Em abril de 2009, um novo vírus que vinha causando fortes pneumonias entre as populações do continente americano foi identificado: tratava-se de um vírus de origem suína, causador da gripe A, também chamada de influenza suína. No final daquele mesmo ano, a vacina contra a doença já estava disponível. Na equipe de especialistas do Agriculture Research Service / ARS (Agência de Pesquisa em Agricultura dos EUA) responsável pelo desenvolvimento da vacina, estava a pesquisadora da Embrapa, Janice Reis Ciacci Zanella. Na ocasião, a atual chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves era pesquisadora do Labex-EUA, ao qual tinha sido integrada no ano anterior.
Essa e outras conquistas do Labex serão lembradas no seminário de celebração dos 20 anos de parceria entre a Embrapa e o ARS (sigla em inglês para Agriculture Research Service), que acontece na próxima quarta-feira (16), em Beltsville, Maryland, Estados Unidos. O seminário terá a participação do presidente Maurício Lopes e vai durar o dia todo. Além das celebrações pelo aniversário do programa, a programação inclui palestras e discussões sobre desafios e oportunidades para organizações públicas de pesquisa agropecuária. Especialistas em agricultura convidados pelo coordenador do Labex-EUA, Geraldo Martha Júnior, participam dessa segunda parte do seminário. O gerente de Relações Estratégicas Internacionais da Embrapa, Alexandre Amaral, vai acompanhar o presidente na missão e dará continuidade aos desdobramentos do evento no Brasil.
A ARS foi a primeira instituição com quem a empresa estabeleceu uma parceria nos moldes do Programa Embrapa Labex (Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior) quando, em 1998, as duas organizações de pesquisa assinaram um acordo de cooperação que, desde então, vem sendo renovado. Similar à Embrapa, a ARS é a agência americana de pesquisa em agropecuária vinculada ao USDA (United States Department of Agriculture), órgão equivalente, nos EUA, ao Ministério da Agricultura do Brasil.
Também fruto das articulações institucionais possibilitadas pela presença efetiva de um pesquisador da empresa nos EUA, um acordo de cooperação entre a Embrapa e a Corteva Agriscience (Divisão de Agricultura da DowDuPont, cuja atuação é focada em germoplasma, biotecnologia e proteção de culturas), será assinado pelos dirigentes das duas instituições em encontro que acontece nesta quinta-feira (17), nos EUA, onde o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, participa de eventos científicos que celebram o aniversário de 20 anos do Programa Labex. O termo estabelece duas grandes vertentes para a colaboração entre as duas partes: parceria em biologia avançada, com foco em edição genômica, e parceria em agricultura digital, com foco em ferramentas digitais e em modelagem avançada em apoio à tomada de decisão.
Ter uma pesquisadora brasileira integrando a equipe de ponta, responsável pelo desenvolvimento da vacina contra um vírus letal causador de uma pandemia que colocou vários países em estado de alerta é uma das grandes conquistas do programa de colaboração científica da Embrapa que, em 2018, completa 20 anos de existência. Mas não é a única.
Pesquisador da Embrapa Instrumentação e diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento no período de 2012 a 2017, Ladislau Martin Neto foi coordenador do Programa Embrapa Labex nos Estados Unidos de 2009 a 2011. Ele ressalta, por exemplo, as contribuições do programa nas áreas de saúde animal, recursos genéticos, manejo florestal, mudança climática, entre outras, que contribuíram para a execução de mais de 48 projetos de pesquisa no Brasil.
Entre elas, destacam-se, além da pesquisa com o vírus influenza H1N1, o acesso da Embrapa aos materiais genéticos da ARS e vice-versa, a introdução da tecnologia Lidar, baseada no uso de luz e laser, no Brasil, para o monitoramento e avaliação tridimensional da Floresta Amazônica – pesquisa executada em parceria com a US Forest Service, agência de conservação ambiental do Departamento de Agricultura Americano, pesquisas com uso de ferramentas experimentais avançadas no sequestro de carbono do solo e emissões de gases de efeito estufa em áreas de manejos sustentáveis.
O modelo de laboratórios virtuais possibilita a inserção de pesquisadores da empresa em equipes científicas internacionais de excelência em diferentes países, por meio de acordos de cooperação mútua. A contraparte no exterior recebe os pesquisadores, acolhendo-os em seus laboratórios e equipes de trabalho. Assim, a colaboração é consolidada sem a necessidade de a Embrapa construir ou manter uma infraestrutura própria fora do Brasil.
“Essa iniciativa, bem-sucedida, vem servindo de modelo para instituições de pesquisa agropecuária de outros países ao criarem seus programas de cooperação internacional, entre os quais a Argentina, a Colômbia, a Coreia do Sul e a China”, afirma Alexandre Amaral, Gerente de Relações Estratégicas Internacionais da Embrapa. “A participação de pesquisadores da empresa em redes científicas formadas por especialistas em suas áreas e que atuam em diversos países é uma das ações essenciais para garantir que a ciência agropecuária brasileira mantenha-se na fronteira do conhecimento”, afirma o pesquisador, que também integrou o Programa Labex.
Entre 2010 e 2012, Amaral trabalhou, na Inglaterra, junto com a equipe do Rothamsted Research (considerado o mais antigo centro de pesquisa em agropecuária do mundo), desenvolvendo estudos sobre interação molecular plantas-microorganismos. Como desdobramentos de sua participação no Programa Labex-Europa/Reino Unido, foram iniciados, à época, pelo menos quatro projetos de pesquisa financiados pela Embrapa e pelo BBSRC (Biotechnology and Biological Sciences Research Council), uma agência inglesa de financiamento científico. Esses projetos envolveram três institutos que, até hoje, vêm colaborando com a empresa brasileira na mesma área de atuação de Amaral, sanidade da cultura do trigo.
