identificar os causadores desses problemas, hoje considerados os patriarcas da nematologia brasileira, também foram mencionados na fala de Romero. Bem como os primeiros eventos nacionais – como a Primeira Reunião de Fitopatologistas, em 1936 –, a publicação do primeiro livro ligado ao tema, em 1964, e a criação e primeira reunião da Sociedade Brasileira de Fitopatologia, em 1967, quando foi apresentado o primeiro trabalho sobre fitonematologia em um congresso científico relativo às ciências agrárias.
O pesquisador também demonstrou os resultados de seus trabalhos no Nordeste, onde foram identificadas diferentes espécies de nematoides e as diferentes culturas expressivas afetadas, como o inhame, a cana-de-açúcar, hortaliças como o coentro e o alho poró, a graviola, o melão, a goiabeira e a bananeira. Nestas áreas, um grande problema identificado foi o uso abusivo de nematicidas, sem respeito aos períodos de carência desses produtos.
Por fim, Romero destacou a importância da assistência técnica para orientação dos produtores, pontuando algumas estratégias de manejo para minimização de perdas, como o controle de ervas daninhas suscetíveis a nematoides; o cuidado no uso de mudas contaminadas, especialmente na fruticultura; a higienização de equipamentos utilizados coletivamente por cooperativas; a proibição no improviso de equipamentos para aplicação de nematicidas; a implementação de sistemas integrados de controle, com uso de rotação de culturas e pousio; e a recuperação de solos improdutivos infestados por nematoides.
Contexto internacional
Na segunda-feira, o professor da Universidade de Brasília (UNB), Juvenil Cares, também fez um resgate histórico da nematologia no país e abordou o tema no contexto internacional, apontando os gêneros mais importantes em determinadas regiões. Segundo ele, as perdas causadas pelos nematóides ameaçam a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar, principalmente, nas culturas de subsistência em regiões da África, Ásia e América Latina; e reduzem a eficiência produtiva nas culturas comerciais, gerando diminuição de quantidade e qualidade.
Para Cares, no entanto, as perdas anuais são difíceis de serem avaliadas, mas importantes para demonstrar e conscientizar a sociedade sobre o problema, estabelecer as prioridades de pesquisa, e definir as estratégias de manejo. “Até hoje é difícil mostrar que nematoides são importantes porque não é possível vê-los a olho nu. Não dá para mostrar como um inseto, por exemplo”, disse. No entanto, dados coletados em 2015, em 14 países e 40 culturas, estimam perdas anuais em torno de 13,5%, resultando em prejuízos na ordem de 358,24 bilhões de dólares.
Outro ponto abordado foi o futuro dos nematicidas utilizados para o controle. Para o professor, é necessária a elaboração de compostos mais efetivos e ambientalmente seguros, já que muitos dos atualmente utilizados estão sendo banidos do mercado nacional. Além disso, Cares também mencionou a necessidade de que as tecnologias de aplicação avancem e que sejam desenvolvidos produtos que passem das plantas às raízes, sem contato com o solo.
As mudanças climáticas também têm papel importante na infestação de nematoides, segundo Cares, porque estão alterando a distribuição geográfica das plantas hospedeiras, ocasionando perda de eficiência das medidas de controle. O aquecimento global também possibilitou que nematoides geralmente distribuídos em regiões de altitudes inferiores a 1.400 metros ocupem regiões mais altas.
Com relação ao desenvolvimento da nematologia, o professor vê as limitações de infraestrutura e de recursos como um problema, principalmente porque isso varia muito entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Também, para ele, falta reconhecimento à importância dos nematoides e recursos financeiros para a pesquisa e a extensão rural. O desenvolvimento de políticas públicas que viabilizem a chegada e aplicação dos conhecimentos à agricultura de subsistência, por fim, é uma estratégia importante no controle dos nematoides para Cares.
Programação
Ao longo da semana, o 35º CBN ainda está abordando o impacto dos nematoides especificamente nas culturas do arroz, soja, cana-de-açúcar, fruteiras tropicais e temperadas, cucurbitáceas, tomates e pimentas. Voltado a pesquisadores, professores, técnicos e estudantes, o evento contará ainda com painés, apresentação de trabalhos, minicurso voltado ao emprego da agricultura de precisão no manejo de fitonemaoides, discussão sobre os serviços nematológicos prestados no país, e atividades sócio-culturais. A programação se estende até sexta-feira (29), culminando em visita técnica a pomares de videira e pessegueiro afetados por nematoides.
Confira a programação na íntegra neste link.