Incorporar novas práticas de cultivo e manejo do café para desenvolver a cultura, elevar a produtividade e garantir qualidade e mercado para o produto. Com esta finalidade, 54 produtores familiares do município de Acrelândia, principal produtor do grão no estado do Acre, participaram do curso “Qualidade do café conilon: produção, colheita e pós-colheita”, no período de 13 a 15 de junho. A parte teórica da capacitação aconteceu na no Escritório da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). No último dia, foi realiza aula prática na chácara Capixaba, no Ramal da Limeira.
Realizado como parte das ações do projeto “Qualidade da matéria prima, do processamento de açaí e café e gestão de agroindústrias familiares do Acre – Fortalece”, executado pela Embrapa, o curso teve a parceria da Secretaria de Agropecuária (Seap) e apoio da Seaprof, Empresa Miragina e Prefeitura de Acrelândia. De acordo com a analista da Embrapa Acre, Dorila Gonzaga, líder do projeto, o cultivo de café no Acre é uma atividade em franca expansão. Entre 2016 e 2017, a produção aumentou cerca de 60%, evolução atribuída à substituição de cultivos tradicionais por variedades clonais de café, mais produtivas e resistentes a doenças. “Embora os produtores já utilizem materiais genéticos de boa qualidade, ainda enfrentam desafios na cultura”, salienta.
Segundo o analista da Embrapa Rondônia (Porto Velho), João Maria Diocleciano, especialista em cultivo de café e instrutor da capacitação, os participantes receberam orientações sobre técnicas para aumento da produção, como a poda, ponto de colheita, principais pragas e doenças da lavoura, além de informações sobre as boas práticas na colheita e pós-colheita dos grãos, com ênfase na seleção, pré-processamento, armazenamento e transporte dos frutos. “Esses procedimentos possibilitam aumento na produtividade e a obtenção de um produto final com qualidade superior”, explica.
Café clonal
O agricultor Vanderlei de Lara, um dos participantes do curso, morador do Ramal Granada (Acrelândia), começou a plantar café há 20 anos, quando se mudou para o Acre. Ele acredita que com tecnologia a produção na região vai melhorar cada vez mais. Em 2016 iniciou o cultivo de café clonal, após conhecer a técnica no Espírito Santo. “Fiquei encantado com as plantações. Consegui mudas clonais em Rondônia e na safra deste ano colhi 350 sacas de grãos em cinco hectares de terra. Além de maior produtividade, com a nova técnica, reduzi custos tanto em mão de obra quanto em insumos para o cultivo”, conta o agricultor que, antes, com os cafés por semente, colhia 260 sacas em uma área de 26 hectares.
Para Diocleciano, o Acre tem grande potencial para a produção de café clonal, pois apresenta clima e solo favoráveis, mas é necessário investir na tecnificação das lavouras, além de fortalecer a união de esforços dos órgãos públicos, iniciativa privada e entidades representativas dos produtores. “Também é importante a criação de linhas de crédito para apoiar a produção de café e incrementar a renda no campo, já que essa é uma atividade típica da agricultura familiar da região”, destaca.
O café clonal é oriundo de mudas selecionadas. Em Rondônia e no Acre, os clones são produzidos por um processo de hibridação, fruto do cruzamento de duas espécies (conilon e robusta). Além de boa produtividade e resistência a doenças, apresentam características como maturação igualada dos frutos, aspecto que melhora a produção, e qualidade diferenciada dos grãos e da bebida, embora sejam mais exigentes com a irrigação.
Diagnóstico da produção
O café é uma cultura perene que requer cuidados constantes na condução dos cultivos, especialmente em relação à colheita e pós-colheita, etapas que influenciam diretamente a qualidade do produto final (bebida). Um diagnóstico realizado pela Embrapa Acre, com produtores de Acrelândia, apontou que entre os principais fatores limitantes da cultura estão a deficiência nas boas práticas no manejo e a ausência de estruturas para processamento dos grãos.