“Há conquistas permanentes do Programa Labex cujos resultados são difíceis de quantificar”, explica o Gerente. “São resultados que se refletem, por exemplo, nos avanços alcançados em algumas linhas de atuação e no estímulo a novas áreas de pesquisa estratégicas para a empresa, na criação de novos portfólios no âmbito da própria Embrapa e na realização de capacitações de colegas em técnicas inovadoras, algumas vezes inéditas, proporcionadas por cientistas das instituições parceiras», completa Amaral. Foi exatamente o que ocorreu a partir da participação de Janice Zanella no Programa Labex-EUA entre 2008 e 2010.
Para além das atividades essencialmente relacionadas à pesquisa, o trabalho de construção e gestão de relacionamentos e parcerias iniciado por Zanella naquele período rende frutos até hoje: em março, a pesquisadora portuguesa Sarah Lopes, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), esteve na Embrapa Suínos e Aves onde, durante duas semanas, ministrou uma capacitação para os profissionais da Unidade que, no sistema de programação de pesquisas interno da empresa, integram o portfólio de Sanidade Suína.
“A capacitação foi em cartografia antigênica para vírus de influenza, que permite caracterizar os antígenos virais para melhor desenho vacinal”, explica a cientista brasileira. É um método inovador, de ponta, inédito no Brasil, que alia sequenciamento genômico e outras técnicas para identificar mutações em vírus”, complementa. Esse procedimento é o que permite, por exemplo, a criação, a cada ano, de novas vacinas contra a gripe”, conclui Janice Zanella.
Conquistas que se consolidam e se expandem
Em 2009, o Programa Labex colocou o Brasil no mapa da influenza suína, permitindo que a Embrapa estivesse presente e atuante, institucionalmente, na hora certa e no lugar adequado em um momento de enfrentamento de uma questão científica crucial. O laboratório da ARS onde Zanella trabalhou durante dois anos é o maior centro em sanidade animal do mundo, que abriga, entre outros setores, a área responsável pela liberação de vacinas nos EUA.
Quando a gripe A eclodiu, no primeiro semestre de 2009, a pesquisadora já vinha trabalhando há um ano com a equipe da ARS. Um de seus objetivos ao postular uma vaga para integrar o programa de cooperação internacional da empresa era aprimorar seus conhecimentos sobre vírus exóticos, que não existiam no Brasil. “Desde 1999, anos antes de me tornar pesquisadora-Labex, eu vinha estudando uma doença de suínos muito importante no mundo todo e que, só nos EUA, causa prejuízos estimados em 1 bilhão de dólares por ano”, conta Zanella, que atualmente. No primeiro ano no ARS, seus estudos foram focados apenas nessa doença da qual o Brasil mantém-se livre, apesar dela já ter chegado ao vizinho Uruguai.
Isso se deve ao excelente trabalho de controle de entradas de potenciais agentes patógenos no País, realizado pelo Ministério da Agricultura em um trabalho que conta com a colaboração da pesquisadora e de outros profissionais especializados em sanidade animal da Embrapa, muitos dos quais integrantes da rede formada a partir da sua experiência no Labex-EUA.
Outra intenção da pesquisadora era promover a reestruturação da área de sanidade animal da Embrapa, fortalecendo a atuação da empresa nesse campo que, na época, era menor e menos avançado do que o de sanidade vegetal. Para isso, no momento da elaboração do projeto apresentado para postular o cargo de pesquisadora-Labex, visitou as unidades da Embrapa dedicadas à produção animal (Gado de Leite, Gado de Corte, Pantanal e Caprinos), para conhecer a estrutura dos centros brasileiros dedicados ao tema. Com essas visitas, pode ver de perto as condições de trabalho nas instalações locais da empresa, além de estabelecer uma rede de contatos com os colegas de instituição que poderiam lhe fornecer subsídios durante o período em que estivesse atuando no exterior. Paralelamente, se informou sobre as linhas de atuação dos pesquisadores da ARS para saber, exatamente, onde e como se inserir no trabalho desenvolvido pela agência americana.
Foi assim que, além de permitir a participação do Brasil no desenvolvimento da vacina de uma doença devastadora, a participação de Janice Zanella no Programa Labex cumpriu a missão pretendida: atualmente, a equipe de sanitaristas da Embrapa Suínos e Aves é a maior da instituição na área de sanidade animal, liderando o portfólio sobre essa temática na carteira de projetos da empresa.
Essa rede começou a ser formada em 2009, quando a partir das articulações feitas no Labex-EUA, Zanella promoveu dois workshops no Brasil, com capacitações oferecidas por especialistas americanos em sanidade suína com conteúdos voltados para as necessidades de avanço de conhecimentos na área dos especialistas brasileiros.
“Um desses workshops aconteceu em Campo Grande e possibilitou a capacitação de aproximadamente 40 profissionais. Além do meu consorte nos EUA, professores da UnB e da USP também participaram do evento”, destaca a pesquisadora. “Essas interações são essenciais para o engajamento de especialistas em iniciativas futuras, como a criação de redes e a constituição, no âmbito da Embrapa, de portfólios temáticos. Além disso, o fato de integrarmos redes internacionais de pesquisa, facilita a importação de produtos necessários tanto para o bom andamento dos trabalhos de pesquisa, quanto para assegurar o controle das fronteiras no sentido de evitar a entrada de novas doenças em nosso território”, complementa.Desde 2011, a sanitarista embrapiana participa de comitês internacionais participando da redação de relatório anuais sobre o estado da arte sobre controle de doenças de suínos no Brasil.
