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Artigo – Embrapa: 45 anos dedicados à ciência e à inovação agrícola

Édson Bolfe
Pesquisador, coordenador do Sistema Agropensa – Embrapa

Na década de 1960, o Brasil ocupava uma posição de importador de produtos agrícolas, e notícias sobre a falta de alimentos básicos, como farinha de trigo e carne, eram constantes nos noticiários. A partir da década de 1970, com o crescimento da população, da renda per capita, e a abertura para o mercado externo, foi percebido que, sem maiores investimentos em ciência e inovação agrícola, o país não iria reduzir o abismo entre a oferta e a demanda de alimentos. No âmbito do Ministério da Agricultura da época, um grupo de trabalho articulou e propôs funções para a pesquisa agropecuária com o objetivo de fortalecer a geração de conhecimentos técnico-científicos. Como consequência, em 26 de abril de 1973 era criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Desde então, a Embrapa, em conjunto com seus parceiros  ─ universidades, institutos estaduais de pesquisa e extensão rural, associações, cooperativas, produtores ─, assumiu o desafio de desenvolver pesquisas para superar desafios associados aos solos e climas tropicais que limitavam a produção de alimentos, fibras e agroenergia no país. Nesse período, a agricultura evoluiu exponencialmente e as inovações e tecnologias que germinaram a partir das pesquisas têm sido responsáveis por cerca de 60% do aumento da produção agrícola no Brasil. Aumentamos nossa produção de grãos em cinco vezes, passando de 38 milhões de toneladas em 1975 para 236 milhões em 2017, com apenas o dobro da área plantada. Desse modo, produzimos mais alimentos com menos recursos naturais.

Ano a ano, o Brasil consegue ainda mais avanços em elevar a produtividade e a sustentabilidade da agricultura. Geramos cultivares de plantas mais produtivas, nutritivas ou resistentes a pragas, doenças e riscos climáticos. Fazemos melhoramento genético animal, buscando raças mais prolíficas ou adaptáveis aos diversos ambientes. Inovamos em máquinas, equipamentos, gestão e na agricultura de precisão. Desenvolvemos sistemas de produção genuinamente brasileiros, como o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio e a integração lavoura-pecuária-floresta. Transformamos conhecimento científico em políticas públicas relevantes para o agricultor como o infelizmente pouco conhecido zoneamento de risco climático. Essa dedicação e capacidade ajudaram a transformar a agricultura brasileira, com seus mais de 400 cultivos e produtos, em exemplo mundial. A diversidade agrícola, pecuária, florestal e aquícola contribuiu para a melhoria significativa do saldo da balança comercial. Também foi fator determinante na redução do custo da cesta básica em 40%, em termos reais, nas últimas quatro décadas. Ou seja, mais arroz, feijão, milho, hortaliças, carnes, ovos, frutas, sucos, café, leite e açúcar na mesa do brasileiro.  É preciso incluir a essa lista ainda as flores, algodão, couro, papel, madeira, óleos e essências vegetais, todos presentes no nosso dia a dia.

O desafio global, hoje, está configurado em equação complexa com variáveis múltiplas em questões tecnológicas, sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais. Por um lado, o aumento da população, a urbanização e a expectativa de vida exigem uma produção de 35% a mais de alimentos e demandarão 50% a mais de água até 2030. Por outro, o mercado consumidor, cada vez mais exigente, sabe que é necessário diminuir o uso de insumos e recursos naturais. Dessa forma, a ciência e inovação agrícola precisam ser continuamente fortalecidas para gerar novas soluções e se manterem como protagonistas no desenvolvimento das populações do campo e das cidades do Brasil

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