José Ednilson Miranda, pesquisador da Embrapa Algodão
A praga mais complicada do algodoeiro é, sobretudo, um problema coletivo, não apenas de uma lavoura. Então, as medidas e ações de controle devem ser coletivas e integradas, e não apenas pontuais – e assim pouco efetivas
Cultivar algodoeiro no Brasil requer dedicação intensa por mais de seis meses durante cada safra. Correções de solo, adubação, controle de doenças e de plantas daninhas, regulação do crescimento, colheita – muitos são os desafios. O controle de insetos, porém, exige os maiores esforços. Ao longo do ciclo do algodoeiro, pulgões, lagartas, mosca-branca e percevejos podem promover danos à produção de plumas. Acima de todos esses problemas, porém, ainda está o ataque de bicudos, insetos que podem provocar perdas significativas na produção de plumas.
Quais seriam os caminhos mais seguros para se obter o sucesso no controle populacional do bicudo? Se o problema é coletivo, as medidas de controle deverão ser coletivas e integradas. Para pragas de alta mobilidade como o bicudo, o manejo em grandes áreas é mais efetivo e preferível do que ações pontuais e independentes de cada produtor. Três delas são direcionadas para o início e o final da safra e auxiliam na redução populacional do bicudo ao longo do tempo.
Controle da população que entra e que sai da lavoura
Movimentos de saída e de entrada do bicudo são conhecidos no final da safra, quando vão para os refúgios de vegetação natural adjacentes às lavouras, e no início do florescimento da nova safra, quando são atraídos de volta. No início do florescimento, o controle localizado através de pulverizações de inseticida no perímetro das lavouras (aplicações de bordadura) elimina esses adultos, impedindo sua instalação na lavoura, a oviposição e o nascimento de novos indivíduos. As aplicações em bordadura devem ser feitas a partir da fase V3 (plantas com três folhas verdadeiras) até a fase C (ocorrência da primeira maçã firme), em faixa de 30 a 50 metros ao longo do perímetro das lavouras de algodão.
No final da safra, a aplicação em bordadura vai reduzir ainda mais o número de bicudos sobreviventes, aumentando a eficiência de controle. Quando avaliados o comportamento do bicudo na periferia e dentro da lavoura de algodão fica claro que as plantas da periferia de lavoura se destacam e atraem mais bicudos que as plantas do interior do talhão (Figura 1). Da mesma forma que no florescimento, também no final da safra os bicudos sobreviventes da entressafra são atraídos para as bordaduras.
Essas constatações reforçam a importância do controle de bordadura. Importante observar, porém, que tal controle se baseia na formação de uma barreira química e somente terá a eficácia esperada se for feito com a devida frequência (máximo de cinco dias de intervalo entre as aplicações) e com produtos eficientes. Em Goiás, duas áreas de produção em Luziânia e Turvelândia, onde essa medida foi efetuada com rigor e em conjunto com as demais medidas recomendadas de MIP do inseto, conseguiram reduzir bastante o número de pulverizações (Figura 2).
Controle químico na desfolha
Outra fragilidade dos programas de controle do inseto está no desestimulo que o produtor sofre por ocasião da aproximação do final da safra. Na fase final do cultivo, ações importantes de redução populacional corriqueiramente deixam de ser executadas. A falta do controle químico dos bicudos remanescentes no final da safra permite que esses indivíduos, embora fragilizados pela menor qualidade nutricional e mais suscetíveis ao controle químico, migrem para áreas do cerrado, onde permanecerão a salvo e em quiescência (atividade metabólica extremamente reduzida) até que novas plantas de algodão floresçam na próxima safra.
Quando aplicações são feitas por ocasião da desfolha e da destruição dos restos culturais do algodoeiro (momentos de fragilidade do inseto) há uma redução significativa do número de indivíduos parentais da primeira geração de bicudos da nova safra, ou seja, há um retardamento no aparecimento de bicudo em níveis elevados logo no início do estabelecimento da lavoura. O oposto ocorre quando não se fazem aplicações no final de safra pois a sobrevivência desses indivíduos parentais até a safra seguinte implicará em surtos precoces de bicudo na lavoura.