Para citar outro exemplo que ilustra como os resultados do programa de cooperação internacional da Embrapa não se restringem ao âmbito da própria empresa, trazendo aportes importantes para a comunidade científica em geral, temos a recente disponibilização, em português da nova página pública do Sistema de Informações Alelo Animal. Primeiro sistema internacional voltado para o armazenamento de informações genéticas, produtivas e de árvore genealógica de recursos genéticos animais, o Alelo Animal nasceu de parcerias estabelecidas pelo pesquisador Arthur Mariante no período em que integrou o programa nos EUA.
O sistema existente hoje foi aprimorado ao longo de anos e tudo começou com o compartilhamento de dados entre Brasil e EUA em uma articulação realizada por Mariante e que, nas últimas etapas, contou com a colaboração de Samuel Rezende Paiva (Embrapa Recursos Genéticos), também pesquisador-Labex EUA de 2013 a 2017.
Por meio do Sistema Alelo Animal, a enorme base de dados formada por coleções do Brasil, Estados Unidos e Canadá (que se uniu ao projeto em um momento posterior), pode ser acessada por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. Relatórios públicos gerados em tempo real permitem verificações e comparações entre as informações constantes nas coleções dos três países. Pesquisadores, estudiosos e outros interessados, fluentes ou não em inglês, podem usar a ferramenta gratuitamente.
Saiba mais sobre o Sistema Alelo : Em Português, nova página pública do Alelo Animal tem navegação fácil e conteúdo para diferentes públicos
O pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), Luiz Henrique Capparelli Mattoso, participou do Programa Labex de 2005 a 2007. Sua atuação é também um exemplo de como a iniciativa é um mecanismo efetivo e por isso fundamental para a prospecção em áreas da fronteira do conhecimento, permitindo a continuidade de processos, como os de construção de redes de pesquisa no Brasil, que promovem a abertura de novas áreas de atuação para a Embrapa e seus parceiros em âmbito nacional. Entre os principais frutos do trabalho que Mattoso iniciou como integrante do Labex está a formação da AgroNano, uma das primeiras grandes redes multi-institucionais que integra hoje a carteira de portfólios de pesquisas da Embrapa.
Criada há dez anos, a Rede AgroNano já se estabeleceu como um grupo de pesquisa consolidado e de incorporação contínua de conhecimento e de desenvolvimento de tecnologias. O desafio de atuar em caráter multidisciplinar, unindo diferentes visões e integrando diversas áreas do conhecimento tem proporcionado resultados expressivos à Rede. Em pouco mais de uma década, os 157 pesquisadores de 62 instituições de pesquisa que integrantes da AgroNano, sendo 23 centros da Embrapa e 39 universidades, desenvolveram mais de 50 projetos, incluindo o apoio de parceiros internacionais, entre eles, o Serviço de Pesquisa Agrícola, vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, agências de fomento e empresas privadas.
“A gente tem que acompanhar os países líderes mundiais em ciência e tecnologia, como Estados Unidos e países da Europa e da Ásia, para podermos unir esforços e alcançar mais rápido os objetivos comuns da pesquisa em áreas estratégicas para o Brasil”, ressalta Mattoso.
Até hoje tem estudantes que concluem seus estudos lá. No total são 150 integrantes.
No âmbito da Rede AgroNano, já foram publicados mais de quarenta artigos científicos em revistas especializadas em co-autoria com especialistas da ARS , além de os estudos terem gerado o registro de duas patentes. Uma delas é a de um novo sistema de produção de nanofibras para aplicação em embalagens e que pode ser usado, também, em mecanismos de liberação controlada de fertilizantes ou de medicamentos. A patente foi concedida em 2017. “É uma tecnologia que permite a formação de uma espécie de pele com textura especial,” explica Mattosso, ao falar sobre um dos usos potenciais para o sistema patenteado. “Ela pode ser usada, por exemplo, para o desenvolvimento de um produto a ser aplicado, via spray, sobre a pele de animais feridos, gerando uma camada protetora. Essa pele especial é que pode ser composta por nanofibras que originam um composto anti-inflamatório. Por ser natural, esse composto é também biodegradável. Ele vai servir, ao mesmo tempo para tratar feridas e proteger o animal, sendo depois absorvida por organismo sem causar algum dano ao bicho”, detalha o pesquisador.
Um modelo bem-sucedido de cooperação científica internacional
O modelo de atuação do Programa Labex baseia-se no estabelecimento de parcerias entre a empresa brasileira e instituições de pesquisa sediadas em outros países. A iniciativa teve início em 1998 via um acordo de cooperação com o Agriculture Research Service (ARS), nos Estados Unidos (USA). Nos anos seguintes, termos de cooperação foram firmados com centros de pesquisa na Europa (França, Holanda, Reino Unido e Alemanha), na Coreia do Sul e na China.
Pesquisadores da Embrapa selecionados via edital interno passam de dois a três anos trabalhando em laboratórios das contrapartes no exterior onde, junto às equipes locais, desenvolvem pesquisas de interesse de ambas as organizações. O programa também prevê o percurso inverso: no chamado “Labex invertido”, pesquisadores de instituições internacionais parceiras se estabelecem nos centros de pesquisa da Embrapa para desenvolver projetos de interesse mútuo.
