O diretor nacional de Agricultura e Silvicultura do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique, Mahomed Valá, apresentou um diagnóstico da produção de milho no país africano. Destinado à alimentação humana, o milho produzido em Moçambique é bastante suscetível ao ataque da lagarta-do-cartucho e as previsões do diretor de Agricultura são de perdas que podem chegar a até 10% nesta safra. “Uma das primeiras ações que o Governo de Moçambique passou aos técnicos do Ministério da Agricultura é a necessidade de capacitar os recursos humanos”, disse. Confira, na entrevista a seguir, um retrato da produção de milho nesse país africano, além das medidas que estão em execução e que serão adotadas para controle da principal praga da cultura.
Embrapa – Em primeiro lugar, qual a realidade do seu país em relação ao cultivo de milho?
Mahomed Valá – Em termos de cultivo de milho, temos uma área plantada de cerca de 2 milhões e 170 mil hectares, com uma produção aproximada de 3,4 milhões de toneladas, sendo que a produtividade média geral do País é de 1,4 toneladas por hectare. Ainda é um rendimento modesto. Nós, em Moçambique, temos cerca de quatro milhões de agregados familiares, dos quais 54% são responsáveis pela produção de milho. É preciso estar atento a um aspecto muitíssimo importante: a produção de milho em Moçambique é voltada para a alimentação da população do País. Por isso, o Governo está preocupado em aumentar os níveis de produtividade e de produção desse alimento, que é base da dieta da população.
Temos praticamente uma safra de milho por ano, que é a principal, no período chuvoso, que começa em outubro e termina em abril. Já temos uma evolução muito grande nos últimos 10 anos em irrigação, na ordem de 64 mil hectares, o que tem possibilitado o que vocês denominam no Brasil de “safrinha”. Temos feito uma safra de milho e, após, uma safra com produção de vegetais ou produção de mandioca, quando o sistema permite que façamos.
Quais as perdas que a lagarta-do-cartucho já tem provocado?
Na safra passada, tivemos perdas entre 4% e 5%. Detectamos a lagarta em Moçambique em agosto de 2017 e começamos a estudá-la. Este ano, a produção de milho é muito alta e tivemos indicadores de perdas de 8% a 10%, em média, dependendo da região. Ou seja, é uma perda que vem aumentando e é significativa para a reserva alimentar da população.
Quais ações têm sido feitas até o momento?
Uma das primeiras ações que o Governo de Moçambique passou aos técnicos do Ministério da Agricultura é a necessidade de capacitar os recursos humanos. Do universo de 1400 técnicos de extensão que o País possui, já treinamos perto de 600 profissionais. Queremos avançar em outro paradigma que acreditamos que é extremamente importante: formar as lideranças locais, administrativas, comunitárias, religiosas, já que são os veiculadores principais dessas informações. Precisamos conhecer a sintomatologia da lagarta-do-cartucho e como ela se manifesta para poder atacar.
Das tecnologias e métodos de controle vistos na Embrapa, quais o senhor elenca com mais poder de ação?
Um dos métodos que já aplicamos com alguma veemência é o manejo cultural. Nós temos uma série de variedades (de milho) e hoje, por exemplo, uma das constatações que tiramos é que os híbridos introduzidos em Moçambique do Zimbábue, do Malawi, etc, são mais suscetíveis. Por outro lado, as variedades locais são mais resistentes. Então, o manejo cultural é importante. Também temos intervenções em termos de aplicações de inseticidas, com cerca de 14 produtos registrados que são utilizados de uma forma geral na África Austral, nos países que mais produzem milho. Agora, com essa visita ao Brasil, queremos dar muita ênfase ao controle biológico, processo que aprendemos bastante. Essa ação estará substanciada pela assistência que temos recebido da Embrapa em Moçambique dentro da Cooperação Sul-Sul. Para a próxima campanha (safra 2018/2019), que começa literalmente em outubro, estaremos prontos para induzir que os produtores possam utilizar essa tecnologia. Já avançamos em alguns pontos com a Agência Brasileira de Cooperação e com a Embrapa também e faremos workshops e seminários para nossos técnicos, para começarmos a atacar o problema por meio da parceria com o Brasil e com outros países.