No momento do uso do desfolhante (quando 60% das maçãs apresentarem-se abertas e as que ainda não se abriram estiverem com mais de 25 dias), a adição de um inseticida contribui para a redução da população de bicudos. O desfolhamento reduz o suprimento alimentar do bicudo (principalmente no ponteiro) e antecipa a colheita. Os insetos que permanecerem nas plantas desfolhadas entram em contato com o inseticida aplicado e morrem, reduzindo assim a população dos bicudos que passarão o período de entressafra.
Destruição dos restos culturais e tigueras na entressafra
Manter a área cultivada sem plantas de algodoeiro no período da entressafra promove alta mortalidade nos bicudos remanescentes, que não terão seu alimento preferencial. Ao contrário, caso ocorra germinação de plantas tigueras na área, na beira das rodovias e estradas vicinais por onde transitam os caminhões transportando o algodão colhido e, ainda, em áreas de confinamento de gado em que se utilizam caroços de algodão, essas condições serão ótimas para o bicudo.
Dessa forma, a destruição dos restos culturais após a colheita deve ser priorizada, por meio de roçagem e posterior eliminação da soqueira de forma química (herbicidas) e/ou mecânica (uso de implementos específicos). A inclusão de inseticidas para o controle de bicudos nas aplicações de herbicidas ajudará a reduzir a população remanescente. A eliminação de plantas tigueras de algodoeiro no meio da soja, milho ou áreas de pousio também é necessária, bem como a aplicação nessas áreas de inseticidas que tenham efeito sobre o bicudo. Essas ações reduzem as chances de o bicudo se manter no período de entressafra e da multiplicação da praga neste período, resultando em menores populações na safra seguinte.
Artigo publicado originalmente na revista A Granja
José Ednilson Miranda, pesquisador da Embrapa Algodão
A praga mais complicada do algodoeiro é, sobretudo, um problema coletivo, não apenas de uma lavoura. Então, as medidas e ações de controle devem ser coletivas e integradas, e não apenas pontuais – e assim pouco efetivas
Cultivar algodoeiro no Brasil requer dedicação intensa por mais de seis meses durante cada safra. Correções de solo, adubação, controle de doenças e de plantas daninhas, regulação do crescimento, colheita – muitos são os desafios. O controle de insetos, porém, exige os maiores esforços. Ao longo do ciclo do algodoeiro, pulgões, lagartas, mosca-branca e percevejos podem promover danos à produção de plumas. Acima de todos esses problemas, porém, ainda está o ataque de bicudos, insetos que podem provocar perdas significativas na produção de plumas.
Quais seriam os caminhos mais seguros para se obter o sucesso no controle populacional do bicudo? Se o problema é coletivo, as medidas de controle deverão ser coletivas e integradas. Para pragas de alta mobilidade como o bicudo, o manejo em grandes áreas é mais efetivo e preferível do que ações pontuais e independentes de cada produtor. Três delas são direcionadas para o início e o final da safra e auxiliam na redução populacional do bicudo ao longo do tempo.
Controle da população que entra e que sai da lavoura
Movimentos de saída e de entrada do bicudo são conhecidos no final da safra, quando vão para os refúgios de vegetação natural adjacentes às lavouras, e no início do florescimento da nova safra, quando são atraídos de volta. No início do florescimento, o controle localizado através de pulverizações de inseticida no perímetro das lavouras (aplicações de bordadura) elimina esses adultos, impedindo sua instalação na lavoura, a oviposição e o nascimento de novos indivíduos. As aplicações em bordadura devem ser feitas a partir da fase V3 (plantas com três folhas verdadeiras) até a fase C (ocorrência da primeira maçã firme), em faixa de 30 a 50 metros ao longo do perímetro das lavouras de algodão.