O Embrapa-Labex funciona tanto como uma ferramenta para a criação de novos acordos de cooperação quanto como instrumento de reforço e de diversificação de parcerias já estabelecidas. Esse trabalho é desenvolvido tanto pelo Coordenador-Labex quanto pelo Pesquisador-Labex. O primeiro é um profissional que, durante sua permanência no Labex, assume funções gerenciais e encarrega-se da prospecção em várias áreas de interesse e de articulação institucional. Municiado pelos colegas da Embrapa, ele faz contatos e estabelece relações com grupos e redes de especializações não necessariamente associadas àquela em que ele próprio atua.
Já o Pesquisador do Labex dedica-se, especificamente, à sua área de atuação, usando o projeto aprovado no momento de sua seleção como nucleador de ações. Ele também tem a responsabilidade de estabelecer novas parcerias e reforçar as já existentes, e trabalha ainda para formar redes de cooperação, sempre com foco em sua temática.
Ambos os profissionais realizam um trabalho de prospecção, criação e consolidação de redes colaborativas, o que, ao longo dos últimos 20 anos, vem fortalecendo substancialmente a cooperação científica internacional da Embrapa. Esse modelo tornou o Labex um eficiente mecanismo para inserção dos pesquisadores da Embrapa em equipes científicas estrangeiras de excelência.
Em 2012, o Labex-Europa completou dez anos de atuação e, na ocasião, o consórcio científico, Agropolis Internacional, instituição com quem a Embrapa firmou o acordo de cooperação para instalação do programa naquele continente, dedicou um informativo inteiro ao parceiro brasileiro.
Bernard Hubert, pesquisador sênior do INRA e da Escola de Altos Estudos em Ciências Socais, em Paris, à época, er o presidente do consórcio. Em entrevista ao informativo, destacou o pioneirismo da Embrapa ao estabelecer, uma década antes, a parceria que colocava o Brasil no devido lugar que os países do cone sul devem assumir como participantes do mercado agrícola-alimentar em escala mundial. Hubert destacou a importância do engajamento da instituição de pesquisa agropecuária estabelecer colaborações com as melhores equipes de cientistas do mundo situadas nos diferentes continentes.
Atual coordenador do Labex-Europa, Pedro Machado, destaca o papel do programa para a inclusão do Brasil em redes e fóruns científicos internacionais, evitando o isolamento científico, o que amplia tanto a visibilidade da Embrapa quanto o conhecimento, em âmbito internacional, das conquistas e os avanços alcançados pela pesquisa agropecuária brasileira. “O fato da Embrapa, hoje, ser convidada a participar de reuniões e fóruns que subsidiam a tomada de decisões globais se deve à sua inserção em redes de cooperação científica internacionais”, acredita Machado. “E o Labex tem sido, ao longo desses 20 anos, o principal instrumento da empresa para a prospecção e a consolidação dessas cooperações,” complementa.
Pedro Machado esteve no Brasil nas primeiras semanas de maio para participar de reuniões entre as diretorias da Embrapa e do Instituto Nacional de Pesquisa em Agricultura da França, INRA (na sigla em francês) realizadas com o intuito de assinar a renovação do memorando de entendimento e de cooperação entre as duas instituições. “O INRA já é um parceiro da empresa. Mas a nossa presença ao lado deles, na França, por meio do Labex, foi o que possibilitou o alinhamento detalhado dos termos acertados para a renovação desse acordo”, explica Machado. Um alinhamento que teve início meses atrás, quando o INRA convidou a Embrapa para participar da reunião de elaboração de seus programas de pesquisa. “Nesse encontro, a Embrapa era a única instituição que atua no cinturão tropical do planeta. As outras agências de pesquisa convidadas eram dos EUA, da Austrália e do Canadá”, acrescenta o pesquisador.
Saiba mais: Embrapa e INRA renovam parceria de cooperação internacional
Em relação ao parceiro americano, Geraldo Martha, coordenador do Labex-EUA, tem observado grande sintonia e interesse em aprofundar as parcerias entre o ARS e a Embrapa na área de transformação digital. Segundo o coordenador, há possibilidade de serem feitos avanços nesse campo, com a programação de ações colaborativas que incluam a prospecção em infraestrutura e, também, iniciativas que vão possibilitar avanços em trabalhos conjuntos em agricultura de precisão e modelagem avançada.
Embrapa Labex em datas
1998 – inauguração do Labex-EUA (parceria com o Agriculture Research Service – ARS / Washington, EUA)
2002 – inauguração do Labex-Europa (parceria com a Agropolis Internacional / Montpellier, França)
2006: pesquisador-Labex inicia o programa na Holanda (Universidade de Wageningen)
2008 – Criação do Consórcio Internacional em Biologia Avançada (CIBA) – colaboração científica franco-brasileira.
