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Fórum Mundial da Água: pesquisador destaca papel das boas práticas de manejo dos recursos hídricos para a agricultura sustentável

O pesquisador da Embrapa Cerrados e atual diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Jorge Werneck, foi um dos palestrantes da sessão temática “Agricultura e Serviços Ecossistêmicos: produtores rurais podem salvar rios e ainda lucrar?”, realizada na última quarta-feira (21), durante o 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília (DF). Também foram palestrantes produtores rurais e representantes de instituições governamentais e não governamentais.

Werneck explicou que existem meios para uma agricultura mais sustentável e mais adequada em termos de oferta ambiental. Ele comentou sobre medidas de manejo dos recursos hídricos, como o manejo de irrigação, que deve considerar quanto, quando e onde irrigar, tendo-se em vista a agricultura de precisão e até mesmo uma irrigação de precisão. “Temos muito a ganhar com isso. Existem métodos que já não são novos. Obviamente, novidades estão surgindo nessa área, como o uso de sensores remotos para estimativas de evapotranspiração e aplicativos de telefone celular que ajudam a fazer manejo de irrigação. Mas é importante dizer que o manejo é fundamental”, afirmou.

O pesquisador apontou três pontos a serem aprimorados no manejo da irrigação: plantas, com o desenvolvimento de materiais mais resistentes à seca; instrumentos e equipamentos; e a parte humana, relacionada ao manejo. “Já desenvolvemos projetos em grandes áreas irrigadas onde, com algumas técnicas de manejo de irrigação e com o monitoramento da água no solo ou o monitoramento climático, conseguimos reduzir, sem muita dificuldade, de 20% a 30% da água utilizada na agricultura”, disse. “Se pensarmos nos bons projetos, nos bons equipamentos e nas boas formas de captar, conduzir e armazenar a água, conseguiremos economizar muito mais e, com isso, deixar mais água fluir no rio e causar menos impacto aos ecossistemas”, completou.

Outra medida é o Sistema de Plantio Direto (SPD) na palha, que não promove o revolvimento do solo e representa um importante avanço na agricultura brasileira. Werneck apresentou dados de estudos indicando que, com o plantio direto, é possível reduzir em quase 50% a produção de sedimentos e a geração de erosão, além de haver uma contribuição para a infiltração da água no solo. 

Ele explicou que o SPD é uma tecnologia ganha-ganha – por um lado, o produtor ganha com a redução de custos e, por outro, o meio ambiente ganha com o aumento do estoque de carbono, a diminuição do escoamento superficial e a biodiversidade do solo é favorecida. “Mas muita gente acredita que o plantio direto consegue resolver todos os problemas. E não consegue. Precisamos manter algumas práticas como o terraceamento para que tenhamos um bom aproveitamento da agricultura que não é irrigada”, ponderou, lembrando que no Brasil apenas 10% da área de produção é irrigada.

O pesquisador comentou sobre o uso do solo e os serviços ecossistêmicos, lembrando o levantamento de dados, por quase 20 anos, para compreender a relação entre uso e ocupação do solo e cobertura do solo e quais os impactos no ciclo hidrológico, considerando os serviços ecossistêmicos ligados à água. Foram apresentados dados do monitoramento da água no solo durante vários anos e sob diferentes tipos de cobertura de solo e em área natural. Foram monitoradas, por meio de calhas, a interceptação foliar, o escoamento, a qualidade e a quantidade de água que escoa em cada chuva. 

Ele destacou a importância da escala quando se fala em serviços ecossistêmicos. “Uma coisa é analisar em escala de pequena bacia, outra é em escala de região, ou de país. É preciso entender que escala é fundamental. Quando você quer (medir) o impacto numa escala maior, a coisa não é tão simples. E não é tão simples para o cientista monitorar, prever. Os modelos nos ajudam, mas a questão do monitoramento é algo que precisamos evoluir”, comentou.

Werneck citou alguns trabalhos que contribuem para a questão do pagamento por serviços ambientais, como modelos que podem subsidiar programas e apontar as áreas prioritárias de intervenção. Também têm sido feitos estudos econômicos a respeito do custo das ações e práticas conservacionistas, do quanto pode ser reduzido na produção de sedimentos e aumentado na qualidade da água, além dos demais benefícios obtidos. Um dos modelos desenvolvidos integra diversos fatores além da água, como biodiversidade, erosão e produção de alimentos, energia e fibras. “Temos visto que em determinadas bacias não podemos avançar muito na irrigação, pois acabaria a água na bacia”, apontou. 