Vocês já tiveram alguma experiência de controle da lagarta-do-cartucho com o Trichogramma em Moçambique?
Ainda não. Devemos, talvez, importar esse material e pesquisá-lo de acordo com as circunstâncias de Moçambique. Com a ajuda do irmão país brasileiro, pode ser que até 2020, 2021, nós tenhamos biofábricas desse inimigo natural da lagarta-do-cartucho para que tenhamos mais independência em nossa atuação na área do controle biológico.
No Brasil, temos o problema de migração de pragas de uma cultura anterior para a subsequente, como da soja para o milho. Em Moçambique, há registro de fatos como esse?
Felizmente ainda não temos. Na região Central, produzimos bastante soja, aproximadamente 68 mil toneladas, produção destinada à indústria de frango e vamos crescer nos próximos anos para a ordem de 120 mil toneladas. Podemos crescer muito mais. A China é um dos países que requer que a gente produza porque eles compram toda a produção. Estamos pensando também na nossa indústria. Moçambique ainda passa por problemas de desnutrição e o leite de soja pode ser uma alternativa muito forte para diminuir os efeitos da subnutrição, principalmente entre crianças. Possibilitar que todo moçambicano possa consumir a proteína mais barata, que é o frango, é o maior comprometimento político, desde o nível presidencial até o nível do produtor.
Para finalizar, vocês enviarão técnicos para o Brasil para serem treinados ou levarão esse conhecimento para o seu País?
Será recíproco. Já temos um programa de controle da lagarta-do-cartucho aprovado pelo Governo e, após todos esses ensinamentos, temos que aferir alguns indicadores para avançarmos com mais segurança e responsabilidade. Nossos parceiros principais são a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e várias outras organizações que têm dado um apoio substancial ao País.
O diretor nacional de Agricultura e Silvicultura do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique, Mahomed Valá, apresentou um diagnóstico da produção de milho no país africano. Destinado à alimentação humana, o milho produzido em Moçambique é bastante suscetível ao ataque da lagarta-do-cartucho e as previsões do diretor de Agricultura são de perdas que podem chegar a até 10% nesta safra. “Uma das primeiras ações que o Governo de Moçambique passou aos técnicos do Ministério da Agricultura é a necessidade de capacitar os recursos humanos”, disse. Confira, na entrevista a seguir, um retrato da produção de milho nesse país africano, além das medidas que estão em execução e que serão adotadas para controle da principal praga da cultura.
Embrapa – Em primeiro lugar, qual a realidade do seu país em relação ao cultivo de milho?
Mahomed Valá – Em termos de cultivo de milho, temos uma área plantada de cerca de 2 milhões e 170 mil hectares, com uma produção aproximada de 3,4 milhões de toneladas, sendo que a produtividade média geral do País é de 1,4 toneladas por hectare. Ainda é um rendimento modesto. Nós, em Moçambique, temos cerca de quatro milhões de agregados familiares, dos quais 54% são responsáveis pela produção de milho. É preciso estar atento a um aspecto muitíssimo importante: a produção de milho em Moçambique é voltada para a alimentação da população do País. Por isso, o Governo está preocupado em aumentar os níveis de produtividade e de produção desse alimento, que é base da dieta da população.
Temos praticamente uma safra de milho por ano, que é a principal, no período chuvoso, que começa em outubro e termina em abril. Já temos uma evolução muito grande nos últimos 10 anos em irrigação, na ordem de 64 mil hectares, o que tem possibilitado o que vocês denominam no Brasil de “safrinha”. Temos feito uma safra de milho e, após, uma safra com produção de vegetais ou produção de mandioca, quando o sistema permite que façamos.
Quais as perdas que a lagarta-do-cartucho já tem provocado?