2010: pesquisador-Labex inicia o programa no Reino Unido (Rothamsted Research)
2012: pesquisador-Labex inicia o programa na Alemanha (instituto Jülich, na Alemanha)
2009 – inauguração do Labex-Coreia (parceria a com a RDA – Agência do Desenvolvimento Rural)
2012 – inauguração do Labex-China (parceria a CAAS – Chinese Academy of Agricultural Sciences)
Saiba mais sobre a trajetória do programa de cooperação científica internacional da Embrapa no site do Labex
Em abril de 2009, um novo vírus que vinha causando fortes pneumonias entre as populações do continente americano foi identificado: tratava-se de um vírus de origem suína, causador da gripe A, também chamada de influenza suína. No final daquele mesmo ano, a vacina contra a doença já estava disponível. Na equipe de especialistas do Agriculture Research Service / ARS (Agência de Pesquisa em Agricultura dos EUA) responsável pelo desenvolvimento da vacina, estava a pesquisadora da Embrapa, Janice Reis Ciacci Zanella. Na ocasião, a atual chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves era pesquisadora do Labex-EUA, ao qual tinha sido integrada no ano anterior.
Essa e outras conquistas do Labex serão lembradas no seminário de celebração dos 20 anos de parceria entre a Embrapa e o ARS (sigla em inglês para Agriculture Research Service), que acontece na próxima quarta-feira (16), em Beltsville, Maryland, Estados Unidos. O seminário terá a participação do presidente Maurício Lopes e vai durar o dia todo. Além das celebrações pelo aniversário do programa, a programação inclui palestras e discussões sobre desafios e oportunidades para organizações públicas de pesquisa agropecuária. Especialistas em agricultura convidados pelo coordenador do Labex-EUA, Geraldo Martha Júnior, participam dessa segunda parte do seminário. O gerente de Relações Estratégicas Internacionais da Embrapa, Alexandre Amaral, vai acompanhar o presidente na missão e dará continuidade aos desdobramentos do evento no Brasil.
A ARS foi a primeira instituição com quem a empresa estabeleceu uma parceria nos moldes do Programa Embrapa Labex (Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior) quando, em 1998, as duas organizações de pesquisa assinaram um acordo de cooperação que, desde então, vem sendo renovado. Similar à Embrapa, a ARS é a agência americana de pesquisa em agropecuária vinculada ao USDA (United States Department of Agriculture), órgão equivalente, nos EUA, ao Ministério da Agricultura do Brasil.
Também fruto das articulações institucionais possibilitadas pela presença efetiva de um pesquisador da empresa nos EUA, um acordo de cooperação entre a Embrapa e a Corteva Agriscience (Divisão de Agricultura da DowDuPont, cuja atuação é focada em germoplasma, biotecnologia e proteção de culturas), será assinado pelos dirigentes das duas instituições em encontro que acontece nesta quinta-feira (17), nos EUA, onde o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, participa de eventos científicos que celebram o aniversário de 20 anos do Programa Labex. O termo estabelece duas grandes vertentes para a colaboração entre as duas partes: parceria em biologia avançada, com foco em edição genômica, e parceria em agricultura digital, com foco em ferramentas digitais e em modelagem avançada em apoio à tomada de decisão.
Ter uma pesquisadora brasileira integrando a equipe de ponta, responsável pelo desenvolvimento da vacina contra um vírus letal causador de uma pandemia que colocou vários países em estado de alerta é uma das grandes conquistas do programa de colaboração científica da Embrapa que, em 2018, completa 20 anos de existência. Mas não é a única.
Pesquisador da Embrapa Instrumentação e diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento no período de 2012 a 2017, Ladislau Martin Neto foi coordenador do Programa Embrapa Labex nos Estados Unidos de 2009 a 2011. Ele ressalta, por exemplo, as contribuições do programa nas áreas de saúde animal, recursos genéticos, manejo florestal, mudança climática, entre outras, que contribuíram para a execução de mais de 48 projetos de pesquisa no Brasil.
Entre elas, destacam-se, além da pesquisa com o vírus influenza H1N1, o acesso da Embrapa aos materiais genéticos da ARS e vice-versa, a introdução da tecnologia Lidar, baseada no uso de luz e laser, no Brasil, para o monitoramento e avaliação tridimensional da Floresta Amazônica – pesquisa executada em parceria com a US Forest Service, agência de conservação ambiental do Departamento de Agricultura Americano, pesquisas com uso de ferramentas experimentais avançadas no sequestro de carbono do solo e emissões de gases de efeito estufa em áreas de manejos sustentáveis.
O modelo de laboratórios virtuais possibilita a inserção de pesquisadores da empresa em equipes científicas internacionais de excelência em diferentes países, por meio de acordos de cooperação mútua. A contraparte no exterior recebe os pesquisadores, acolhendo-os em seus laboratórios e equipes de trabalho. Assim, a colaboração é consolidada sem a necessidade de a Embrapa construir ou manter uma infraestrutura própria fora do Brasil.
“Essa iniciativa, bem-sucedida, vem servindo de modelo para instituições de pesquisa agropecuária de outros países ao criarem seus programas de cooperação internacional, entre os quais a Argentina, a Colômbia, a Coreia do Sul e a China”, afirma Alexandre Amaral, Gerente de Relações Estratégicas Internacionais da Embrapa. “A participação de pesquisadores da empresa em redes científicas formadas por especialistas em suas áreas e que atuam em diversos países é uma das ações essenciais para garantir que a ciência agropecuária brasileira mantenha-se na fronteira do conhecimento”, afirma o pesquisador, que também integrou o Programa Labex.
Entre 2010 e 2012, Amaral trabalhou, na Inglaterra, junto com a equipe do Rothamsted Research (considerado o mais antigo centro de pesquisa em agropecuária do mundo), desenvolvendo estudos sobre interação molecular plantas-microorganismos. Como desdobramentos de sua participação no Programa Labex-Europa/Reino Unido, foram iniciados, à época, pelo menos quatro projetos de pesquisa financiados pela Embrapa e pelo BBSRC (Biotechnology and Biological Sciences Research Council), uma agência inglesa de financiamento científico. Esses projetos envolveram três institutos que, até hoje, vêm colaborando com a empresa brasileira na mesma área de atuação de Amaral, sanidade da cultura do trigo.