De acordo com a pesquisadora Virgínia Álvares, a maioria dos agricultores utiliza procedimentos inadequados de colheita e pós-colheita da produção. As etapas mais críticas desse processo envolvem o tempo excessivo que o café fica na lavoura, depois de colhido. Em alguns casos, o café permanece em sacos, no campo, por até 90 dias, sob sol e chuva, devido à demora dos compradores em buscar a produção na propriedade ou em virtude da espera nas indústrias torrefadoras causada pelo aumento da produção e número reduzido de empresas processadoras no estado. Essas condições de calor e umidade favorecem o desenvolvimento de fungos que influenciam drasticamente a qualidade do produto.
Outro ponto crítico apontado pelo estudo é a ausência de secagem do café. A maioria dos agricultores não realiza essa etapa devido à falta de estrutura como o terreiro. “Nossa recomendação é que os produtores comecem a se organizar para que na próxima safra, passem a processar minimamente a produção. A secagem reduz a presença de microorganismos e riscos de contaminação, agrega valor à produção e possibilita ao agricultor obter melhores preços. Sabemos que os produtores já utilizam bons materiais genéticos, mas além de produtividade é preciso que o café tenha qualidade”, ressalta a pesquisadora.
Novo olhar sobre a cultura
Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2017 o Brasil produziu 44,97 milhões de sacas. Minas Gerais, principal estado produtor, responde por cerca de 50% da produção nacional, com praticamente 100% das plantações de café Arábica. O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café e o principal produtor de Conilon (também chamado de Robusta). Na região Norte, Rondônia se destaca como o segundo maior produtor de café conilon, com uma produção de 14 milhões de sacas em 2018, dividindo a segunda posição com a Bahia, com 17% da safra nacional cada um.
Com uma produção de 2.628 toneladas e 42 mil sacas de café em 2017, o Acre ainda não aparece nas estatísticas nacionais da cultura. Para fomentar essa cadeia produtiva, aliado à pesquisa científica, que tem investido no desenvolvimento de materiais genéticos mais produtivos, desde 2013 o governo do estado executa o Programa de Fortalecimento da Cafeicultura. Já foram distribuídas 1,2 mil mudas de cafés seminais e clonais para agricultores familiares, além de equipamento para agroindústrias locais. Atualmente, cerca de 60% da produção acreana de café se concentra em Acrelândia, mas a cultura está presente também em outros 15 municípios.
Para a engenheira-agrônoma da Seap, Michelma Lima, o curso vai proporcionar informações e conhecimentos para melhorar a cafeicultura no Acre e abrir novas perspectivas para a atividade. “Em cinco anos, a nossa área plantada com café cresceu 40%. Precisamos investir em conhecimento para aproveitar o potencial do estado para a cafeicultura. Por exemplo, quando o produtor opta por colher o grão verde e não maduro, a perda na produção é de cerca de 30%. A capacitação pode ajudar o agricultor a construir um novo olhar sobre a cultura e avaliar ganhos e perdas na atividade, decorrentes de suas escolhas”, afirma.
Sobre o Fortalece
Desde 2017, o projeto Fortalece desenvolve ações para a melhoria da gestão do negócio e da qualidade da produção, para fortalecimento das cadeias produtivas do café e açaí e do setor agroindustrial familiar do Acre. Uma das estratégias de atuação é a capacitação de diferentes atores dessas cadeias e a formação de multiplicadores de conhecimentos e tecnologias para melhoria da qualidade da produção e elevação da renda familiar.
A partir de 2019, o projeto também vai atuar junto às torrefadoras do estado, para promover a qualidade do café acreano. “Com o apoio da pesquisa e de instituições de apoio e fomento à produção, é possível melhorar não só a produtividade de café no Acre, mas também a qualidade desse alimento”, diz Dorila Gonzaga.