Na safra passada, tivemos perdas entre 4% e 5%. Detectamos a lagarta em Moçambique em agosto de 2017 e começamos a estudá-la. Este ano, a produção de milho é muito alta e tivemos indicadores de perdas de 8% a 10%, em média, dependendo da região. Ou seja, é uma perda que vem aumentando e é significativa para a reserva alimentar da população.
Quais ações têm sido feitas até o momento?
Uma das primeiras ações que o Governo de Moçambique passou aos técnicos do Ministério da Agricultura é a necessidade de capacitar os recursos humanos. Do universo de 1400 técnicos de extensão que o País possui, já treinamos perto de 600 profissionais. Queremos avançar em outro paradigma que acreditamos que é extremamente importante: formar as lideranças locais, administrativas, comunitárias, religiosas, já que são os veiculadores principais dessas informações. Precisamos conhecer a sintomatologia da lagarta-do-cartucho e como ela se manifesta para poder atacar.
Das tecnologias e métodos de controle vistos na Embrapa, quais o senhor elenca com mais poder de ação?
Um dos métodos que já aplicamos com alguma veemência é o manejo cultural. Nós temos uma série de variedades (de milho) e hoje, por exemplo, uma das constatações que tiramos é que os híbridos introduzidos em Moçambique do Zimbábue, do Malawi, etc, são mais suscetíveis. Por outro lado, as variedades locais são mais resistentes. Então, o manejo cultural é importante. Também temos intervenções em termos de aplicações de inseticidas, com cerca de 14 produtos registrados que são utilizados de uma forma geral na África Austral, nos países que mais produzem milho. Agora, com essa visita ao Brasil, queremos dar muita ênfase ao controle biológico, processo que aprendemos bastante. Essa ação estará substanciada pela assistência que temos recebido da Embrapa em Moçambique dentro da Cooperação Sul-Sul. Para a próxima campanha (safra 2018/2019), que começa literalmente em outubro, estaremos prontos para induzir que os produtores possam utilizar essa tecnologia. Já avançamos em alguns pontos com a Agência Brasileira de Cooperação e com a Embrapa também e faremos workshops e seminários para nossos técnicos, para começarmos a atacar o problema por meio da parceria com o Brasil e com outros países.
Vocês já tiveram alguma experiência de controle da lagarta-do-cartucho com o Trichogramma em Moçambique?
Ainda não. Devemos, talvez, importar esse material e pesquisá-lo de acordo com as circunstâncias de Moçambique. Com a ajuda do irmão país brasileiro, pode ser que até 2020, 2021, nós tenhamos biofábricas desse inimigo natural da lagarta-do-cartucho para que tenhamos mais independência em nossa atuação na área do controle biológico.
No Brasil, temos o problema de migração de pragas de uma cultura anterior para a subsequente, como da soja para o milho. Em Moçambique, há registro de fatos como esse?
Felizmente ainda não temos. Na região Central, produzimos bastante soja, aproximadamente 68 mil toneladas, produção destinada à indústria de frango e vamos crescer nos próximos anos para a ordem de 120 mil toneladas. Podemos crescer muito mais. A China é um dos países que requer que a gente produza porque eles compram toda a produção. Estamos pensando também na nossa indústria. Moçambique ainda passa por problemas de desnutrição e o leite de soja pode ser uma alternativa muito forte para diminuir os efeitos da subnutrição, principalmente entre crianças. Possibilitar que todo moçambicano possa consumir a proteína mais barata, que é o frango, é o maior comprometimento político, desde o nível presidencial até o nível do produtor.
Para finalizar, vocês enviarão técnicos para o Brasil para serem treinados ou levarão esse conhecimento para o seu País?
Será recíproco. Já temos um programa de controle da lagarta-do-cartucho aprovado pelo Governo e, após todos esses ensinamentos, temos que aferir alguns indicadores para avançarmos com mais segurança e responsabilidade. Nossos parceiros principais são a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e várias outras organizações que têm dado um apoio substancial ao País.