“Há conquistas permanentes do Programa Labex cujos resultados são difíceis de quantificar”, explica o Gerente. “São resultados que se refletem, por exemplo, nos avanços alcançados em algumas linhas de atuação e no estímulo a novas áreas de pesquisa estratégicas para a empresa, na criação de novos portfólios no âmbito da própria Embrapa e na realização de capacitações de colegas em técnicas inovadoras, algumas vezes inéditas, proporcionadas por cientistas das instituições parceiras», completa Amaral. Foi exatamente o que ocorreu a partir da participação de Janice Zanella no Programa Labex-EUA entre 2008 e 2010.
Para além das atividades essencialmente relacionadas à pesquisa, o trabalho de construção e gestão de relacionamentos e parcerias iniciado por Zanella naquele período rende frutos até hoje: em março, a pesquisadora portuguesa Sarah Lopes, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), esteve na Embrapa Suínos e Aves onde, durante duas semanas, ministrou uma capacitação para os profissionais da Unidade que, no sistema de programação de pesquisas interno da empresa, integram o portfólio de Sanidade Suína.
“A capacitação foi em cartografia antigênica para vírus de influenza, que permite caracterizar os antígenos virais para melhor desenho vacinal”, explica a cientista brasileira. É um método inovador, de ponta, inédito no Brasil, que alia sequenciamento genômico e outras técnicas para identificar mutações em vírus”, complementa. Esse procedimento é o que permite, por exemplo, a criação, a cada ano, de novas vacinas contra a gripe”, conclui Janice Zanella.
Conquistas que se consolidam e se expandem
Em 2009, o Programa Labex colocou o Brasil no mapa da influenza suína, permitindo que a Embrapa estivesse presente e atuante, institucionalmente, na hora certa e no lugar adequado em um momento de enfrentamento de uma questão científica crucial. O laboratório da ARS onde Zanella trabalhou durante dois anos é o maior centro em sanidade animal do mundo, que abriga, entre outros setores, a área responsável pela liberação de vacinas nos EUA.
Quando a gripe A eclodiu, no primeiro semestre de 2009, a pesquisadora já vinha trabalhando há um ano com a equipe da ARS. Um de seus objetivos ao postular uma vaga para integrar o programa de cooperação internacional da empresa era aprimorar seus conhecimentos sobre vírus exóticos, que não existiam no Brasil. “Desde 1999, anos antes de me tornar pesquisadora-Labex, eu vinha estudando uma doença de suínos muito importante no mundo todo e que, só nos EUA, causa prejuízos estimados em 1 bilhão de dólares por ano”, conta Zanella, que atualmente. No primeiro ano no ARS, seus estudos foram focados apenas nessa doença da qual o Brasil mantém-se livre, apesar dela já ter chegado ao vizinho Uruguai.
Isso se deve ao excelente trabalho de controle de entradas de potenciais agentes patógenos no País, realizado pelo Ministério da Agricultura em um trabalho que conta com a colaboração da pesquisadora e de outros profissionais especializados em sanidade animal da Embrapa, muitos dos quais integrantes da rede formada a partir da sua experiência no Labex-EUA.
Outra intenção da pesquisadora era promover a reestruturação da área de sanidade animal da Embrapa, fortalecendo a atuação da empresa nesse campo que, na época, era menor e menos avançado do que o de sanidade vegetal. Para isso, no momento da elaboração do projeto apresentado para postular o cargo de pesquisadora-Labex, visitou as unidades da Embrapa dedicadas à produção animal (Gado de Leite, Gado de Corte, Pantanal e Caprinos), para conhecer a estrutura dos centros brasileiros dedicados ao tema. Com essas visitas, pode ver de perto as condições de trabalho nas instalações locais da empresa, além de estabelecer uma rede de contatos com os colegas de instituição que poderiam lhe fornecer subsídios durante o período em que estivesse atuando no exterior. Paralelamente, se informou sobre as linhas de atuação dos pesquisadores da ARS para saber, exatamente, onde e como se inserir no trabalho desenvolvido pela agência americana.
Foi assim que, além de permitir a participação do Brasil no desenvolvimento da vacina de uma doença devastadora, a participação de Janice Zanella no Programa Labex cumpriu a missão pretendida: atualmente, a equipe de sanitaristas da Embrapa Suínos e Aves é a maior da instituição na área de sanidade animal, liderando o portfólio sobre essa temática na carteira de projetos da empresa.
Essa rede começou a ser formada em 2009, quando a partir das articulações feitas no Labex-EUA, Zanella promoveu dois workshops no Brasil, com capacitações oferecidas por especialistas americanos em sanidade suína com conteúdos voltados para as necessidades de avanço de conhecimentos na área dos especialistas brasileiros.
“Um desses workshops aconteceu em Campo Grande e possibilitou a capacitação de aproximadamente 40 profissionais. Além do meu consorte nos EUA, professores da UnB e da USP também participaram do evento”, destaca a pesquisadora. “Essas interações são essenciais para o engajamento de especialistas em iniciativas futuras, como a criação de redes e a constituição, no âmbito da Embrapa, de portfólios temáticos. Além disso, o fato de integrarmos redes internacionais de pesquisa, facilita a importação de produtos necessários tanto para o bom andamento dos trabalhos de pesquisa, quanto para assegurar o controle das fronteiras no sentido de evitar a entrada de novas doenças em nosso território”, complementa.Desde 2011, a sanitarista embrapiana participa de comitês internacionais participando da redação de relatório anuais sobre o estado da arte sobre controle de doenças de suínos no Brasil.