Incorporar novas práticas de cultivo e manejo do café para desenvolver a cultura, elevar a produtividade e garantir qualidade e mercado para o produto. Com esta finalidade, 54 produtores familiares do município de Acrelândia, principal produtor do grão no estado do Acre, participaram do curso “Qualidade do café conilon: produção, colheita e pós-colheita”, no período de 13 a 15 de junho. A parte teórica da capacitação aconteceu na no Escritório da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). No último dia, foi realiza aula prática na chácara Capixaba, no Ramal da Limeira.
Realizado como parte das ações do projeto “Qualidade da matéria prima, do processamento de açaí e café e gestão de agroindústrias familiares do Acre – Fortalece”, executado pela Embrapa, o curso teve a parceria da Secretaria de Agropecuária (Seap) e apoio da Seaprof, Empresa Miragina e Prefeitura de Acrelândia. De acordo com a analista da Embrapa Acre, Dorila Gonzaga, líder do projeto, o cultivo de café no Acre é uma atividade em franca expansão. Entre 2016 e 2017, a produção aumentou cerca de 60%, evolução atribuída à substituição de cultivos tradicionais por variedades clonais de café, mais produtivas e resistentes a doenças. “Embora os produtores já utilizem materiais genéticos de boa qualidade, ainda enfrentam desafios na cultura”, salienta.
Segundo o analista da Embrapa Rondônia (Porto Velho), João Maria Diocleciano, especialista em cultivo de café e instrutor da capacitação, os participantes receberam orientações sobre técnicas para aumento da produção, como a poda, ponto de colheita, principais pragas e doenças da lavoura, além de informações sobre as boas práticas na colheita e pós-colheita dos grãos, com ênfase na seleção, pré-processamento, armazenamento e transporte dos frutos. “Esses procedimentos possibilitam aumento na produtividade e a obtenção de um produto final com qualidade superior”, explica.
Café clonal
O agricultor Vanderlei de Lara, um dos participantes do curso, morador do Ramal Granada (Acrelândia), começou a plantar café há 20 anos, quando se mudou para o Acre. Ele acredita que com tecnologia a produção na região vai melhorar cada vez mais. Em 2016 iniciou o cultivo de café clonal, após conhecer a técnica no Espírito Santo. “Fiquei encantado com as plantações. Consegui mudas clonais em Rondônia e na safra deste ano colhi 350 sacas de grãos em cinco hectares de terra. Além de maior produtividade, com a nova técnica, reduzi custos tanto em mão de obra quanto em insumos para o cultivo”, conta o agricultor que, antes, com os cafés por semente, colhia 260 sacas em uma área de 26 hectares.
Para Diocleciano, o Acre tem grande potencial para a produção de café clonal, pois apresenta clima e solo favoráveis, mas é necessário investir na tecnificação das lavouras, além de fortalecer a união de esforços dos órgãos públicos, iniciativa privada e entidades representativas dos produtores. “Também é importante a criação de linhas de crédito para apoiar a produção de café e incrementar a renda no campo, já que essa é uma atividade típica da agricultura familiar da região”, destaca.
O café clonal é oriundo de mudas selecionadas. Em Rondônia e no Acre, os clones são produzidos por um processo de hibridação, fruto do cruzamento de duas espécies (conilon e robusta). Além de boa produtividade e resistência a doenças, apresentam características como maturação igualada dos frutos, aspecto que melhora a produção, e qualidade diferenciada dos grãos e da bebida, embora sejam mais exigentes com a irrigação.
Diagnóstico da produção
O café é uma cultura perene que requer cuidados constantes na condução dos cultivos, especialmente em relação à colheita e pós-colheita, etapas que influenciam diretamente a qualidade do produto final (bebida). Um diagnóstico realizado pela Embrapa Acre, com produtores de Acrelândia, apontou que entre os principais fatores limitantes da cultura estão a deficiência nas boas práticas no manejo e a ausência de estruturas para processamento dos grãos.