O pesquisador encerrou a palestra com sete mensagens-chaves: é possível minimizar os impactos da agropecuária sobre os recursos hídricos, melhorando a renda do produtor; o agricultor é quem primeiro perde com a ineficiência do uso de seus insumos (água, fertilizantes, pesticidas e herbicidas); o agricultor deve entender a implementação de boas práticas de manejo do solo e da água como investimento, e não como custo; é necessário diminuir as crenças e aumentar o conhecimento científico envolvido nas discussões sobre serviços ecossistêmicos; o adequado planejamento do uso do território e da água é fundamental – nem todo uso do solo e da água para a agricultura representa impacto significativo aos recursos hídricos (é preciso considerar aptidão, escala, capacidade de suporte, legislação etc.); a intensificação sustentável da agricultura é um caminho a ser perseguido, minimizando a necessidade de abertura de novas áreas; e precisamos evoluir na discussão sobre o nexo água-alimento-natureza. 

Outras palestras

Os demais palestrantes da sessão foram os produtores rurais Daryl Hoey (Austrália) e Fátima Cabral (Brasil); Felix Reinders, presidente da Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem (ICID); e Devanir dos Santos, coordenador de implementação de projetos indutores da Agência Nacional de Águas (ANA). 

Produtor de leite, Hoey falou sobre os desafios dos produtores da Bacia Murray-Darling, no sudeste australiano, onde está a maior parte das fazendas irrigadas do país. A região sofre com os períodos de secas prolongados, e o governo australiano está investindo 3,1 bilhões de dólares australianos (R$ 7,87 bilhões) para comprar de volta a água dos rios usada na irrigação, com o propósito de recuperar a bacia. 

Fátima Cabral, produtora na Bacia do São Bartolomeu, no Distrito Federal, relatou os benefícios de sistemas como agroecologia, agroflorestal e produção orgânica tanto para a natureza como para as pessoas envolvidas. Ela participa do programa Produtor de Água, da ANA, desde 2012. O programa, que busca a melhoria da qualidade e da oferta de água em mananciais por meio do incentivo financeiro aos produtores que adotarem práticas conservacionistas, foi apresentado por Devanir dos Santos.

Já Felix Reinders falou sobre o ICID e os principais objetivos da instituição, que busca o trabalho conjunto para o manejo sustentável dos recursos hídricos. Ele citou os principais problemas causados no solo e na água e a perda da biodiversidade em virtude da intensificação da agricultura, além de apontar as melhores práticas de gerenciamento para melhorar a qualidade da água e controlar a erosão do solo, bem como estratégias para aumentar a resiliência dos agroecossistemas frente às mudanças climáticas.

O pesquisador da Embrapa Cerrados e atual diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Jorge Werneck, foi um dos palestrantes da sessão temática “Agricultura e Serviços Ecossistêmicos: produtores rurais podem salvar rios e ainda lucrar?”, realizada na última quarta-feira (21), durante o 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília (DF). Também foram palestrantes produtores rurais e representantes de instituições governamentais e não governamentais.

Werneck explicou que existem meios para uma agricultura mais sustentável e mais adequada em termos de oferta ambiental. Ele comentou sobre medidas de manejo dos recursos hídricos, como o manejo de irrigação, que deve considerar quanto, quando e onde irrigar, tendo-se em vista a agricultura de precisão e até mesmo uma irrigação de precisão. “Temos muito a ganhar com isso. Existem métodos que já não são novos. Obviamente, novidades estão surgindo nessa área, como o uso de sensores remotos para estimativas de evapotranspiração e aplicativos de telefone celular que ajudam a fazer manejo de irrigação. Mas é importante dizer que o manejo é fundamental”, afirmou.

O pesquisador apontou três pontos a serem aprimorados no manejo da irrigação: plantas, com o desenvolvimento de materiais mais resistentes à seca; instrumentos e equipamentos; e a parte humana, relacionada ao manejo. “Já desenvolvemos projetos em grandes áreas irrigadas onde, com algumas técnicas de manejo de irrigação e com o monitoramento da água no solo ou o monitoramento climático, conseguimos reduzir, sem muita dificuldade, de 20% a 30% da água utilizada na agricultura”, disse. “Se pensarmos nos bons projetos, nos bons equipamentos e nas boas formas de captar, conduzir e armazenar a água, conseguiremos economizar muito mais e, com isso, deixar mais água fluir no rio e causar menos impacto aos ecossistemas”, completou.

Outra medida é o Sistema de Plantio Direto (SPD) na palha, que não promove o revolvimento do solo e representa um importante avanço na agricultura brasileira. Werneck apresentou dados de estudos indicando que, com o plantio direto, é possível reduzir em quase 50% a produção de sedimentos e a geração de erosão, além de haver uma contribuição para a infiltração da água no solo. 