Para citar outro exemplo que ilustra como os resultados do programa de cooperação internacional da Embrapa não se restringem ao âmbito da própria empresa, trazendo aportes importantes para a comunidade científica em geral, temos a recente disponibilização, em português da nova página pública do Sistema de Informações Alelo Animal. Primeiro sistema internacional voltado para o armazenamento de informações genéticas, produtivas e de árvore genealógica de recursos genéticos animais, o Alelo Animal nasceu de parcerias estabelecidas pelo pesquisador Arthur Mariante no período em que integrou o programa nos EUA.
O sistema existente hoje foi aprimorado ao longo de anos e tudo começou com o compartilhamento de dados entre Brasil e EUA em uma articulação realizada por Mariante e que, nas últimas etapas, contou com a colaboração de Samuel Rezende Paiva (Embrapa Recursos Genéticos), também pesquisador-Labex EUA de 2013 a 2017.
Por meio do Sistema Alelo Animal, a enorme base de dados formada por coleções do Brasil, Estados Unidos e Canadá (que se uniu ao projeto em um momento posterior), pode ser acessada por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. Relatórios públicos gerados em tempo real permitem verificações e comparações entre as informações constantes nas coleções dos três países. Pesquisadores, estudiosos e outros interessados, fluentes ou não em inglês, podem usar a ferramenta gratuitamente.
Saiba mais sobre o Sistema Alelo : Em Português, nova página pública do Alelo Animal tem navegação fácil e conteúdo para diferentes públicos
O pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), Luiz Henrique Capparelli Mattoso, participou do Programa Labex de 2005 a 2007. Sua atuação é também um exemplo de como a iniciativa é um mecanismo efetivo e por isso fundamental para a prospecção em áreas da fronteira do conhecimento, permitindo a continuidade de processos, como os de construção de redes de pesquisa no Brasil, que promovem a abertura de novas áreas de atuação para a Embrapa e seus parceiros em âmbito nacional. Entre os principais frutos do trabalho que Mattoso iniciou como integrante do Labex está a formação da AgroNano, uma das primeiras grandes redes multi-institucionais que integra hoje a carteira de portfólios de pesquisas da Embrapa.
Criada há dez anos, a Rede AgroNano já se estabeleceu como um grupo de pesquisa consolidado e de incorporação contínua de conhecimento e de desenvolvimento de tecnologias. O desafio de atuar em caráter multidisciplinar, unindo diferentes visões e integrando diversas áreas do conhecimento tem proporcionado resultados expressivos à Rede. Em pouco mais de uma década, os 157 pesquisadores de 62 instituições de pesquisa que integrantes da AgroNano, sendo 23 centros da Embrapa e 39 universidades, desenvolveram mais de 50 projetos, incluindo o apoio de parceiros internacionais, entre eles, o Serviço de Pesquisa Agrícola, vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, agências de fomento e empresas privadas.
“A gente tem que acompanhar os países líderes mundiais em ciência e tecnologia, como Estados Unidos e países da Europa e da Ásia, para podermos unir esforços e alcançar mais rápido os objetivos comuns da pesquisa em áreas estratégicas para o Brasil”, ressalta Mattoso.
Até hoje tem estudantes que concluem seus estudos lá. No total são 150 integrantes.
No âmbito da Rede AgroNano, já foram publicados mais de quarenta artigos científicos em revistas especializadas em co-autoria com especialistas da ARS , além de os estudos terem gerado o registro de duas patentes. Uma delas é a de um novo sistema de produção de nanofibras para aplicação em embalagens e que pode ser usado, também, em mecanismos de liberação controlada de fertilizantes ou de medicamentos. A patente foi concedida em 2017. “É uma tecnologia que permite a formação de uma espécie de pele com textura especial,” explica Mattosso, ao falar sobre um dos usos potenciais para o sistema patenteado. “Ela pode ser usada, por exemplo, para o desenvolvimento de um produto a ser aplicado, via spray, sobre a pele de animais feridos, gerando uma camada protetora. Essa pele especial é que pode ser composta por nanofibras que originam um composto anti-inflamatório. Por ser natural, esse composto é também biodegradável. Ele vai servir, ao mesmo tempo para tratar feridas e proteger o animal, sendo depois absorvida por organismo sem causar algum dano ao bicho”, detalha o pesquisador.
Um modelo bem-sucedido de cooperação científica internacional
O modelo de atuação do Programa Labex baseia-se no estabelecimento de parcerias entre a empresa brasileira e instituições de pesquisa sediadas em outros países. A iniciativa teve início em 1998 via um acordo de cooperação com o Agriculture Research Service (ARS), nos Estados Unidos (USA). Nos anos seguintes, termos de cooperação foram firmados com centros de pesquisa na Europa (França, Holanda, Reino Unido e Alemanha), na Coreia do Sul e na China.
Pesquisadores da Embrapa selecionados via edital interno passam de dois a três anos trabalhando em laboratórios das contrapartes no exterior onde, junto às equipes locais, desenvolvem pesquisas de interesse de ambas as organizações. O programa também prevê o percurso inverso: no chamado “Labex invertido”, pesquisadores de instituições internacionais parceiras se estabelecem nos centros de pesquisa da Embrapa para desenvolver projetos de interesse mútuo.