No final da safra, a aplicação em bordadura vai reduzir ainda mais o número de bicudos sobreviventes, aumentando a eficiência de controle. Quando avaliados o comportamento do bicudo na periferia e dentro da lavoura de algodão fica claro que as plantas da periferia de lavoura se destacam e atraem mais bicudos que as plantas do interior do talhão (Figura 1). Da mesma forma que no florescimento, também no final da safra os bicudos sobreviventes da entressafra são atraídos para as bordaduras.
Essas constatações reforçam a importância do controle de bordadura. Importante observar, porém, que tal controle se baseia na formação de uma barreira química e somente terá a eficácia esperada se for feito com a devida frequência (máximo de cinco dias de intervalo entre as aplicações) e com produtos eficientes. Em Goiás, duas áreas de produção em Luziânia e Turvelândia, onde essa medida foi efetuada com rigor e em conjunto com as demais medidas recomendadas de MIP do inseto, conseguiram reduzir bastante o número de pulverizações (Figura 2).
Controle químico na desfolha
Outra fragilidade dos programas de controle do inseto está no desestimulo que o produtor sofre por ocasião da aproximação do final da safra. Na fase final do cultivo, ações importantes de redução populacional corriqueiramente deixam de ser executadas. A falta do controle químico dos bicudos remanescentes no final da safra permite que esses indivíduos, embora fragilizados pela menor qualidade nutricional e mais suscetíveis ao controle químico, migrem para áreas do cerrado, onde permanecerão a salvo e em quiescência (atividade metabólica extremamente reduzida) até que novas plantas de algodão floresçam na próxima safra.
Quando aplicações são feitas por ocasião da desfolha e da destruição dos restos culturais do algodoeiro (momentos de fragilidade do inseto) há uma redução significativa do número de indivíduos parentais da primeira geração de bicudos da nova safra, ou seja, há um retardamento no aparecimento de bicudo em níveis elevados logo no início do estabelecimento da lavoura. O oposto ocorre quando não se fazem aplicações no final de safra pois a sobrevivência desses indivíduos parentais até a safra seguinte implicará em surtos precoces de bicudo na lavoura.
No momento do uso do desfolhante (quando 60% das maçãs apresentarem-se abertas e as que ainda não se abriram estiverem com mais de 25 dias), a adição de um inseticida contribui para a redução da população de bicudos. O desfolhamento reduz o suprimento alimentar do bicudo (principalmente no ponteiro) e antecipa a colheita. Os insetos que permanecerem nas plantas desfolhadas entram em contato com o inseticida aplicado e morrem, reduzindo assim a população dos bicudos que passarão o período de entressafra.
Destruição dos restos culturais e tigueras na entressafra
Manter a área cultivada sem plantas de algodoeiro no período da entressafra promove alta mortalidade nos bicudos remanescentes, que não terão seu alimento preferencial. Ao contrário, caso ocorra germinação de plantas tigueras na área, na beira das rodovias e estradas vicinais por onde transitam os caminhões transportando o algodão colhido e, ainda, em áreas de confinamento de gado em que se utilizam caroços de algodão, essas condições serão ótimas para o bicudo.
Dessa forma, a destruição dos restos culturais após a colheita deve ser priorizada, por meio de roçagem e posterior eliminação da soqueira de forma química (herbicidas) e/ou mecânica (uso de implementos específicos). A inclusão de inseticidas para o controle de bicudos nas aplicações de herbicidas ajudará a reduzir a população remanescente. A eliminação de plantas tigueras de algodoeiro no meio da soja, milho ou áreas de pousio também é necessária, bem como a aplicação nessas áreas de inseticidas que tenham efeito sobre o bicudo. Essas ações reduzem as chances de o bicudo se manter no período de entressafra e da multiplicação da praga neste período, resultando em menores populações na safra seguinte.
Artigo publicado originalmente na revista A Granja