De acordo com a pesquisadora Virgínia Álvares, a maioria dos agricultores utiliza procedimentos inadequados de colheita e pós-colheita da produção. As etapas mais críticas desse processo envolvem o tempo excessivo que o café fica na lavoura, depois de colhido. Em alguns casos, o café permanece em sacos, no campo, por até 90 dias, sob sol e chuva, devido à demora dos compradores em buscar a produção na propriedade ou em virtude da espera nas indústrias torrefadoras causada pelo aumento da produção e número reduzido de empresas processadoras no estado. Essas condições de calor e umidade favorecem o desenvolvimento de fungos que influenciam drasticamente a qualidade do produto.
Outro ponto crítico apontado pelo estudo é a ausência de secagem do café. A maioria dos agricultores não realiza essa etapa devido à falta de estrutura como o terreiro. “Nossa recomendação é que os produtores comecem a se organizar para que na próxima safra, passem a processar minimamente a produção. A secagem reduz a presença de microorganismos e riscos de contaminação, agrega valor à produção e possibilita ao agricultor obter melhores preços. Sabemos que os produtores já utilizam bons materiais genéticos, mas além de produtividade é preciso que o café tenha qualidade”, ressalta a pesquisadora.
Novo olhar sobre a cultura
Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2017 o Brasil produziu 44,97 milhões de sacas. Minas Gerais, principal estado produtor, responde por cerca de 50% da produção nacional, com praticamente 100% das plantações de café Arábica. O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café e o principal produtor de Conilon (também chamado de Robusta). Na região Norte, Rondônia se destaca como o segundo maior produtor de café conilon, com uma produção de 14 milhões de sacas em 2018, dividindo a segunda posição com a Bahia, com 17% da safra nacional cada um.
Com uma produção de 2.628 toneladas e 42 mil sacas de café em 2017, o Acre ainda não aparece nas estatísticas nacionais da cultura. Para fomentar essa cadeia produtiva, aliado à pesquisa científica, que tem investido no desenvolvimento de materiais genéticos mais produtivos, desde 2013 o governo do estado executa o Programa de Fortalecimento da Cafeicultura. Já foram distribuídas 1,2 mil mudas de cafés seminais e clonais para agricultores familiares, além de equipamento para agroindústrias locais. Atualmente, cerca de 60% da produção acreana de café se concentra em Acrelândia, mas a cultura está presente também em outros 15 municípios.
Para a engenheira-agrônoma da Seap, Michelma Lima, o curso vai proporcionar informações e conhecimentos para melhorar a cafeicultura no Acre e abrir novas perspectivas para a atividade. “Em cinco anos, a nossa área plantada com café cresceu 40%. Precisamos investir em conhecimento para aproveitar o potencial do estado para a cafeicultura. Por exemplo, quando o produtor opta por colher o grão verde e não maduro, a perda na produção é de cerca de 30%. A capacitação pode ajudar o agricultor a construir um novo olhar sobre a cultura e avaliar ganhos e perdas na atividade, decorrentes de suas escolhas”, afirma.
Sobre o Fortalece
Desde 2017, o projeto Fortalece desenvolve ações para a melhoria da gestão do negócio e da qualidade da produção, para fortalecimento das cadeias produtivas do café e açaí e do setor agroindustrial familiar do Acre. Uma das estratégias de atuação é a capacitação de diferentes atores dessas cadeias e a formação de multiplicadores de conhecimentos e tecnologias para melhoria da qualidade da produção e elevação da renda familiar.
A partir de 2019, o projeto também vai atuar junto às torrefadoras do estado, para promover a qualidade do café acreano. “Com o apoio da pesquisa e de instituições de apoio e fomento à produção, é possível melhorar não só a produtividade de café no Acre, mas também a qualidade desse alimento”, diz Dorila Gonzaga.