O Embrapa-Labex funciona tanto como uma ferramenta para a criação de novos acordos de cooperação quanto como instrumento de reforço e de diversificação de parcerias já estabelecidas. Esse trabalho é desenvolvido tanto pelo Coordenador-Labex quanto pelo Pesquisador-Labex. O primeiro é um profissional que, durante sua permanência no Labex, assume funções gerenciais e encarrega-se da prospecção em várias áreas de interesse e de articulação institucional. Municiado pelos colegas da Embrapa, ele faz contatos e estabelece relações com grupos e redes de especializações não necessariamente associadas àquela em que ele próprio atua.
Já o Pesquisador do Labex dedica-se, especificamente, à sua área de atuação, usando o projeto aprovado no momento de sua seleção como nucleador de ações. Ele também tem a responsabilidade de estabelecer novas parcerias e reforçar as já existentes, e trabalha ainda para formar redes de cooperação, sempre com foco em sua temática.
Ambos os profissionais realizam um trabalho de prospecção, criação e consolidação de redes colaborativas, o que, ao longo dos últimos 20 anos, vem fortalecendo substancialmente a cooperação científica internacional da Embrapa. Esse modelo tornou o Labex um eficiente mecanismo para inserção dos pesquisadores da Embrapa em equipes científicas estrangeiras de excelência.
Em 2012, o Labex-Europa completou dez anos de atuação e, na ocasião, o consórcio científico, Agropolis Internacional, instituição com quem a Embrapa firmou o acordo de cooperação para instalação do programa naquele continente, dedicou um informativo inteiro ao parceiro brasileiro.
Bernard Hubert, pesquisador sênior do INRA e da Escola de Altos Estudos em Ciências Socais, em Paris, à época, er o presidente do consórcio. Em entrevista ao informativo, destacou o pioneirismo da Embrapa ao estabelecer, uma década antes, a parceria que colocava o Brasil no devido lugar que os países do cone sul devem assumir como participantes do mercado agrícola-alimentar em escala mundial. Hubert destacou a importância do engajamento da instituição de pesquisa agropecuária estabelecer colaborações com as melhores equipes de cientistas do mundo situadas nos diferentes continentes.
Atual coordenador do Labex-Europa, Pedro Machado, destaca o papel do programa para a inclusão do Brasil em redes e fóruns científicos internacionais, evitando o isolamento científico, o que amplia tanto a visibilidade da Embrapa quanto o conhecimento, em âmbito internacional, das conquistas e os avanços alcançados pela pesquisa agropecuária brasileira. “O fato da Embrapa, hoje, ser convidada a participar de reuniões e fóruns que subsidiam a tomada de decisões globais se deve à sua inserção em redes de cooperação científica internacionais”, acredita Machado. “E o Labex tem sido, ao longo desses 20 anos, o principal instrumento da empresa para a prospecção e a consolidação dessas cooperações,” complementa.
Pedro Machado esteve no Brasil nas primeiras semanas de maio para participar de reuniões entre as diretorias da Embrapa e do Instituto Nacional de Pesquisa em Agricultura da França, INRA (na sigla em francês) realizadas com o intuito de assinar a renovação do memorando de entendimento e de cooperação entre as duas instituições. “O INRA já é um parceiro da empresa. Mas a nossa presença ao lado deles, na França, por meio do Labex, foi o que possibilitou o alinhamento detalhado dos termos acertados para a renovação desse acordo”, explica Machado. Um alinhamento que teve início meses atrás, quando o INRA convidou a Embrapa para participar da reunião de elaboração de seus programas de pesquisa. “Nesse encontro, a Embrapa era a única instituição que atua no cinturão tropical do planeta. As outras agências de pesquisa convidadas eram dos EUA, da Austrália e do Canadá”, acrescenta o pesquisador.
Saiba mais: Embrapa e INRA renovam parceria de cooperação internacional
Em relação ao parceiro americano, Geraldo Martha, coordenador do Labex-EUA, tem observado grande sintonia e interesse em aprofundar as parcerias entre o ARS e a Embrapa na área de transformação digital. Segundo o coordenador, há possibilidade de serem feitos avanços nesse campo, com a programação de ações colaborativas que incluam a prospecção em infraestrutura e, também, iniciativas que vão possibilitar avanços em trabalhos conjuntos em agricultura de precisão e modelagem avançada.
Embrapa Labex em datas
1998 – inauguração do Labex-EUA (parceria com o Agriculture Research Service – ARS / Washington, EUA)
2002 – inauguração do Labex-Europa (parceria com a Agropolis Internacional / Montpellier, França)
2006: pesquisador-Labex inicia o programa na Holanda (Universidade de Wageningen)
2008 – Criação do Consórcio Internacional em Biologia Avançada (CIBA) – colaboração científica franco-brasileira.
2010: pesquisador-Labex inicia o programa no Reino Unido (Rothamsted Research)
2012: pesquisador-Labex inicia o programa na Alemanha (instituto Jülich, na Alemanha)
2009 – inauguração do Labex-Coreia (parceria a com a RDA – Agência do Desenvolvimento Rural)
2012 – inauguração do Labex-China (parceria a CAAS – Chinese Academy of Agricultural Sciences)
Saiba mais sobre a trajetória do programa de cooperação científica internacional da Embrapa no site do Labex