Ele explicou que o SPD é uma tecnologia ganha-ganha – por um lado, o produtor ganha com a redução de custos e, por outro, o meio ambiente ganha com o aumento do estoque de carbono, a diminuição do escoamento superficial e a biodiversidade do solo é favorecida. “Mas muita gente acredita que o plantio direto consegue resolver todos os problemas. E não consegue. Precisamos manter algumas práticas como o terraceamento para que tenhamos um bom aproveitamento da agricultura que não é irrigada”, ponderou, lembrando que no Brasil apenas 10% da área de produção é irrigada.

O pesquisador comentou sobre o uso do solo e os serviços ecossistêmicos, lembrando o levantamento de dados, por quase 20 anos, para compreender a relação entre uso e ocupação do solo e cobertura do solo e quais os impactos no ciclo hidrológico, considerando os serviços ecossistêmicos ligados à água. Foram apresentados dados do monitoramento da água no solo durante vários anos e sob diferentes tipos de cobertura de solo e em área natural. Foram monitoradas, por meio de calhas, a interceptação foliar, o escoamento, a qualidade e a quantidade de água que escoa em cada chuva. 

Ele destacou a importância da escala quando se fala em serviços ecossistêmicos. “Uma coisa é analisar em escala de pequena bacia, outra é em escala de região, ou de país. É preciso entender que escala é fundamental. Quando você quer (medir) o impacto numa escala maior, a coisa não é tão simples. E não é tão simples para o cientista monitorar, prever. Os modelos nos ajudam, mas a questão do monitoramento é algo que precisamos evoluir”, comentou.

Werneck citou alguns trabalhos que contribuem para a questão do pagamento por serviços ambientais, como modelos que podem subsidiar programas e apontar as áreas prioritárias de intervenção. Também têm sido feitos estudos econômicos a respeito do custo das ações e práticas conservacionistas, do quanto pode ser reduzido na produção de sedimentos e aumentado na qualidade da água, além dos demais benefícios obtidos. Um dos modelos desenvolvidos integra diversos fatores além da água, como biodiversidade, erosão e produção de alimentos, energia e fibras. “Temos visto que em determinadas bacias não podemos avançar muito na irrigação, pois acabaria a água na bacia”, apontou. 

O pesquisador encerrou a palestra com sete mensagens-chaves: é possível minimizar os impactos da agropecuária sobre os recursos hídricos, melhorando a renda do produtor; o agricultor é quem primeiro perde com a ineficiência do uso de seus insumos (água, fertilizantes, pesticidas e herbicidas); o agricultor deve entender a implementação de boas práticas de manejo do solo e da água como investimento, e não como custo; é necessário diminuir as crenças e aumentar o conhecimento científico envolvido nas discussões sobre serviços ecossistêmicos; o adequado planejamento do uso do território e da água é fundamental – nem todo uso do solo e da água para a agricultura representa impacto significativo aos recursos hídricos (é preciso considerar aptidão, escala, capacidade de suporte, legislação etc.); a intensificação sustentável da agricultura é um caminho a ser perseguido, minimizando a necessidade de abertura de novas áreas; e precisamos evoluir na discussão sobre o nexo água-alimento-natureza. 

Outras palestras

Os demais palestrantes da sessão foram os produtores rurais Daryl Hoey (Austrália) e Fátima Cabral (Brasil); Felix Reinders, presidente da Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem (ICID); e Devanir dos Santos, coordenador de implementação de projetos indutores da Agência Nacional de Águas (ANA). 

Produtor de leite, Hoey falou sobre os desafios dos produtores da Bacia Murray-Darling, no sudeste australiano, onde está a maior parte das fazendas irrigadas do país. A região sofre com os períodos de secas prolongados, e o governo australiano está investindo 3,1 bilhões de dólares australianos (R$ 7,87 bilhões) para comprar de volta a água dos rios usada na irrigação, com o propósito de recuperar a bacia. 

Fátima Cabral, produtora na Bacia do São Bartolomeu, no Distrito Federal, relatou os benefícios de sistemas como agroecologia, agroflorestal e produção orgânica tanto para a natureza como para as pessoas envolvidas. Ela participa do programa Produtor de Água, da ANA, desde 2012. O programa, que busca a melhoria da qualidade e da oferta de água em mananciais por meio do incentivo financeiro aos produtores que adotarem práticas conservacionistas, foi apresentado por Devanir dos Santos.

Já Felix Reinders falou sobre o ICID e os principais objetivos da instituição, que busca o trabalho conjunto para o manejo sustentável dos recursos hídricos. Ele citou os principais problemas causados no solo e na água e a perda da biodiversidade em virtude da intensificação da agricultura, além de apontar as melhores práticas de gerenciamento para melhorar a qualidade da água e controlar a erosão do solo, bem como estratégias para aumentar a resiliência dos agroecossistemas frente às mudanças climáticas.

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